1965 – EM ÁGUA DE PAU – N’A COVA DA ONÇA DE OUTROS TEMPOS
– Caras conhecidas brindam em festa com uma excelente vista, boa conversa, e em boa companhia. Neste momento, qualquer um dos presentes nesta foto me serve para “matar” saudades da minha infância e de outros tempos. Nesta foto é possível descrever momentos de fraternidade, de alegria, e boa camaradagem, sem constrangimentos…todos estão à vontade e ninguém ficou de fora da festa. Quem está na festa, ou está bebendo, ou está presente e quem não está, está vendo, por cima do muro. São as mulheres, da rua do Pico. Mas vamos à história.
Naquela tarde de 28 de Março de 1965, Manuel Egídio de Medeiros (meu pai), comerciante e proprietário d’A Cova da Onça, camarista (nome que se dava ao vereador na altura em Água de Pau), presidente da Casa do Povo, e outras mordomias, juntou no jardim do seu quintal um grupo de amigos para festejar um momento de alegria pessoal e da empresa. Rodeou-se dos familiares, (irmãos José e Horácio, sobrinho Manuel da Mota e primo Quintiliano Vieira) dos funcionários (Luís Ferreira, Artur Óscar, Fernando Ferraz e José Mendes), dos amigos(António dos Reis, Manuel dos Reis o sportinguista, José Manuel da padaria, Professor Luís Gil (cabeça-torta), Padre João C. Flores, Tobias Esteireiro), dos colegas comerciantes de Água de Pau (Humberto e Victor Silva, Carlos de Melo, Virgínio de Arruda Moniz, Manuel Bonifácio Carreiro com o filho José Manuel ao colo e Artur Benfica) e ainda os meus amigos, Antero e Durvalino (junto à telefonia) e a Graça do Mestre Antero de mão dada e de costas para a foto com a minha irmãzinha Lina. Eu estou por detrás da mesa e a outra criança à direita a olhar para a mesa é o Mário Jorge Amaral do mestre Antero.
Muito curioso é ainda a telefonia em cima da mesa, com os seus fios ligados ao alto do castanheiro, onde se encontra o “Alto-falante” debitando música para a vila e motivo para o meu padrinho Humberto Silva, no alto sentado em cima da mesa, dirigir as operações ao som da música que por sinal era igual à que nos habituava a ouvir, quando íamos ao cinema, na sua Esplanada, na Rua da Carreira. Eram as marchas das touradas, também muito usadas no campo de jogos Mestre José Leste, quando íamos à bola! As mulheres do Pico, olham, espreitam a festa e ouvem, bem entendido, a música que sai do “Alto-falante” do castanheiro…coisa rara, naquele tempo! Era o José Mendes que fazia as “geringonças” para que pudéssemos ouvir música da telefonia no nosso jardim do Pico, no fundo do nosso quintal.
Não importa agora se já não existe o jardim, ou se se perdeu aquele espaço…o que importa…são todas aquelas pessoas, que conhecemos, que partilharam comigo momentos inesquecíveis, inconfundíveis, maravilhosos…muitas delas, já não estão entre nós, mas na minha memória, estão todos. Por vezes, me pergunto: – ainda sou tão novo (se calhar, já não sou), como é que me lembro desta gente toda?
A resposta está, no facto de meu pai, me arrastar para todo o lado que ia, me obrigar a estar sempre presente nas nossas festas em casa, nas matanças de porco, nas coroações, nas procissões e na loja…era ali até, que brincávamos aos caixeiros, eu e os meus irmãozinhos, Duarte e Lina, a encher quilos e meios-quilos de açúcar e a ouvir as histórias do povo. Histórias que hoje me delicio a recordar e a escrever para não morrerem comigo.
Pois é…Antigamente…Era Assim !
RoberTo MedeirOs – natural da Vila de Água de Pau, terra de muitas histórias
(Artigo publicado na edição impressa de dezembro de 2018)
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