André Silveira
Vivemos tempos perigosos para as democracias liberais. O avanço de discursos populistas, muitas vezes ancorados na simplificação demagógica dos problemas e na exploração emocional das massas, é um fenómeno global, mas ganha contornos particularmente graves em comunidades pequenas, insulares e periféricas como a nossa. Nos Açores, esse risco é real, palpável e alimentado, sobretudo, pela falência ética e institucional da política convencional, como pelo fracasso desta Autonomia, com as suas clientelas e desigualdades acentuadas.
Combater o populismo exige, antes de mais, dignidade, competência e transparência. Exige falar a verdade às pessoas, mesmo quando ela é incómoda, e sobretudo aceitar a responsabilidade política pelos atos e pelas decisões. Tudo o que não se faz nos Açores. Nas últimas décadas, acumulam-se os insucessos: ausência generalizada de políticas públicas eficazes, gestão danosa de recursos públicos, oportunidades perdidas em áreas como o turismo, a mobilidade ou a gestão do mar, mas principalmente o fracasso na resolução dos problemas das pessoas. Contudo, não há memória de um único político Açoriano que, perante o falhanço de uma estratégia ou a evidente incompetência de uma execução, tenha assumido responsabilidades e apresentado a demissão. Esta cultura de irresponsabilidade é, por si só, um convite ao populismo.
A narrativa populista cresce quando as pessoas percebem que há uma elite política imune às consequências dos seus erros. Nos Açores, o populismo não se combate apenas com bons programas ou promessas eleitorais; combate-se, essencialmente, criando muros intransponíveis entre a governação e os interesses económicos, religiosos e corporativos que historicamente se habituaram a ter assento privilegiado à mesa do poder. A proximidade, para não dizer promiscuidade, entre estes interesses e o aparelho político-partidário é um fator de instabilidade democrática. Ela fomenta a indignação popular, alimenta teorias conspiratórias e gera terreno fértil para o voto emocional nos que prometem “varrer tudo” e “devolver o poder ao povo”.
É precisamente esta diluição de fronteiras entre os decisores públicos e os interesses privados que corrói os alicerces da democracia regional. A promiscuidade histórica entre negócios, enclaves religiosos e aparelhos partidários constitui, há décadas, a verdadeira marca d’água da política Açoriana, comprometendo a integridade das instituições e a imparcialidade da governação. E cada vez que o cidadão comum se depara com decisões públicas que favorecem sistematicamente os mesmos protagonistas, ou com a nomeação de familiares e amigos para cargos públicos, mais se aproxima o dia em que os populistas terão votos suficientes para pôr em causa as regras do jogo.
O combate ao populismo faz-se também com desapego ao poder. A demissão, quando existe razão objetiva para tal, não é um ato de fraqueza, mas o expoente máximo de dignidade política. Em democracias maduras, é normalíssimo que quem assume um cargo de serviço público abandone funções após falhanços graves ou perda de condições de governabilidade. Nos Açores, esse gesto é visto quase como heresia. Esta incapacidade de reconhecer limites não enobrece quem se agarra ao cargo, pelo contrário, descredibiliza a função e contribui para o descrédito generalizado da política. E cada vez que alguém se agarra ao poder sem condições objetivas para governar, abre-se mais uma brecha por onde o populismo se insinua.
Parte do problema reside no facto de muitos dos nossos políticos não terem qualquer alternativa profissional para além da política. São produtos de um sistema partidário fechado sobre si mesmo, que não premia a competência nem a meritocracia, mas antes a fidelidade e a obediência. A política regional tornou-se, em demasiadas ocasiões, um centro de emprego onde se distribuem cargos e assessorias como prémio de carreira ou compensação por lealdades passadas. Este ciclo vicioso perpetua a mediocridade e impede a renovação do pensamento político, afastando da vida pública os melhores e mais capazes.
Urge, pois, refundar a prática política Açoriana em valores sólidos. Reintroduzir a responsabilidade, a dignidade, a competência e o desapego ao poder como requisitos mínimos para o exercício da função pública. Só assim se resgata a confiança das pessoas e se bloqueia o avanço dos aventureiros do ressentimento. Contudo, tenho muito pouca esperança de que essa refundação venha dos partidos ditos convencionais, demasiado enredados nas suas próprias clientelas e incapazes de fazer a ruptura que se impõe. Creio, antes, que essa responsabilidade acabará por recair sobre a própria sociedade civil, sobre cidadãos e instituições independentes, sobre os que não têm medo de afrontar o status quo e de exigir uma política feita de princípios e não de interesses. Porque a alternativa a isso é conhecida, e a história ensina-nos que, quando a democracia falha repetidamente, os populistas não perdoam. Os Açores merecem mais e melhor.
Patrícia Miranda
Deputada do PS na ALRAA
Mais de 700 cabeças de gado retidas nos Açores. Falta de contentores, rotas incertas, mercadoria perecível sem escoamento.
Esta realidade, por mais recorrente que seja, não pode ser normalizada. Aliás, o que hoje vemos é apenas mais um episódio que revela o verdadeiro bloqueio da nossa agricultura, não por falta de qualidade, nem por ausência de esforço dos produtores, mas por falta de estratégia governativa e de operacionalização eficaz das soluções.
O Governo Regional apresenta como conquista a homologação dos contentores de transporte de gado, agora feita nos Açores. E sim, é um avanço. Mas de pouco serve celebrar esta medida se os contentores homologados não saem do porto.
A homologação só é útil se estiver integrada num sistema logístico que funcione: com contentores disponíveis, navios a operar com regularidade e uma cadeia de transporte pensada para servir a produção agrícola. A verdade é que o problema está longe de ser técnico, é político. E é estratégico.
A ausência de planeamento, a descoordenação entre setores e a incapacidade de antecipar constrangimentos logísticos demonstram que este Governo continua a tratar os transportes como um detalhe, quando deveriam ser uma prioridade.
Casos como os da Graciosa, do Pico, das Flores ou de Santa Maria não são pontuais: são sintomas de uma estrutura de transportes desajustada às necessidades da produção agrícola dos Açores. E este desajuste tem um custo real: retém rendimento, penaliza o investimento e frustra os agricultores que, de boa-fé, acreditaram nas promessas feitas de que a reconversão do setor leiteiro para a carne seria uma solução de futuro.
Mas essa reconversão exigia, no mínimo, garantir as condições de escoamento. Impuseram-se mudanças sem criar as condições para que fossem sustentáveis. E quando o gado não sai da ilha, o prejuízo instala-se.
O Partido Socialista defende que a agricultura é, e continuará a ser, um dos principais motores do desenvolvimento regional. E para que esse motor funcione, não basta dizer que se apoia a produção. É preciso garantir que o que se produz chega aos mercados em tempo útil, com previsibilidade e competitividade.
Tem sido uma reivindicação constante do Partido Socialista a implementação de um modelo de transportes marítimos moderno, eficiente e justo, que assegure não só o menor custo no acesso ao exterior, mas também a coesão interna entre as ilhas. Essa visão está também refletida na moção “Um Novo Futuro”, onde se reafirma a necessidade de um sistema que integre fluxos contentorizados, rotas fiáveis, ligação com outros modos de transporte e forte investimento público nas ligações inter-ilhas.
O objetivo é claro: garantir que nenhuma ilha fica para trás e que os produtores têm condições para competir e prosperar.
É preciso pôr fim a esta política de improvisos, que vai apagando fogos com baldes vazios.
O que se exige é capacidade e vontade política para implementar uma estratégia integrada e funcional para os transportes, uma estratégia que sirva os agricultores e a economia regional.
Quem governa não pode apenas aplaudir contentores parados. Tem de garantir que eles andam, e que andam ao serviço de quem trabalha todos os dias para fazer da agricultura um pilar sólido do nosso presente e um compromisso com o futuro.
André Silveira
Num tempo em que a transparência e a boa governação deveriam ser princípios inquestionáveis da gestão pública e empresarial, a situação da SATA assume contornos inadmissíveis. Estamos em plena reta final do primeiro semestre de 2025 e, enquanto as principais companhias aéreas europeias apresentam já os resultados do primeiro trimestre deste ano, a SATA continua sem publicar as contas relativas a 2024. Na TAP, por exemplo, o ex-CEO da SATA já apresentou mais um trimestre de prejuízos. Esta omissão não é apenas um detalhe administrativo ou um ligeiro atraso burocrático. É uma afronta direta a todos os Açorianos, verdadeiros acionistas desta companhia.
A SATA, sendo uma empresa pública, pertence ao povo Açoriano. É com o dinheiro de todos nós que, durante décadas, se têm coberto prejuízos, suportado recapitalizações e financiado operações muitas vezes conduzidas com uma leveza irresponsável, como serão as gerações futuras a pagar a astronómica dívida deixada. A prestação de contas atempada não é um favor, mas uma obrigação elementar de quem gere recursos públicos. O silêncio da administração, como do governo, é, portanto, inaceitável e revelador de uma cultura de opacidade que deve ser definitivamente repudiada e erradicada.
Pior do que o atraso é a suspeição que este alimenta. A ausência de contas publicadas leva inevitavelmente a questionar se a razão para este silêncio reside na gravidade dos resultados ou, mais grave ainda, se deve-se ao facto de as contas estarem a ser discutidas nos bastidores entre intervenientes que não representam diretamente o interesse público. Seria inaceitável e escandaloso que o consórcio interessado na privatização da Azores Airlines já tivesse tido acesso às contas de 2024 ou, pior ainda, estivesse a participar no processo de fecho das mesmas, enquanto os verdadeiros acionistas, os cidadãos Açorianos, permanecem na ignorância.
Se tal se confirmar, não estaremos apenas perante um grave problema de governação, mas também perante uma violação ética inqualificável dos princípios mais básicos de gestão pública. Uma administração que age nas sombras, que oculta informação e que despreza a prestação de contas aos seus legítimos proprietários não é apenas incompetente, é desrespeitosa.
A responsabilidade última por esta situação é partilhada pelo Conselho de Administração da SATA e pelo próprio Governo Regional dos Açores, que estão a incorrer numa falha grosseira das suas obrigações estatutárias, éticas e morais. A sua função primeira deveria ser a de servir os interesses dos acionistas, assegurando uma gestão transparente, responsável e aberta. Ao protelar a publicação das contas e ao alimentar a perceção de que há algo a esconder, estão a comprometer não apenas a credibilidade da empresa, mas a confiança dos Açorianos nas suas instituições.
No caso particular da SATA, o imperativo de transparência e rigor na prestação de contas deveria ser absoluto, não apenas pela sua natureza pública, mas também pelo histórico carregado de decisões erradas, erros estratégicos e resultados financeiros desastrosos. Os Açorianos, que há décadas são chamados a cobrir os prejuízos da companhia, merecem e exigem saber, sem subterfúgios, o real estado financeiro da empresa. Mais do que nunca, era esperado deste governo, que prometeu fazer diferente, romper com a cultura de opacidade que tantas vezes protegeu interesses particulares em detrimento do interesse coletivo. A omissão prolongada das contas de 2024 não é apenas uma falha administrativa: é o reflexo de um sistema que insiste em não prestar contas aos seus legítimos proprietários? Onde anda o governo da transparência prometido por José Manuel Bolieiro.
Este é apenas mais um episódio de desrespeito institucional para com os Açorianos e um sinal inequívoco de incompetência a vários níveis. Não podemos aceitar que, em pleno século XXI e num contexto de escrutínio crescente sobre a gestão pública, continue a ser admissível este tipo de comportamento. Os Açorianos merecem saber a verdade sobre a SATA. Os Açores merecem mais e melhor.
Alexandra Manes
Conta-nos a narrativa bíblica o famoso episódio da Negação de Pedro, quando o apóstolo e futuro Papa da igreja de Deus terá dito que não conhecia Jesus Cristo, três vezes, ao longo da fatídica noite em que o profeta foi traído e aprisionado. Tanta vez terá Pedro dito que não, que acabou a chorar no amanhecer do dia seguinte, profundamente arrependido pela sua falta de espinha dorsal.
Assim vai a Direita em Portugal. Vivemos o rescaldo de um processo eleitoral histórico, já aqui por mim analisado de forma sumária, e amplamente discutido nas ruas, nas televisões e nos salões da alta nobreza empresarial. Nos dias que se seguiram, a política continuou ligada à Bíblia, de certa forma. É que, para além do arrependimento de Montenegro e Rocha, também houve a peregrinação de André Ventura ao túmulo de Josemaría Escrivá de Balaguer, fundador da Opus Dei. Se não havia grandes dúvidas acerca da ligação de alguns colegas do gangue àquela sociedade secreta, ficamos agora com a certeza de que o querido líder é, pelo menos, simpatizante do cilício. Que ele prefere a opressão ao Papa, já o sabíamos.
Mas, voltando à negação e ao arrependimento da Direita, o que acontece pelos dias que correm é um processo revolucionário em curso, com um potencial destrutivo evidente e, aparentemente, inevitável. D. Luís de Spinumviva enviou os seus correligionários aos jornais e programas de comentário político para rapidamente normalizar a ideia de se recuar no famoso “não é não”, porque estava na altura de aceitar um partido com manifesto político salazarista como parceiro viável para uma revisão constitucional. O conselheiro Rocha, liberal entre liberais, prepara-se para ir mais longe e vender a alma aos “mileis” que lhe deram espaço. Pelo que se vai sabendo, o objetivo é baixar salários mínimos, limitar direitos, aumentar deveres e começar o caminho para a privatização total.
A revisão constitucional está aí. Nesta semana que vos escrevo, em que a instauração da ditadura faz 99 anos, Portugal está de joelhos, rendido às evidências. O povo, ainda que não na sua maioria, porque a abstenção permanece expressiva, parece querer muito um governo de extrema-direita. Passamos de Salazar como o melhor português, para um comentador de futebol que escreveu uns romances baratos, de cordel e ganhou a vida a ajudar empresários a fazer malabarismos financeiros. Até nisso, temos baixado alguma qualidade. Será uma espécie de ditador da Temu que se avizinha?
Por cá, sabemos com o que contar. As açorianas e os açorianos estão rendidos à seita, não se tendo manifestado de forma substancial, mesmo quando votaram para eleger o senhor da legislação do glifosato, e quem vai para Lisboa afinal é a número três. Mesmo não sendo o único partido a alterar a ordem da lista, acaba por ser contraditório à lógica do “somos antissistema”, quando na prática o que fizeram foi, em praça pública, humilhar a sra. Deputada que sobe dois lugares na lista e assume o cargo, denominando-a de “inexperiente”, como argumento para não ter assumido o primeiro lugar.
As pessoas que se afirmam de direita democrática começam a sentir o peso da consciência. Praticamente todos os dias há uma novidade delirante, afinal de contas. Votaram na AD ou na IL, ou no PPM ou lá o que foi. Mas agora vão levar é com o Ventura e com, pelo menos, 23 deputados eleitos que já tiveram problemas com a justiça.
São tempos de perpetuar reflexões que já deviam ter sido feitas há anos e reestruturar partidos que já se deviam ter refundado há demasiado tempo. Pelo caminho, procuram-se culpas em vez de soluções. Das sombras, surgem cada vez mais personalidades que pensávamos decentes, ou esquecidas pelo tempo. Os canais de jornaleiros, que nunca param, vão construindo palcos cada vez mais altos para colocar os ativistas, comentadores e representantes de um partido que quer destruir a liberdade de imprensa. Homens e mulheres que em tempos acreditamos serem bons profissionais, imparciais e defensores da justiça, rebaixam-se à vergonha de conduzir entrevistas cor-de-rosa, onde Ventura e o seu séquito de estimação recebe o tratamento da nova realeza portuguesa, com certeza. Pelas contas feitas, André foi convidado especial dessa gente mais 108% que qualquer outro líder partidário, nos últimos doze meses.
Um dos casos mais gritantes, que foi também capitalizado pela extrema-direita, mas que partiu de uma mulher que, ao que tudo indica, é apenas de extrema falta de noção, foi o de Isabel Jonet. Para os mais distraídos, refiro-me à pessoa que, infelizmente, ainda é Presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, estrutura que foi fundada com boas intenções e mérito, mas que está totalmente controlada por uma ideologia tóxica, que domina a nossa sociedade.
O Banco Alimentar é, pela sua própria existência, um mecanismo de caridadezinha, que está lá para calcar os mais necessitados e perpetuar as suas carências. É uma instituição que tem sido aproveitada, por alguma burguesia de fracos morais, no sentido de ter um palco e um desconto social, sem fazer significativa diferença. Não me refiro às voluntárias e aos voluntários, cujo trabalho enalteço, pelo suor que lá deixam, em nome de uma causa que acreditam ser boa. Refiro-me a pessoas como Isabel, que recentemente disse acreditar ser necessário colocar as pessoas que recebem RSI a trabalhar para ter essa prerrogativa. O que a senhora Jonet não disse, mas ficou subentendido, é que acredita nas conversas de tasca do Ventura, dos que não querem trabalhar, e que estão apenas a mamar na teta do Estado. Defende essa mulher, supostamente educada e bem formada, uma visão que está mais que desprovida de qualquer fundo de verdade. E continuou a fazê-lo, tal como com outras polémicas suas do passado, mesmo quando confrontada com a realidade.
Isabel Jonet, comentadores da nossa praça, pessoas, em geral, que estão a contribuir para isto tudo, precisam de revisitar a sua fome de conhecimento, certamente. Talvez seja tempo de um banco alimentar para combater a pobreza de espírito.
Quanto aos demais, a culpa não pode morrer solteira nas fileiras dos nossos partidos democráticos. Ou tomam decisões, ou morrerão ajoelhados junto ao trono de Ventura. Não é tempo de reflexão. É tempo de ação. O fascismo não se combate com ponderações eternas. Se queremos passar o centenário do 28 de maio em Liberdade, precisamos de ser melhores.
Ricardo Pinto de Castro e César
Sociólogo – ISCTE-IUL
André Silveira
A noite eleitoral das Legislativas de domingo trouxe algumas poucas confirmações e uma enorme surpresa: a dimensão do crescimento do Chega, que se tornou a segunda força política nacional, com resultados impressionantes nos Açores, contrariando todas as previsões e sondagens. Olhando para os dados históricos, antecipava-se já que o partido poderia alcançar um resultado em alta, mas nem os mais entusiastas, nem os mais pessimistas, previam que atingisse esta expressão, em particular nos Açores após o triste escândalo que envolve o deputado eleito em 2024 e artigos de viagem. Mais desconcertante ainda foi perceber que, ao contrário do que se dizia, este crescimento não se fez à custa da abstenção, que, aliás, aumentou, mas sim de votos captados diretamente aos partidos tradicionais. PS e PSD perderam terreno, influência e ligação à realidade social e política, e o mapa eleitoral tingido de azul escuro deixa avisos sérios a quem os quiser ler.
Começando pelo PS. Os resultados de ontem são uma catástrofe política, daquelas que não podem passar sem consequências, nem cujas feridas não deixarão profundas cicatrizes. O partido, que há muito se tornou refém das suas próprias estruturas e interesses internos, paga agora o preço de anos de arrogância, de escândalos sucessivos e de uma governação distante da realidade das pessoas. Não basta mudar de líder ou fazer um congresso. O PS precisa de uma verdadeira renovação e refundação se quiser voltar a ser relevante. Cá e lá. Sendo que o risco da irrelevância é real.
O PSD, apesar de ter eleito mais um deputado devido às idiossincrasias do método de Hondt, vive uma situação embaraçosa. Perde votos em toda a linha, perde em freguesias que historicamente controlava e, mais grave, fica atrás do Chega em dois concelhos Açorianos. Em São Miguel, o cenário é particularmente preocupante. Apesar de estes serem resultados de umas legislativas nacionais, e de não se deverem tirar conclusões diretas para o panorama regional ou autárquico, há sinais que não podem ser ignorados. O mapa de São Miguel pintado de azul escuro é um aviso claro de que os partidos ditos tradicionais estão a caminho da irrelevância se não se souberem renovar e, sobretudo, se não começarem a falar a sério para os jovens.
Em São Miguel em particular, a implantação do Chega é surpreendente, não apenas pela expressão que atinge, mas pela forma metódica e persistente como foi construída. Feita através de políticas de base pura e dura, rua a rua, freguesia a freguesia, com candidatos e estruturas locais a assegurarem o trabalho de proximidade que PS e PSD abandonaram há anos. O PS, preso a uma estrutura em ruínas no pós-24 anos de poder absoluto, sem militância ativa e desmobilizado. O PSD, refém de lideranças incompetentes e incapaz de perceber o valor da política de proximidade. Onde uns desapareceram, outros ocuparam o espaço. O resultado está à vista.
Basta ouvir as reações no dia das eleições para perceber que persistirão em negar a realidade, agarrados a uma narrativa de negação que culpa fatores externos pelo desastre eleitoral, ignorando responsabilidades próprias. Reduzir este crescimento do Chega a um mero fenómeno de protesto, ou sugerir que os eleitores não sabem em quem votam, é não apenas um insulto à inteligência coletiva, mas também uma expressão de arrogância política que só contribuirá para aprofundar o fosso entre eleitos e eleitores.
Uma nota positiva para a Iniciativa Liberal, que cresce e consolida a sua posição como quarta força política. É verdade que continua a ser um partido muito urbano e concentrado em algumas ilhas, mas o crescimento consistente mostra que há espaço para um discurso alternativo, liberal nos costumes e na economia. Falha, no entanto, em apresentar um projeto verdadeiramente regional e em dialogar com o eleitorado fora das cidades principais.
Estas eleições deixam um aviso claro: quem não se renovar, quem continuar a ignorar o descontentamento popular, quem persistir nos velhos vícios da política insular, arrisca-se a tornar-se irrelevante. Os partidos tradicionais ainda vão a tempo, mas a janela está a fechar-se rapidamente. Nos Açores, onde o descontentamento é cada vez mais visível, ignorar este sinal seria um erro de consequências históricas.
Alexandra Manes
Tenho por hábito escrever os textos que envio para partilha convosco durante a semana anterior à sua publicação. Com raras exceções, tal permite maturar a forma como se colocam as questões e se reflete sobre as soluções, no entanto, desta vez, aguardei pelo resultado eleitoral. Ainda que tenha votado, antecipadamente e em consciência, permaneci ansiosa por poder reconhecer a vontade popular deste domingo. Não por almejar algum resultado em particular, que não fosse a vontade da democracia e a derrota dos novos fascismos, em concordância com o que se quer para o país.
Os resultados não foram os que eu desejava, mas como democrática que sou, e por muito que custe, aceito-os. Foi a população que ditou os números e percentagens. Foi o povo que determinou o seu/nosso futuro e o das gerações vindouras. E, por isso mesmo, felicito a deputada e os deputados eleitos pelos Açores, apelando a que não se esqueçam de quem aqui fica.
No entanto, constatar que mais da metade das e dos eleitores, inscritos nos cadernos eleitorais dos Açores, não votaram, obriga a uma enorme reflexão acerca das razões para tal. Uns, certamente, por descredibilização na política, outros por iliteracia política. E isto não é denominar ninguém de ignorante! É uma realidade. Nem todas e todos nós nascemos no mesmo ambiente, nem nos interessamos pelas mesmas temáticas. Há muita coisa que não percebo e assumo-o, sem qualquer problema. A iliteracia política não pode continuar a ser um tabu. Ela existe. E há que trabalhar para credibilizar a política e fazer chegar às pessoas que é esta que determina o presente e o futuro. Parece-me algo essencial.
Preocupa-me o futuro do país por observar as circunstâncias particulares em que vivemos, e não poder deixar de ter imenso receio do que se avizinha na linha do horizonte. Portugal, como qualquer país europeu, é bastante influenciado pelos Estados Unidos. Com o final da segunda Grande Guerra e a conquista de liberdades, veio a Guerra Fria, entre os poderes económicos e os controlos totalitários. No meio, ficaram os países enfraquecidos, que se deitaram à sombra das duas potências e acordaram em decadência e fragilidade. Graças a essa nova realidade, o futuro que Portugal vai construir após as eleições é previsível, se soubermos ler nas cartas dos norte-americanos as possibilidades em crescendo.
Trump e a sua corja de novos fascistas já foi alvo de milhentas análises, feitas por todo o tipo de pessoas, com as mais variadas ideologias e certezas. Não é objeto de trabalho neste texto a recriação de uma interpretação pessoal sobre o assunto. Quem ler este texto já sabe o que penso sobre o gangue de criminosos, brutamontes e chalupas que ocupa a Casa Branca e as suas sucursais. Todavia, importa perceber como é que lá chegaram. E esse caminho foi feito pela total falência do centrismo americano.
Nas ruas, falou-se muito em alianças ao meio. Políticas de convergência, protagonizadas e encarnadas no acordo de cavalheiros traçado entre Pedro Nuno Santos e Montenegro, referente à presidência da Assembleia da República, e que só serviu a um dos lados. Na política da atualidade, em decadência moral, os acordos tendem a cumprir o engrandecimento de apenas uma das partes. A outra, acaba lesada, direta ou indiretamente. Também por isso, o centrismo não pode fazer escola em Portugal, como não o fez nos Estados Unidos.
Para a esquerda do centro, os problemas que se levantam passam pelas grandes divisões internas, muitas vezes insanáveis, por motivos inexplicáveis. Partidos que, ideologicamente, tocam-se em quase todos os aspetos, congregam ódios e brigas que os levam a dialogar com muita dificuldade. As gerações de estadistas, já com idades avançadas, continuam a bloquear as pessoas que andam nos trintas e que são capazes de falar a linguagem do eleitorado contemporâneo. A esquerda permanece fustigada por si mesma, e teima em ter dificuldade em levantar-se. Não será demais recordar o legado do famoso pacto que António Costa traçou com o Bloco e o PCP. Por muito que se deseje branquear a história, nunca o país foi tão prolífero, no século XXI.
Esse poderia, contando com o Livre como novo vértice de pensamento, permitir combater o inchaço do conservadorismo bafiento e das grandes forças do ódio, do nazismo e do novo fascismo, financiadas pelos grupos económicos. Nos Estados Unidos, assistimos a uma resistência organizada por uma mulher, de 35 anos, lado a lado com um homem de 83, numa aliança de forças desesperadas por mudar uma nação que se afoga em raiva e incompreensão. A solução para fugirem aos monstros fascistas será, inevitavelmente, uma esquerda social forte e unida, capaz de remover do seu interior os falsos moralistas e os que lá andam apenas em busca de um poleiro.
Por outro lado, qualquer pessoa que analise de forma imparcial a situação política no mundo, saberá que nem só da esquerda poderá viver a Humanidade. Tal como em quase tudo na vida, é preciso equilíbrios que permitam à sociedade organizar o seu pensamento de forma clara, com todas as vertentes disponíveis para refletir e crescer. E, para isso, será preciso uma direita, que nos dê a alternativa de, pelo menos, dizer que não é por ali que vamos.
O PSD não é essa direita, atualmente. O grande resultado da campanha, e do que lhe antecedeu, foi a certeza de que Luís Montenegro é um líder à imagem dos seus dois grandes mentores: Cavaco e Coelho. Não pratica o ato de pensar por si mesmo, não lê nem se cultiva. Dá pouco valor à cultura, achando que é com a mais popular de todas as pimbalhadas que vai comemorar o Dia do Trabalhador, e aproveitando a mais pequena oportunidade para cancelar o 25 de abril. O caminho que ele percorre, ladeado por correligionários de todas as idades, é o mais perigoso percurso para a direita.
Também aí podemos inspirar-nos no modelo dos Estados Unidos. Com Bush e os seus sucessores, o partido republicano foi-se afastando do centrismo tradicional, extremando posições sobre causas sociais, alimentando ódios, casos e casinhos. Montenegro não é Trump, mas é, talvez, uma espécie de Mitt Romney, se o mesmo tivesse ganho as eleições. Está na porta, para impedir a entrada de pessoas que pensem pela sua própria cabeça e que sejam capazes de reformar um partido que se disse um dia social-democrata, mas que agora é mais neoliberal que os grandes neoliberais.
Com a continuação de Montenegro, ladeado por Hugo Soares, o PSD arrisca-se a cair na teia de Ventura. Trata-se de uma questão evidente, já executada de forma rápida e eficaz em Washington, e que Portugal replica de forma ténue, por enquanto.
Tristemente, alerto para o facto de não ser necessário que a direita se una formalmente para causar danos. Os 2/3 de deputados/as necessários já lá estão. E neste momento, PSD, IL, chega e CDS somam o suficiente para mexer na Constituição. O perigo deixou de ser abstrato para se tornar real, calculado e iminente. A Constituição da República Portuguesa não é um documento qualquer. É a esperança da continuidade de muitos dos nossos direitos, que não deve ser maquilhada, porque mais tarde não haverá botox suficiente para a recuperar.
Com o resultado de domingo, temo pelo fim da saúde pública, da Educação, do Direito à greve e a contratos de trabalhos e salários dignos que permitam combater a precariedade. Temo pela possibilidade da privatização da Segurança Social e de uma Justiça obrigada a se ajoelhar ao poder político, pois já percebemos que o 25 de Abril ficará somente em nota de rodapé ou reescrito ao gosto de quem sempre o odiou.
A mim, resta-me a vitória do Sporting Clube de Portugal, que permitiu que Portugal e muitos lugares no mundo (afinal, somos um país de emigrantes que odeiam imigrantes) se vestissem de verde e branco, numa onda de alegria e de familiaridade. Mas, resta-me, também não baixar os braços e render-me ao sucedido. Ontem lutei, hoje luto e amanhã lutarei, ainda mais, pelos valores e princípios em que acredito. Para um futuro melhor.
Alexandre Pascoal
Gestor Cultural
Após anos de “chumbo” (e “encostados à parede”), os governos (da república) liderados pelo Partido Socialista (PS), entre 2015 e 2023, deram à Cultura a centralidade que ela merece, um assento à mesa do conselho de ministros e a implementação de uma estratégia de reforço orçamental (gradual e continuado).
A Direção-Geral das Artes (DGARTES), um dos principais organismos do Ministério da Cultura (MC), teve (e tem tido) um papel fundamental na implementação de políticas públicas que visam responder às naturais expectativas de profissionais e das estruturas do sector das artes em todo o território nacional.
Contudo, pela primeira vez, em oito anos de concursos, a Declaração Anual 2025 da DGARTES, na qual são publicitados os concursos a abrir, contrariou a tendência de crescimento das dotações alocadas a cada modalidade de apoio.
O valor do programa de Apoio a Projetos (concursos para Artes Visuais, Criação e Edição, Internacionalização, Música e Ópera, Programação e Procedimento Simplificado) foi o mesmo de 2024 (ainda aprovado pelo PS), outros programas de apoio foram revistos em baixa (Apoio Complementar Europa Criativa) e os concursos – Arte e Coesão Territorial (destinado aos territórios de baixa densidade cultural) e o Arte pela Democracia (uma parceria entre a DGARTES e a Estrutura de Missão para as Comemorações do 50.º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974), foram, simplesmente, obliterados.
Estamos longe da promessa de aumentar em 50% o orçamento do Ministério da Cultura (MC), e estes 11 meses de (des)governação, demonstraram o seu contrário, nos quais (não) fomos surpreendidos pelo rol de decisões persecutórias, medidas inócuas e opções erráticas. Exemplo(s) flagrantes da falta de estratégia e do profundo desconhecimento da diversidade (e complexidade) das estruturas tuteladas (pelo MC) e do tecido artístico português.
As enormes assimetrias territoriais implicam a necessidade imperiosa de continuar a investir em políticas de coesão territorial, daí os incentivos à Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses (RTCP) e à Rede Portuguesa de Arte Contemporânea (RPAC), instrumentos fundamentais para prosseguir a missão de fomentar (e descentralizar) o acesso às artes, mas cujo novo ciclo de concursos à programação não acompanha a inflação, nem a dinâmica crescente. O que na prática é mais uma evidência do retrocesso anunciado.
A campanha eleitoral termina na próxima sexta-feira e, infelizmente, a Cultura é sistematicamente ignorada no roteiro eleitoral. No entanto, honra seja feita à esquerda, em particular, ao Partido Socialista, que tem chamado à atenção para a importância dos apoios nacionais na sedimentação da actividade artística nos Açores e como isto tem contribuído (ou poderá estimular) à fixação, profissionalização e valorização de recursos humanos especializados.
Para melhor atendermos à dimensão alcançada, o montante anual de apoios da DGARTES injectado no arquipélago é (hoje) superior a 1.5 milhões de euros. E esta possibilidade só foi tornada possível com um governo do Partido Socialista, o qual, desde 2018, viabilizou o acesso aos artistas e instituições regionais às linhas de financiamento nacional (e é, actualmente, o garante de parte substantiva da criação artística na região, do funcionamento de várias estruturas e da segurança laboral dos seus profissionais).
Perante o “fosso ético” para o qual o primeiro-ministro arrastou o governo e o país, a 18 maio, a nossa opção de futuro recai, inexoravelmente, por um caminho que não se constitua como uma desvalorização, um entrave ou, até mesmo, uma estagnação (por tudo aquilo que tem sido arduamente conquistado).
André Silveira
No próximo dia 18 de maio, os Açorianos serão chamados às urnas para eleger os seus cinco representantes na Assembleia da República. E, ao contrário do que muitos poderão pensar, o desfecho desta eleição no círculo dos Açores não está completamente escrito. Dir-se-ia, até, que há mais em jogo do que o habitual.
A tradição eleitoral e o peso histórico dos dois maiores partidos, PS e PSD, ditam quase sempre um cenário previsível: dois deputados para cada, sobrando o quinto mandato para discussão. Nas legislativas de 2024, foi o Chega a conseguir esse lugar, num contexto de crescimento nacional e com uma campanha agressiva a nível regional. Mas este ano o contexto mudou. E mudou muito. No mínimo, diria que mudou por uma ou duas malas de razões.
A Aliança Democrática, coligação que junta PSD, CDS e PPM no círculo dos Açores, parte como favorita para repetir, ou até melhorar, o resultado anterior, apesar de não conseguir explicar aos eleitores porque razão nos Açores o PPM faz parte da coligação, mas no continente é oposição. O PS, apesar do desgaste regional e de uma dinâmica regional menos entusiasmante, tem uma base eleitoral consolidada, o que lhe garante, à partida, dois mandatos. As sondagens, ainda que escassas e, convenhamos, muitas vezes de validade duvidosa quando aplicadas à realidade arquipelágica, confirmam este equilíbrio. Assim sendo, o que se vai realmente decidir no dia 18 é quem fica com o quinto deputado.
E aqui o cenário é de incerteza. A luta será renhida entre o terceiro nome da lista da AD, o terceiro do PS, o cabeça de lista do Chega e o da Iniciativa Liberal . E qualquer deslize ou acerto de estratégia pode valer esse mandato. A matemática é simples: bastarão algumas centenas de votos de diferença para definir o eleito. Isto porque, com cinco lugares apenas, a margem entre o quarto e o quinto eleito poderá ser mínima.
A posição do Chega é delicada. O partido viu-se envolvido recentemente no caso polémico com o seu deputado na Assembleia da República pelos Açores, episódio que manchou a imagem da estrutura regional e abalou a sua base de apoio. A juntar a isso, o líder nacional do partido não tem sido particularmente eficaz nesta campanha, com intervenções pouco ajustadas à realidade Açoriana e uma estratégia que parece cada vez mais desfasada das preocupações locais. Os temas fundamentais que o Chega insiste em trazer para o debate nacional, como a imigração ou o discurso securitário, têm pouca relevância junto dos Açorianos, que neste momento olham mais para a economia regional, o custo de vida, a mobilidade e a gestão da autonomia. Ainda assim, o cabeça de lista do Chega pelos Açores apresenta-se este ano com um perfil bastante mais qualificado e acima da opção feita nas últimas legislativas, o que pode atenuar parte do desgaste. Se este abalo eleitoral se confirmar, abre-se espaço para a Iniciativa Liberal crescer e, embora altamente improvável, quem sabe, fazer história ao eleger um deputado, algo que seria inédito no círculo dos Açores.
Mas para isso, a IL terá de se afirmar como terceira força regional nestas eleições. Algo que, embora difícil, não seria completamente surpreendente, tendo em conta a quebra do Chega e a saturação que muitos eleitores sentem em relação às opções tradicionais e ao recente escândalo. O discurso liberal, centrado na redução da burocracia, na promoção da liberdade económica e na defesa de uma autonomia mais adulta e menos subsidiada, poderá captar eleitorado urbano e jovem, sobretudo em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo.
Neste contexto, mais do que conhecer os líderes nacionais ou os slogans das campanhas, importa saber quem são, afinal, os protagonistas desta disputa. Quem são o terceiro candidato da lista da AD, o terceiro do PS, o cabeça de lista do Chega e o da IL? Que ideias defendem? Que propostas levam para a Assembleia da República? Que visão têm para os Açores e para o futuro da autonomia? Dos quatro, qual o que serviria melhor os interesses da região na República?
Um debate público entre estes quatro candidatos seria não apenas útil, mas absolutamente imprescindível. Seria a ocasião ideal para que os Açorianos distinguissem quem tem substância, conhecimento e um compromisso genuíno com a defesa dos interesses regionais, de quem fará apenas número. Permitiria avaliar quem detém, de facto, conhecimento profundo sobre a complexidade da realidade Açoriana. Mais do que isso, possibilitaria perceber quem estará na Assembleia da República para fazer a diferença em nome dos Açorianos e da Autonomia, e quem não passa de mais uma nomeação política de conveniência, desprovida de valor acrescentado para a defesa da Região.
Convém recordar que, tradicionalmente, o terceiro candidato da AD e o terceiro do PS são figuras politicamente secundárias, quase sempre desconhecidas da generalidade dos Açorianos, escolhidas mais por conveniências internas dos partidos do que pelo seu valor político regional. Numa eleição tão decisiva para a região, com tantos dossiers fundamentais em discussão no continente, não faz sentido que se vote às cegas ou por arrasto partidário, sem escrutínio rigoroso daqueles que poderão, afinal, representar os Açorianos na República.
Por fim, há um tema que não se pode deixar de sublinhar: a urgência de se avançar para um círculo de compensação nacional. Tal como existe nos Açores para as eleições legislativas regionais, permitiria que os votos em partidos mais pequenos não se perdessem completamente, como hoje acontece. Nos Açores, todos os votos que não forem para PS, AD, Chega ou IL não servirão para eleger alguém, o que desincentiva o voto em alternativas e empobrece a democracia. Um círculo de compensação, como elemento estruturante de uma democracia madura e pluralista, garantiria maior representatividade e faria justiça ao princípio de que todos os votos devem contar.
No dia 18, mais do que escolher partidos, escolhem-se pessoas. E mais do que votar por hábito ou fidelidade, é tempo de votar com exigência e critério. Porque o quinto deputado Açoriano na Assembleia da República pode, mais do que nunca, fazer a diferença.
O presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Luís Garcia, disse esta quinta-feira, 8 de maio, que “fixar jovens nos Açores não pode ser apenas um desejo — tem de ser um desígnio local e regional”, reforçando que o futuro das ilhas depende da capacidade coletiva de criar condições reais de atratividade para as novas gerações.
Segundo nota de imprensa enviada às redações, as declarações foram proveridas no sexto encontro do roteiro “Açores com Futuro – Jovens que Inspiram”, realizado esta manhã, na Escola Básica e Secundária da Graciosa, perante uma plateia de cerca de 150 alunos do ensino secundário e profissional.
“Só com políticas públicas eficazes numa verdadeira sintonia entre os setores público e privado é que conseguimos criar as condições certas para que os jovens escolham ficar”, salientou o presidente da Assembleia Legislativa.
Na ocasião, Luís Garcia alertou também para a importância de manter o equilíbrio no desenvolvimento local: “É essencial garantir que todas as áreas, como a restauração ou a oferta de serviços, também se desenvolvem, para que as nossas ilhas sejam verdadeiramente atrativas para viver”.
“Bem sei que para que vocês, jovens, possam escolher ficar, regressar ou investir aqui, é fundamental que, além de oportunidades profissionais, tenhamos também qualidade de vida, cultura, lazer e uma oferta de serviços mais diversificada, tudo isso sem perder a identidade da ilha”, afirmou Luís Garcia.
“A Érica Silva, ao dar continuidade à ‘Quinta da Corneta’, não está apenas a cultivar meloas, mas a dar um exemplo de como a agricultura local é tão essencial; o João Bettencourt, na ‘Casa Agrícola Bettencourt & Bettencourt’, está a valorizar a tradição agrícola da ilha; o Duarte Silva, no parque eólico ‘Graciólica’, não só está a impulsionar a energia renovável, mas a contribuir para a transição energética que é crucial para a sustentabilidade da nossa Região; já a Carolina Machado, como professora primária, não só ensina, mas está a formar as futuras gerações para termos uma sociedade melhor preparada”, concluiu Luís Garcia.