Traduzido para o português, “Nine Dots” significa “Nove pontos”. Estes nove pontos simbolizam as nove ilhas do arquipélago dos Açores. Com uma arquitetura sofisticada através de elementos distintos da arquitetura açoriana, o hotel pretende realçar a beleza dos Açores através de obras literárias, da gastronomia, da paleta de cores e de quadros de artistas com mais de 100 anos. “O Nine Dots é um hotel diferente”, realça Paulo Araújo, diretor-geral do Nine Dots Azorean Art Boutique Hotel, 33 anos, natural de Braga, ao Diário da Lagoa (DL). Conta que desde tenra idade a hotelaria está presente na sua vida. É licenciado em Turismo, mas confessa que a sua maior formação surge ter vivido e crescido dentro de um hotel. “A minha mãe trabalhava num hotel, não tinha com quem me deixar e eu acabava por acompanhá-la ao trabalho”, diz. Ao ter conhecimento do projeto do hotel e posteriormente conhecer os respetivos donos, Catarina Simão e Tiago Saraiva, foi natural e entusiasmante a vinda para os Açores. “Identifiquei-me rapidamente com este projeto e tinha medo de ficar arrependido de não acompanhá-lo e de não vir”, nota o diretor que na altura exercia funções num hotel em Marrocos.
A arte dos Açores está presente em muitos recantos do hotel. O acervo cultural do Nine Dots engloba obras de artistas açorianos de renome nacional e internacional. Este hotel não é só um alojamento, é também arte e cultura. “Um hóspede que aqui entra vai sair muito mais rico culturalmente do que aquilo que entrou”, afirma Paulo Araújo. De beleza e riqueza estão as paredes do hotel cheias, estando presentes artistas como Domingos Rebelo, António da Costa, Natália Correia, Antero de Quental, Vitorino Nemésio, Tomaz Borba Vieira, entre outros. Através de livros de primeiras edições, de obras originais e do objetivo futuro da realização de exposições temporárias no hotel, Paulo Araújo, confiante, diz: “não conseguimos encontrar isso em mais nenhum alojamento”.
Para além de querer promover artistas locais e fazer exposições com artistas açorianos emergentes, um dos principais propósitos do hotel é ter pessoas com o conhecimento necessário para conseguir explicar todo o conceito das obras presentes. Através de uma equipa jovem com cerca de 50 funcionários, este hotel espera ser um acréscimo de valor para a ilha de São Miguel. O diretor-geral do Nine Dots acredita que o que o espaço tem de diferente é a capacidade de surpreender. “Existem muitos pontos neste hotel que não estamos habituados a ter enquanto hóspedes de uma hotelaria clássica em vários destinos”, diz.
Através do restaurante, bar e centro de bem estar, pretende-se chegar a toda a comunidade. O restaurante “ETC. Osteria Bar” traz consigo influências da cozinha italiana com o propósito de confecionar pratos tradicionais com produtos locais. O bar com esplanada pretende ser um local de convívio onde os clientes possam desfrutar de momentos ao ar livre, saboreando a variedade de cocktails que o bar oferece. “Fica o convite para virem. Queremos ser um hotel, restaurante e um bar próximo da sociedade”, diz o entrevistado curioso, para descobrir a perceção das pessoas ao entrar neste espaço.
A Lagoa está presente no Nine Dots através de um painel de azulejos na casa de banho do restaurante e produzido pela Cerâmica Vieira. Não há mais nenhum trabalho da fábrica, mas “há paredes em branco” e por isso, Paulo Araújo salienta que é necessário perceber o que fazer do espaço, dando “a oportunidade para que ele cresça por si próprio”.
Estando num destino como os Açores, a sustentabilidade é algo prioritário. A certificação ambiental está no top de prioridades deste ano para o hotel. Com isto, nascem alguns programas como o GO BEYOND. Sendo uma unidade hoteleira num destino que preza a sustentabilidade, “não podíamos ser só mais um hotel a reduzir ou a tirar o plástico dos quartos, tivemos de ir mais além”, refere o responsável. A Zouri Shoes é uma marca portuguesa que utiliza plástico dos oceanos para fazer as suas sapatilhas. Através de uma parceria, o Nine Dots recolheu o plástico existente nas praias de São Miguel e todo o staff do hotel utiliza Zouri Shoes. O projeto regional MUSA AÇORES pretende potenciar o uso da bananeira dos Açores e criar peças artesanais. Neste sentido, os cestos para a fruta que estão nos quartos são feitos das fibras secas do caule e das folhas da bananeira, conseguindo dar outra vida à árvore. Potenciar a comunidade e economia local também é outra prioridade e por isso, existem parcerias com alguns artesãos como é o caso de Luís Caetano, Mestre Paivinha, Oficina 26 e a Cerâmica Vieira. As peças de cerâmica do Nine Dots, especialmente do “ETC.” são produzidas pelos utentes e colaboradores do projeto Mãos que Criam. Este projeto pertence ao instituto São João de Deus – Casa de Saúde de São Miguel e destina-se a pessoas com problemas mentais ou comportamentos aditivos.
Segundo Paulo Araújo, em qualquer grupo hoteleiro, uma varanda virada para a rua principal do hotel, seria um quarto. Tendo em conta que o Nine Dots tem uma profunda ligação à arte e cultura açoriana e como grande parte desta cultura está ligada à religião, decidiu-se fazer diferente. “Em Maio esta rua transforma-se e se há traço cultural que nós não podíamos deixar de ter era este espaço”, acrescenta. A Varanda do Santo Cristo está localizada num espaço amplo e será o local para a vista da procissão em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que passa pela rua dos Mercadores, e para as exposições temporárias do hotel.
Por ser um hotel que nasce da transformação de edifícios antigos, muita coisa foi modificada, porém existem vários elementos do estabelecimento que continuam a marcar presença desde o seu início. Houve um grande aproveitamento de rocha que foi encontrada na escavação da cozinha, a escadaria até ao segundo andar, pelo grande valor arquitetónico que tem, é original. Para além disso, houve tratamento e preservação de madeiras, bem como a utilização de madeiras que foram retiradas na demolição bem como foi preservada a porta de entrada do edifício.
Após uma década de uma longa e minuciosa preparação, o hotel Nine Dots está pronto para receber os seus primeiros hóspedes e visitantes. “Trouxemos os Açores para dentro do hotel e agora faltam as pessoas”, destaca Paulo Araújo.