Fundada em 1861 pelo padre Jacinto Félix Machado, a filarmónica Eco Edificante, da vila do Nordeste, está a celebrar o 163.º aniversário com a particularidade de ser a mais antiga banda de música de São Miguel e a que funciona ininterruptamente desde a data da fundação.
Desde há seis que tem Daniel Caceiro como maestro, elemento que tem trabalhado com um grupo jovem e ambicioso no desejo de evoluir. “As filarmónicas são os conservatórios do povo, são um núcleo que, para além de se fazer música, fazem-se amizades. São uma segunda família para todos”, começou por situar.
“Ao nível da evolução, posso falar das pessoas que vi crescer, não só como seres humanos, mas como músicos. Isso sim, é uma grande recompensa para quem se encontra à frente, não só a nível artístico, como direção logística”, acrescentou.
Daniel Caceiro chegou à Eco Edificante por sugestão do anterior maestro. “A oportunidade foi sugerida pelo Carlos Freitas, que na altura estava de volta ao continente e deu o meu nome à direção da banda. Fui contactado, aceitei o desafio proposto e por lá fiquei até agora”, recordou.
Para além de ser maestro na Eco Edificante, é músico militar, sublinhando que “nós temos um papel fundamental no desenvolvimento das bandas filarmónicas na ilha de São Miguel. A maioria dos maestros das nossas filarmónicas ou são ou foram membros da Banda Militar dos Açores”.
Num concelho pequeno como o Nordeste que mantém em atividade três filarmónicas, como é que se consegue motivar os músicos, principalmente os jovens? A resposta saiu pronta: “Primeiro é preciso gostar de música, pois ninguém motiva uma pessoa a quem a música não lhe diga nada. O Nordeste tem uma tradição grande nas bandas, onde muitas pessoas passaram ou ainda se encontram nestas, pelo que por vezes é mais fácil colocar alguns jovens na escolinha de música por influência de familiares ou amigos que já tocaram na banda”.
E acrescentou: “Todos sabemos que, atualmente, com a grande diversidade dada aos jovens, tem mesmo de se gostar de música pois dá trabalho ser músico. A sorte de tocar bem dá muito trabalho. E projetos não nos faltam…”.
Portanto, a adesão dos jovens não tem sido uma dificuldade e é “determinante para manter a atividade da filarmónica”, realçou Daniel Caceiro, realçando a importância de se manter uma “escola de música consistente em funcionamento, com elenco competente a dar formação para que os jovens adquiram boas bases para ajudar na sua progressão e motivação.”
Natural da Figueira da Foz e a residir no concelho da Lagoa, Daniel Caceiro é um apaixonado pela ilha de São Miguel, pelos seus costumes e tradições. Iniciou a vida militar na Banda Sinfónica do Exército, passando ainda pela Orquestra Ligeira do Exército antes de ingressar no 37.º Curso de Formação de Sargentos (2008).
Em 2010, quando finalizou o curso, veio para os Açores, tendo ingressado na Banda Militar dos Açores. Regressou ao continente em 2016, com a certeza de que se tinha fechado um ciclo, mas em 2017 voltou à ilha, desta vez por opção própria, onde se mantém desde então. Durante estes anos já dirigiu a Banda Fundação Brasileira e a Filarmónica Triunfo.
Atualmente, detém o posto de sargento-ajudante músico e dirige a filarmónica Eco Edificante, do Nordeste.
Luís Paulo Moniz, 31 anos, é funcionário da Secretaria Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública. Mas é no tempo que lhe sobra que se sente realmente realizado. É maestro da Filarmónica Estrela D’Alva da freguesia de Santa Cruz, na Lagoa, e músico desde os oito anos na banda onde começou por tocar saxofone. É também professor de acordeão e saxofone na Associação Musical de Lagoa e foi maestro da Orquestra da Lagoa no âmbito das comemorações dos 500 anos do concelho, uma experiência que diz ter sido “muito bonita e uma mais-valia sobretudo para os jovens”.
O interesse pela música surge por influência do pai que era saxofonista e tenor. Luís Paulo está, assim, na Estrela D´Alva há 23 anos, dos quais quatro como maestro.
O antigo maestro, Paulo Gordo, quando regressa à sua terra natal faz o convite ao músico lagoense porque considerava que se tratava de “uma das pessoas com mais formação na filarmónica para dar continuidade ao seu trabalho”.
O atual maestro da Estrela D´Alva cumpriu formação no Conservatório de Ponta Delgada, entre os seus 11 e os 19 anos.
“Foi um pouco difícil conciliar os estudos, mas consegui”, diz Luís Paulo Moniz, ao Diário da Lagoa (DL), quando confrontando com o grau de dificuldade em conciliar o ensino regular com o musical.
Luís já compôs várias músicas para a filarmónica, as chamadas “marchas graves, de desfile” e outros arranjos musicais.
É autor da marcha “Homenagem a Santa Cruz” e de um tributo ao presidente da Assembleia da Estrela D’Alva, António Augusto Borges. Na gaveta tem “mais marchas que ainda não saíram” e que “estão guardadas”, conta ao DL.
Relativamente ao balanço que faz dos quatro anos de maestro diz que é “muito positivo” e que “houve crescimento tanto a nível musical como a nível de jovens na filarmónica” que muitas vezes desafiava a experimentar o mundo da música ao cruzar-se com eles na rua.
Atualmente a banda de Santa Cruz é composta por 18 jovens, entre outros músicos mais velhos como o presidente da banda, João Arruda, o músico Carlos Raimundo e o seu contramestre António Ventura.
Para este ano, avizinha-se muito trabalho com “as domingas do Espírito Santo” e outras procissões que se começam a realizar até ao verão, época alta das atuações da filarmónica.
Vão participar nos tradicionais impérios, nas marchas populares e em setembro a Estrela D´Alva vai realizar uma viagem à ilha da Madeira num intercâmbio com a banda de Santa Cruz da Madeira.
Ao nível de apoios para as filarmónicas no concelho diz: “não nos podemos queixar, tanto em relação à Junta de Freguesia como à Câmara Municipal”. Da autarquia explica que a filarmónica recebe “cinco mil euros, o que é muito bom comparado com outras autarquias. A nossa vê as nossas filarmónicas como escolas. Somos instituições centenárias”, sublinha o maestro.
Enquanto maestro, a sua preocupação e desafio “passa por tentar tirar os jovens de casa, onde passam muitas horas ao computador e outros em maus caminhos”. Luís Paulo diz que é importante os jovens socializarem e revela-se “otimista” porque estão a trabalhar em conjunto e enquanto grupo estão a “ganhar uma nova vida”.
Questionado sobre o que falta ainda fazer, diz que a “sede precisa de uma reforma” e que já fizeram um “pedido à Secretaria das Obras Públicas” porque precisam de “fazer um tratamento acústico do espaço”.
As fardas são também outro desafio em termos de investimento porque “os jovens estão em crescimento e depois no ano seguinte as fardas já não servem, sendo difícil de gerir”.
Por fim diz que “aprender a tocar um instrumento musical é uma arte e uma das melhores coisas que existem”. Para o maestro lagoense “nunca é tarde para aprender” pois “a música faz parte de todos e saber tocar é melhor ainda porque é uma linguagem universal.” Quando questionamos sobre a possibilidade de experimentar outros voos, remata sem hesitar e com um brilho nos olhos: “já recebi convites mas estou na minha banda do coração, não a troco por nada”.