O projeto do hospital modular foi apresentado esta quarta-feira, 17 de julho, aos partidos políticos com representação parlamentar, tendo sido anunciado que o investimento na estrutura vai ter um custo superior a 12 milhões de euros, valor que ainda não contempla a contratualização de novos equipamentos para equipar o hospital.
A apresentação foi feita pelo presidente do Governo regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, juntamente com a secretária regional da Saúde e Segurança Social, Mónica Seidi. A sessão contou com a presença da direção clínica, direção de enfermagem e conselho de administração do Hospital Divino Espírito Santo (HDES).
José Manuel Bolieiro disse que “há um planeamento estratégico de longo prazo e uma opção de, na transitoriedade, termos excelência enquanto decorre um plano de funcionalidades para o HDES”.
Apesar de não ser um novo hospital, o “hospital modular terá caraterísticas de uma nova estrutura nos Açores”, sendo o hospital mais importante da região e de enorme importância e relevância no contexto nacional.
A estrutura será composta por diversas valências, incluindo urgência geral com capacidade para 12 ‘boxes’ de atendimento, duas salas de emergência, urgência pediátrica com seis camas de observação e um quarto de isolamento, duas enfermarias com capacidade mínima para 80 doentes, um serviço de imagiologia com equipamentos adequados, duas salas de bloco operatório com seis camas de recobro, uma unidade de cuidados intensivos e intermédios com capacidade para 12 doentes, incluindo um quarto de isolamento, e um bloco de partos, neonatologia e até nove camas para grávidas.
A secretária da Saúde e Segurança Social, Mónica Seidi, apresentou o projeto da unidade, após a reunião com os partidos políticos, aos jornalistas.
A governante informou ainda estar previsto a conclusão de toda a estrutura do hospital modular até final de outubro, havendo o funcionamento da Urgência Geral já no final de agosto.
Atualmente, já estão nas imediações do HDES os painéis da estrutura modular da urgência geral e pediátrica (40 módulos), bem como da zona das enfermarias (mais 55 módulos).
O hospital modular servirá como estrutura de retaguarda, permitindo um reforço de capacidade durante as obras de reparação, redimensionamento e reorganização funcional da atual estrutura do HDES.
O projeto foi elaborado com a contribuição de ordens profissionais, peritos nacionais e o conselho de administração do HDES, mantendo o “foco nos objetivos e decisões responsáveis”.
Num debate de urgência sobre saúde, em concreto sobre o incêndio que deflagrou no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, em maio, o líder parlamentar do Chega/Açores, José Pacheco começou por dizer que a saúde nos Açores é caótica: “não se resolve, não melhora, adia-se, remenda-se, mas não se encontram soluções”, segundo nota de imprensa do partido.
Na mesma nota, o Chega refere que apresentou uma solução “que poderia ajudar, que foi aprovada na Assembleia Regional, mas que não foi executada”: o Cheque-Saúde – que permitia que quem não tivesse resposta no Serviço Regional de Saúde, para exames complementares ou consultas, pudesse recorrer aos serviços privados de saúde.
O líder parlamentar afirmou que, em relação ao incêndio, “parece que há dois relatórios, e, ao que parece, brigam entre eles. E a senhora secretária ainda quer fazer mais um estudo, mais um relatório? Não está na altura de começar a trabalhar e deixar os estudos?”, questionou.
Falando nos relatórios sobre o incêndio, José Pacheco questionou a secretária da Saúde, Mónica Seidi, “o que é uma bateria de condensadores?”. É que, afirma José Pacheco, “quando os políticos se substituem aos engenheiros e vice-versa, algo está errado. É melhor colocar as peças de xadrez no seu lugar e ouvir todos uns aos outros. Fico na dúvida de quem é que está a falar a verdade, se são os políticos ou os engenheiros, e sei que o Povo não acredita nos políticos, que vão perdendo credibilidade todos os dias”, de acordo com o mesmo comunicado.
O parlamentar deu dois exemplos, na área da saúde, de promessas do atual Governo regional que não foram cumpridas: “há um ano e meio pedimos para se reabrir o bar do HDES, mas não foi feito. Há dois anos, dissemos que fosse aberto o Serviço de Atendimento Urgente no Centro de Saúde de Ponta Delgada e só agora, devido ao incêndio no HDES, foi feito. Senhora Secretária, quem não conseguiu reativar um bar, vai conseguir reabilitar um hospital? Tenho dúvidas”, reforçou José Pacheco.
O parlamentar insistiu que, além do HDES, também é preciso não esquecer os restantes hospitais e centros de saúde. “O ar condicionado do Centro de Saúde da Madalena do Pico já está a funcionar? É que falámos sobre isso há três anos”, referiu José Pacheco que acrescentou que, de acordo com o relatório do incêndio do HDES, “o serviço de instalações elétricas era operado por funcionários sem capacidade técnica”. E questionou: “Como temos técnicos sem formação a tomar conta daquilo que falhou? E nos centros de saúde? Foi feita alguma fiscalização para verificar se está tudo em ordem?”, alertando para a saúde dos Açorianos, mas também para a população flutuante de turismo que visita todas as ilhas.
Também a deputada Olivéria Santos entrou no debate para questionar a secretária da Saúde sobre a possibilidade de se acelerarem procedimentos para que as obras no HDES avancem mais depressa, uma vez que sem um programa funcional – que só vai ser conhecido em outubro – não se pode avançar para o projeto das obras. “Não foram ainda emitidas orientações para o novo hospital, mas mais do que se falar em hospital de futuro, temos de ter Açorianos com futuro e isso só se consegue com uma saúde digna e capaz, que dê todas as respostas”, afirmou a parlamentar, citada na mesma nota.
Olivéria Santos questionou ainda a Secretária Regional sobre o Pavilhão Carlos Silveira, onde foi instalado o posto médico avançado, onde “as condições são lamentáveis e desumanas com tanto calor. Para situações extraordinárias, medidas extraordinárias, mas não se podem tomar medidas extraordinárias para dar melhores condições aos doentes e suas famílias?”.
Eduardo Costa
Professor no Instituto Superior Técnico
Investigador em Economia da Saúde
Estima-se que a Doença Renal Crónica possa afetar 1 em cada 10 portugueses. A evolução da gravidade da doença renal implica que cerca de 13 mil portugueses realizem hemodiálise. Este tratamento, com grande impacto na vida quotidiana dos doentes, é essencial à sua sobrevivência.
Em Portugal, mais de 90% dos doentes em hemodiálise realizam os seus tratamentos numa extensa rede de prestadores privados ao abrigo das convenções do SNS. Ou seja, o SNS paga aos prestadores um valor semanal por doente, que por sua vez assumem a responsabilidade financeira de todos os custos associados à hemodiálise. Este modelo de financiamento (conhecido como “preço compreensivo”) foi considerado inovador quando foi introduzido em 2008. Ao longo das últimas décadas, esta parceria entre o SNS e o setor privado tem-se traduzido no aumento da qualidade da hemodiálise, com reflexos diretos em múltiplas dimensões – incluindo na sobrevivência dos doentes.
Do ponto de vista do SNS, verifica-se que o aumento do número de doentes em hemodiálise tem levado a um aumento da despesa com hemodiálise do SNS – apesar de representar apenas 1,8% da despesa pública em saúde. Porém, esse aumento de despesa tem sido inferior ao crescimento do número de doentes. Tal implica que a despesa do SNS por doente tem estado em queda. De facto, entre 2010 e 2022, verificou-se uma redução expressiva da despesa do SNS por doente em hemodiálise de 12% (no mesmo período, a despesa pública em saúde per capita subiu 37%). Tal implica que a receita dos prestadores privados por doente do SNS está também em queda.
Em sentido inverso, existe uma tendência generalizada de aumento dos custos para prestação de cuidados de saúde – à qual a hemodiálise não é exceção. De facto, apesar de se ter verificado um esforço de maior eficiência dos prestadores nos anos que sucederam a introdução do modelo do preço compreensivo, constata-se também uma pressão crescente para aumento dos custos em anos mais recentes. Por exemplo, a escassez de profissionais de saúde ou o impacto da pandemia, traduzem-se numa pressão para aumento dos custos de prestação de hemodiálise.
A conjugação do aumento dos custos para os prestadores com a redução do valor pago pelo SNS implica que, do ponto de vista financeiro, os prestadores privados de hemodiálise tenham uma crescente pressão. Tendo em consideração o caráter multinacional de muitos destes prestadores, tal pressão contribui para reduzir a atratividade relativa do setor em Portugal.
Em 2008, a introdução do modelo do preço compreensivo foi considerada uma inovação, com ganhos para os doentes, para os prestadores, e para o SNS. Contudo, desde 2008 o modelo permanece cristalizado, sem acompanhar a evolução dos custos da hemodiálise, da prática clínica e das necessidades dos doentes. Torna-se por isso importante considerar uma adaptação do modelo atual, que permita manter os incentivos à eficiência, dar previsibilidade ao SNS, e garantir a sustentabilidade dos prestadores. A introdução de um modelo dinâmico de preço compreensivo, e a eventual revisão do modelo de gestão integrada da Doença Renal Crónica, serão instrumentos cruciais para garantir a continuidade da excelência dos cuidados de hemodiálise prestados aos doentes em Portugal, com reflexos na sua longevidade e na sua qualidade de vida.
* A convite da Associação Nacional de Centros de Diálise, o autor realizou um estudo sobre o Preço Compreensivo da Hemodiálise em Portugal que pode ser consultado aqui.
Cecília Borges Gaspar
A Sua Saúde, Sempre!
Farmacêutica Estagiária
Farmácia São Bento
Com a chegada da primavera muitas pessoas sentem o agravamento da alergia sazonal. Mas, afinal, o que é uma alergia? Uma alergia ocorre quando o sistema imunitário assume uma substância banal do dia-a-dia como estranha. Então, o organismo reage de forma exagerada para eliminá-la (hipersensibilidade). A essas substâncias dá-se o nome de alergénios e podem ser ácaros, pelo de animais, pó, pólen, fungos/bolores, alimentos ou até medicamentos.
Quando se fala em alergia na primavera, geralmente refere-se à alergia ao pólen. Durante esta estação, a maioria das plantas poliniza e a quantidade de pólen no ar aumenta nos dias quentes, secos e ventosos e diminui com o frio e a chuva. Os grãos de pólen são invisíveis a olho nu e por serem tão pequenos e leves são transportados no vento por vários quilómetros.
Deste modo, ao contactarem com o organismo humano pela pele e inalação, ativam o sistema imunitário na tentativa de eliminar essas substâncias, levando aos habituais sinais e sintomas de uma reação alérgica, que podem surgir em conjunto ou separados, com diferentes intensidades. Os sinais e sintomas mais frequentes são espirros, congestão nasal, rinorreia, comichão no nariz, dificuldade respiratória, irritação na garganta que pode levar a tosse, prurido cutâneo, com presença de manchas/lesões, olhos vermelhos, lacrimejantes e inchados.
Apesar da doença alérgica não ser devidamente valorizada pelos próprios doentes, que se habituam à mesma, esta condiciona a qualidade de vida e o bem estar de muitas pessoas, por causar desconforto, perturbar o sono, diminuir a produtividade e o desempenho profissional/escolar, para além dos custos de saúde associados. Além disso, a doença pode evoluir para problemas mais graves como rinite, asma, conjuntivite alérgicas, dermatite atópica e eczema.
No sentido de prevenir e proteger-se contra o surgimento destes sintomas, é possível consultar quais os tipos de pólen que irão circular no ar e as zonas de maior concentração polínica através Boletim Polínico disponível no site da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) (em rpaerobiologia.com), a fim de evitar esses lugares. Além disso, para prevenir a manifestação da alergia, existem várias estratégias que podem ser adotadas, tais como evitar realizar atividades ao ar livre (desporto, passeio, jardinagem) nos dias mais quentes, secos e ventosos, especialmente de manhã (maior concentração polínica), preferindo zonas à beira-mar, onde a quantidade de pólen é menor devido à maior humidade. Ao sair à rua, usar óculos escuros. Manter as janelas do carro fechadas quando viajar e usar capacete integral ao andar de mota. Em casa, evitar abrir portas e janelas, isolar as flores interiores, deve tomar duche e lavar o cabelo antes de deitar, de forma a eliminar todos os resíduos de pólen e impedir a irritação constante.
O uso de soro fisiológico ou água do mar de forma regular ajuda na limpeza das fossas nasais, aliviando os sintomas associados à reação alérgica. Além disso, poderá aconselhar-se junto do seu farmacêutico sobre medicamentos não sujeitos a receita médica que poderão ser úteis no controlo dos sintomas. No entanto, caso a reação alérgica seja tão intensa que interfira continuamente no quotidiano, deverá consultar um médico que irá prescrever a medicação mais adequada aos seus sinais e sintomas ou indicar-lhe um plano de vacinação apropriado.
O governo dos Açores e o sindicato dos trabalhadores da Administração Pública (SINTAP) concluíram mais uma etapa no processo de regularização e reposicionamento de carreiras no sector da saúde. Em causa estavam cerca de 190 trabalhadores com contrato individual de trabalho que ficam agora com as respetivas situações resolvidas, com retroativos a 2019, num valor global que atinge 267 mil euros.
“Já o conseguimos com os enfermeiros, com os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, com os farmacêuticos e, também agora, com as carreiras gerais, que envolvem assistentes operacionais, assistentes técnicos e técnicos superiores”, explicou o secretário regional da Saúde, Clélio Meneses.
O governante adiantou que “os primeiros 25%, conforme acordado com os sindicatos, começarão a ser pagos até ao final do primeiro semestre de 2022”. No âmbito deste acordo o governo regional assegura o pagamento de 50% do valor até ao final de 2022, 75% até ao primeiro semestre de 2023 e 100% até ao final de 2023.
Clélio Meneses revelou, por outro lado, que o processo relativo às carreiras médicas vai também avançar “no sentido de repor justiça em algo que estava parado durante muitos anos”.
“Obviamente que as carreiras médicas, pela complexidade e pelo impacto que têm, envolvem um conjunto de áreas, nomeadamente o trabalho suplementar médico, os incentivos à fixação, que já resolvemos, mas é um processo que se irá iniciar ainda este ano”, disse. O secretário regional da Saúde e Desporto frisou que “o governo não está a fazer favor nenhum a estes profissionais de saúde, está é a pagar dívidas pelo contributo que deram, neste tempo de pandemia também, mas sobretudo por terem estado muitos anos à espera” de serem vistos “com a dignidade que merecem”.
DL