«O Miguel Estorninho é o que se diz por autêntico líder nato, a capacidade de organização da equipa e tudo o que se prende pela gestão de recursos humanos passa pelas mãos do Miguel.
GIL FARIA E MIGUEL MONTEIRO
Porta-voz da Digital, Cara do Podcast.
Embora nem sempre seja fácil de trabalhar com amigos, conseguimos separar bem as águas e é como se fosse uma relação trabalho-amizade 24/7.
Estamos uns para os outros nos trabalhos e nas diversões.»
DL: Quem é o Miguel Ângelo Estorninho?
Cresci numa ilha pequena — a Graciosa — e, ao longo da vida, tenho tentado construir o meu caminho com esforço, criatividade e alguma teimosia.
Gosto de comunicar, de criar coisas com propósito e de juntar pessoas à volta de boas ideias.
Sou fundador da Digital Natives Portugal, uma agência de comunicação regional, e apresentador do Nativos Podcast, um projeto que me tem desafiado bastante e, ao mesmo tempo, ajudado a crescer — não só a nível profissional, mas também pessoal.
Gosto de pensar que sou uma pessoa atenta, com um lado sensível que nem sempre deixo à vista, mas que está muito presente. Tenho amigos incríveis, uma família que valorizo muito, e tento todos os dias estar mais presente para quem realmente importa.
Estou sempre pronto a ouvir uma nova ideia e a construir algo bonito e diferente. Quero continuar a viver desafiando-me e a crescer diariamente nos vários ciclos da vida.
DL: Como foi sair da ilha Graciosa para São Miguel?
Sair da ilha Graciosa para São Miguel foi uma das mudanças mais marcantes da minha vida.
Cresci numa ilha com cerca de quatro mil habitantes, onde toda a gente se conhece e onde existe uma certa tranquilidade… mas também alguma limitação em termos de oportunidades.
Crescer num lugar tão pequeno ajudou bastante a minha criatividade — quando somos miúdos, inventamos brincadeiras, criamos histórias, e acredito que isso teve impacto direto no que faço hoje, que passa muito por criar e contar histórias.
Quando vim para São Miguel, o início foi estranho. Senti falta da calma, das referências, da família e da proximidade de tudo. Mas, ao mesmo tempo, havia uma vontade muito grande de me afirmar, de encontrar o meu espaço, de construir algo meu.
Foi cá que conheci os meus amigos e sócios Gil Faria e Miguel Monteiro, com quem acabei por partilhar a aventura empresarial em que estou inserido.
DL: Qual a sua formação e o motivo da escolha?
A minha formação acabou por surgir quase por acaso. Como muitos jovens no início da vida adulta, estava um pouco perdido sobre o que estudar e onde estudar. Havia muitas opções e a minha média não era impressionante.
Precisei de experimentar um pouco da vida para perceber o que realmente gostava. Entrei inicialmente em Relações Públicas na Universidade dos Açores — os primeiros anos foram mais de descoberta pessoal do que propriamente de foco académico.
Mais tarde, mudei-me para Lisboa e fui estudar Ciências da Comunicação. Escolhi esse curso porque, desde cedo, senti uma ligação forte com as palavras, com a forma como as histórias são contadas e com o impacto que a comunicação pode ter nas pessoas. Sempre fui curioso, observador e com vontade de entender o mundo e encontrar a minha forma de expressão.
DL: Quais e como foram os primeiros passos no mercado de trabalho?
Depois de terminar a formação, comecei a fazer trabalhos ligados à comunicação digital, redes sociais e produção de conteúdos. Nada era muito impressionante, mas foi o suficiente para perceber que gostava realmente daquela área.
Fui ganhando experiência, cometendo erros e aprendendo com eles. Aos poucos, comecei a acreditar que podia criar algo meu. Foi nessa fase que surgiu a ideia de fundar a Digital Natives Portugal, com o objetivo de apoiar marcas e projetos locais, mas com uma abordagem mais moderna, criativa e autêntica.
DL: Por que decidiu permanecer na ilha de São Miguel?
Vivi sete anos em Lisboa, onde estudei e trabalhei, mas mantive sempre uma ligação forte a São Miguel e aos Açores. Cheguei a vir cá fazer estágios e colaborar com empresas regionais.
Em setembro de 2024, fez sentido regressar. Queria estar mais perto da família, dos amigos, da minha empresa, da ilha e da natureza — e viver com o estilo de vida que os Açores oferecem.
DL: Conte-nos a história ou percurso do seu projeto atual. Como começou, como prepara os cenários, como escolhe as pessoas?
O Nativos Podcast é uma ideia com vários anos. Ninguém inventa a“roda” apenas se adapta a “a roda”, já havia outros programas do género mas queríamos criar algo com identidade açoriana, feito por nós, com o nosso olhar.
Há cerca de cinco anos, eu e o Gil Faria pensámos na ideia, mas ficou em “águas de bacalhau”. Só em 2024, com o meu regresso a São Miguel e com o crescimento da nossa equipa, é que fez sentido avançar.
A ideia sempre foi destacar açorianos que se evidenciam nas suas áreas, independentemente da idade, género ou área de atuação. O foco está no percurso, na essência e na inspiração que podem gerar nos outros.
Decidimos gravar em locais diversos — interiores e exteriores — mas mantendo o mesmo cenário visual: os emblemáticos sofás. O projeto tem crescido com trabalho, dedicação e muito carinho. No fundo, é uma extensão de mim, da equipa e da Digital Natives e uma forma de valorizar o que temos por cá.
DL: Descreva as pessoas que abraçaram o projeto e o papel de cada uma.
Tudo começa com uma ideia, mas sem pessoas nada se faz. O Nativos Podcast tem sido abençoado por contar com uma equipa fantástica.
O Gil Faria está na edição e coordenação de produção. O Miguel Monteiro trata da logística e da captação. O André Saudade cuida da captação de vídeo e fotografia, e tem sido um grande companheiro. O Diogo Bernardo também trabalha na imagem e vídeo, e tem uma crença forte no projeto mesmo quando tudo parece correr mal. O André Borges (Tojó) juntou-se quando percebemos que precisávamos de apoio no som e conquistou esse espaço que foi essencial e muito importante para nós.
Temos ainda o Rafael Tavares e o Bruno Medeiros, que sempre que é preciso substituem alguém da equipa de captação e o Rodrigo Beleza que nos tem ajudado e muito na logística de tudo.
E não posso deixar de referir a Inês Monteiro a responsável pelo design visual, desde o logotipo às cores e símbolos. A imagem do podcast nasceu do talento dela.
Apesar de eu ser a “cara” do projeto, nada seria possível sem estas pessoas. Sou mesmo muito grato a cada uma delas.
DL: Qual o impacto que pretende transmitir?
Ainda sinto que, no continente, muitas vezes se olha para os açorianos com uma visão redutora associada ao campo, ao mar ou às vacas felizes. Mas há por cá pessoas incríveis, com trajetos impressionantes, capazes, criativas e muito inspiradoras.
Se conseguirmos dar visibilidade a essas pessoas, expressar esse talento e contribuir para o reconhecimento do valor açoriano, já é um impacto muito positivo.
DL: Queijadas da Graciosa ou a sua equipa?
Sem dúvida que as Queijadas da Graciosa. Estou a brincar. [risos]
Apesar de ser um grande apreciador da marca e do produto, a minha equipa, que é feita de amigos meus, ocupa um lugar muito mais importante no meu coração.
DL: O que pretende para o futuro?
Temos vários objetivos para o futuro. Esta temporada do Nativos Podcast terá pelo menos oito episódios, lançados ao longo de oito domingos. Depois disso, gostaríamos de avançar para uma terceira temporada.
O nosso grande sonho é terminar o ano com um espetáculo ao vivo. Ainda é uma ideia em fase inicial, mas tudo depende do feedback do público.
Vamos ver o que o futuro nos reserva e essa é, talvez, a parte mais bonita.