Com seis anos já gostava de bola. Aos nove, jogava futebol na rua com os amigos. Paulo Henrique Cabral, 27 anos, formou-se no Santa Clara, clube onde atualmente joga como defesa lateral esquerdo. É capitão há duas épocas e é o único jogador açoriano do plantel dos encarnados de Ponta Delgada. Na gala do aniversário dos 103 anos do clube, em fevereiro, foi distinguido com o Prémio Bravo Açoriano que homenageia o jogador que esteve em destaque em 2023.
Começou a treinar no Marítimo SC, aos 10 anos. “Dois anos depois vim para o Santa Clara. A partir dos sub-12, até aos juniores, fiz aqui a formação”, lembra o capitão, em conversa com o DL, no estádio onde há poucos dias o Santa Clara tinha vencido o União de Leiria por 2-0 e erguido a taça de campeão da Liga 2. Paulo Henrique estreou-se como futebolista profissional com o Santa Clara, aos 16 anos, no Estádio de São Luís, em Faro.
“Na minha primeira época de sénior, sigo viagem para Paços de Ferreira, onde joguei três anos. Fui emprestado ao Sporting Covilhã no ano em que Paços desce. (De volta ao Paços) fui campeão da Liga 2. No ano seguinte fui para o FC Penafiel, onde estive dois anos”.
Na época 2021/22, Paulo Henrique regressou à casa que o formou. Segundo Clemente Raimundo, diretor técnico do Santa Clara, o defesa afirmou-se no clube e “tem sido um jogador fundamental no plantel com muitos jogos realizados e boas épocas”.
Esta é a segunda época que Paulo Henrique é capitão dos encarnados. Recebeu a braçadeira num torneio na Madeira, lembra. ”Não estava a contar muito com isso. Senti uma alegria enorme. É o clube onde me formei, onde cresci. Foi fantástico receber a braçadeira. Ser capitão é representar o meu clube, da minha terra e região, e isso significa muito para mim. É uma responsabilidade acrescida, mas é uma experiência que estou a gostar muito”.
A braçadeira acarreta também uma série de responsabilidades, explica o capitão: “de transmitir os valores para os colegas que chegam de fora, e transmitir aquilo que é o Santa Clara e os Açores. Penso que isso é fundamental, depois é o trabalho aqui dentro, fazer a ponte entre os jogadores, equipa técnica e staff. Tem sido uma experiência agradável e tenho evoluído muito”.
A última época tem sido “fantástica”, considera o futebolista açoriano: “aquilo que fomos construindo foi incrível. Desde o primeiro minuto que abraçamos a ideia do mister de uma forma estrondosa. Reflete-se nos resultados ao longo da temporada. Não é por acaso que fomos campeões e que estivemos 23 jogos na liderança. Isso reflete muito daquilo que é a nossa equipa, do que construímos, do espírito que se viveu aqui, do compromisso”.
Não só a nível coletivo, mas também pessoal, o balanço do trabalho realizado é positivo. “Estando o coletivo bem, penso que o individual vai sobressair. Acho que não só eu, como todos os meus colegas, tiveram uma performance muito boa. Quem ganha valoriza-se sempre e ganhamos muito este ano”.
É a segunda vez que Paulo Henrique sente o sabor de ser campeão, mas desta vez é diferente, especial: “é um sentimento diferente, talvez por ser o meu clube, por ser junto da minha gente, da minha família. Tem um sabor muito especial. Também por aquilo que foi a época passada, termos descido da forma que descemos”.
De acordo com Paulo Henriques “no mundo do futebol é muito importante termos carácter e sabermos para onde vamos. No nosso caso, somos um clube insular, uma ilha que requer muito compromisso. É muito cansativo estar sempre a viajar”. Por esse motivo, explica, nem sempre é fácil conjugar a carreira e a vida familiar, sente na pele o capitão do Santa Clara, pai de duas filhas: “é importante haver um equilíbrio e saber que vamos passar por sacrifícios”.
Mas a família é o grande suporte do futebolista: “Nos dias que não correm bem, são eles que estão lá para me abraçar e dar força. Penso que é fundamental ter um suporte. É com a família que vamos estar, desabafar, espairecer. Sem dúvida que é importante”.
“Gostei do projeto deste ano, das pessoas, de todo o envolvimento. Foi fantástico. Acho que o Santa Clara tem margem para crescer, e acredito que vai ser uma época de sucesso”
Paulo Henrique
O contrato do defesa lateral esquerdo termina este mês, mas Paulo Henrique diz que gostava de continuar na equipa: “obviamente. É o clube da minha terra, foi onde me formei. Gostei do projeto deste ano, das pessoas, de todo o envolvimento. Foi fantástico. Acho que o Santa Clara tem margem para crescer, e acredito que vai ser uma época de sucesso”.
Sobre o futuro do clube, Paulo Henrique diz acreditar que o Santa Clara “vai atingir patamares muito superiores”.O seu sonho era “ver o Santa Clara a lutar por esses patamares e ver o estádio de São Miguel mais colorido durante a época, não só nas fases decisivas, mas também nos jogos todos, ver o estádio com mais pessoas”.
A nível pessoal, Paulo Henrique está agora focado na família e a viver o agora: “este ano realizei um sonho. Fui campeão pelo Santa Clara e estou muito feliz por isso. O meu objetivo é dar sempre o meu melhor, a cada treino, a cada jogo. Vivo muito o hoje”. Prestes a fazer 28 anos, em outubro, o futebolista quer continuar a jogar até “o corpo deixar” e espera fazê-lo por “mais 10 anos”.