Cláudia Ferreira
Escritora e biblioterapeuta
De caneta na mão é assim que me dirijo aos emigrantes, que outrora viveram embrulhados no encanto dos Açores. Aqui os pássaros voam com liberdade, os montes são cor de esperança e e os foguetes preenchem o ar. A música embala as ondas do mar, marcando o compasso da vida e o Espírito Santo, acende uma luz em cada casa e em cada coração.
Ser emigrante é saber segurar as lágrimas de saudade, é ter ousadia de buscar novos horizontes e novas esperanças. Para trás, ficaram as tradições, as memórias de infância e metade do vosso coração, mas apesar do oceano que vos separa de casa, serão para sempre filhos dos Açores.
Quando a saudade desponta, o vento crocita o vosso bendito nome, a natureza veste-se de saudade e a calçada da rua chora pelos seus filhos emigrantes. Para muitos passam anos, para outros uma vida, mas os Açores continuam embebidos num choro de saudade pelos filhos que partiram corajosamente, e que antes de seguirem viagem, lavaram o rosto com água salgada. Por sua vez, o mar agitou-se, beijando cada rosto que ali depositava as lágrimas da partida.
Gostaria de trazer-vos para casa, para sossegar a natureza e amansar as ondas que eclodem nas rochas, mas perante a minha incapacidade, ofereço-vos as minhas palavras, sei que são meras e pobres, mas são o que de mais puro carrego no coração.
Por agora despeço-me, homenageando todos os emigrantes audazes, glorificando-os pela magia das palavras que brotam da minha alma. Porque sendo eu, também, açoriana, falo a mesma língua da natureza e percebo cada palavra dita pelo mar, pelo vento e pela chuva. E em cada suspiro e cada murmúrio, a conversa é a mesma: “Que lá longe, em terras distantes, o Espírito Santo, continue a proteger os nossos filhos emigrantes”.