Venicio da Costa Ponte
Vice coordenador da iniciativa Liberal Açores
Abril é o mês da liberdade. Mas mais do que uma memória de cravos nas janelas, deve ser um convite à ação — especialmente quando estamos a poucos dias de novas eleições. No dia 18 de maio, os portugueses voltam às urnas para escolher quem vai governar. Nesta escolha, há uma coisa que importa relembrar: a liberdade não foi sempre garantida. E não é garantida para sempre.
A 25 de Abril de 1974, Portugal acordou de uma longa noite. Durante 48 anos, o país viveu sob uma ditadura que silenciava opiniões, censurava jornais, perseguia opositores e negava a participação política livre. A Revolução dos Cravos foi muito mais do que a queda de um regime — foi o renascimento da cidadania, da pluralidade, da possibilidade de discordar e de propor caminhos diferentes. Foi o começo de um país novo.
Mas o processo democrático não se consolidou num só dia. Após o 25 de Abril, houve tempos de instabilidade e tensão, em que se disputava não apenas o poder, mas o próprio modelo de sociedade que iríamos construir. Foi nesse contexto que o 26 de novembro de 1975 tornou-se um marco. Nessa data, as Forças Armadas — divididas internamente — puseram fim a uma tentativa de desvio autoritário por parte da extrema-esquerda. O que estava em causa não era apenas quem mandava, mas se Portugal seguiria um caminho democrático e plural ou cairia noutra forma de repressão, ainda que em nome de uma ideologia diferente. O resultado foi claro: escolhemos a liberdade — de expressão, de organização, de voto. Liberdade para todos.
Hoje, quase cinco décadas depois, essa mesma liberdade continua a viver em cada ato eleitoral. É fácil esquecermo-nos do seu valor quando nascemos já em democracia. Mas votar continua a ser um dos gestos mais poderosos que podemos fazer — não apenas por nós, mas por quem virá depois.
No próximo dia 18 de maio , somos chamados novamente a escolher. Entre muitas opções legítimas, está também a possibilidade de votar liberal. Em ideias que defendem a liberdade individual, o mérito, o empreendedorismo, a descentralização do poder e uma economia aberta. Essa escolha não tem sido tradicionalmente dominante em Portugal — talvez por herança histórica, talvez por preconceitos persistentes — mas é uma escolha válida, legítima e profundamente democrática.
Escolher votar liberal não é virar as costas a abril — é afirmar uma visão diferente sobre como cumprir os seus ideais. Porque liberdade também é isso: poder acreditar que o Estado não tem de estar em todo o lado, que o indivíduo pode e deve ter espaço para crescer, que a responsabilidade pessoal é uma forma de dignidade, e que uma sociedade aberta e exigente pode ser mais justa do que uma sociedade controlada e paternalista.
Para os mais jovens, que muitas vezes se sentem distantes da política, esta pode ser uma oportunidade de fazer a diferença. O voto não muda tudo — mas é o começo de tudo. É o primeiro passo para exigir, construir, transformar. É a forma mais direta de dizer: estou aqui, tenho voz, quero participar.
Abril de 1974 devolveu-nos essa voz. Novembro de 1975 protegeu-a. Em Maio de 2025, cabe-nos a nós usá-la — com liberdade, com consciência e com coragem.
Neste mês da liberdade façamos uma reflexão, sejamos dignos da história que herdámos. E façamos do voto uma afirmação clara do país em que queremos viver.
Fernando Diogo
Professor e Investigador
Não de uma forma dramática, mas não deixa de estar quando muito daquilo que é a informação que os jovens recebem sobre a sociedade e a política vem de fontes não credíveis, e não da comunicação social. Isso preocupa-me muito porque tem um impacto enorme na classe profissional, na sua estabilidade, salário e naquilo que é a organização e saúde da democracia. Há diversos anos, a saúde da democracia está fragilizada pela forma como o jornalismo está a ser tratado e feito.
Gilberta Rocha
Professora e Investigadora
A liberdade de expressão está em causa em todo o lado e já não é de agora. Não a sinto propriamente na pele, porque não sou jornalista, mas sinto no tipo de notícias que se faz. Vê-se que as notícias por vezes não são totalmente verdadeiras, ou melhor, muitas vezes não vão aos assuntos que são essenciais debater.
Luisa Bairos
Documentalista de Televisão
Não em particular nos Açores. Isto é uma tendência que está em todo o mundo, e como em todo o mundo, quando há um ataque ao jornalismo, há a toda a sociedade, e, obviamente, à democracia e à liberdade de expressão. Portanto, nos Açores, quando se ataca essa fonte, está-se a atacar a democracia.
José Melo
Empresário
Se nos Açores, mesmo com pouco e fraco jornalismo que existe, está em causa, imagine-se como será, quanto mais precários forem os salários dos jornalistas e quanto mais pressão for exercida sobre eles. O jornalismo é o quarto poder. Este ataque à democracia, via jornalismo, não é de agora, agrava-se com esta situação. Basta estar atento para percebermos, quer em termos de jornalistas e de comentadores, que está tudo perfeitamente indexado a um determinado poder: o económico.
Nuno Martins Neves
Jornalista
Não considero que esteja em causa. Nunca me senti constrangido em noticiar seja o que for. Mas não podemos dizer que essa liberdade está totalmente garantida, quando há ilhas que não têm jornalistas, ou têm órgãos de comunicação com apenas um membro, que tem de fazer tudo. Em São Miguel, há concelhos em que muitas vezes se passam semanas até haver notícias deles. Obviamente que a liberdade de expressão e de informação também fica em risco porque essas pessoas não têm voz.
Maria Chaves Martins
Licenciada em Direito
No dia 24 de Abril de 1974, Portugal adormeceu numa ditadura, sem saber que acordaria, a 25 de Abril, livre, sob o signo da democracia, naquela que seria uma das transformações de regime mais admiradas da história, devido à pacífica autolibertação de um povo. Fez-se uma mudança de regime político do dia para a noite, sem sangue, e com cravos.
A revolução dos cravos simboliza, na sua essência, a rejeição de um regime autoritário e fechado, substituído por um sistema político aberto, livre e integrado no mundo livre. A ordem política resultante dessa transição constitui a mais duradoura e estável de todas as experiências democráticas de Portugal.
Porém, temos o dever de retroceder na história da história e recordar que o Portugal derrotado no século XIX pelos liberais, continua a existir, à espreita para romper com a democracia. Por isso, temos o dever de proteger a democracia e aquilo que ela nos dá, fazer perdurar este ciclo democrático.
A revolução de Abril sonhou a democracia, e hoje temos democracia, sendo o expoente máximo da sua expressão a liberdade. Democracia sem igualdade e liberdade é farsa.
Hoje somos governados num sistema livre e com ganhos sociais incomparáveis com os de épocas anteriores: mais do dobro do nível de vida; metade da taxa de pobreza; esperança média de vida superior em cerca de dez anos e mortalidade infantil inferior a um décimo da que era então. Mais, as mulheres têm direitos e a imprensa é livre. O que hoje nos parece básico, nem sempre o foi. Por isso, pergunto: quem tem saudades de Salazar?
A filha pródiga de Abril, a Constituição da República Portuguesa – a mãe de todas as leis portuguesas, definiu os pilares organizacionais da sociedade portuguesa, construindo uma sociedade livre, justa e solidária, com margem para progresso e não para retrocesso. Ver o futuro, olhando o passado, para que não se repita.
Ora, volvidos 50 anos de “Abril”, nunca foi tão oportuno falar de Abril e daquilo que nos trouxe: liberdade. Em Portugal, falar “Abril” é falar livremente de liberdade. Não há liberdade na língua de Natália Correia sem Abril, e esta soube-o bem enquanto mulher e poetisa.
Aos dias de hoje temos e somos o produto de uma liberdade que nos foi dada por quem a conquistou: liberdade de escolha, movimento, pensamento e expressão.
Viver Abril é romper com a propaganda da mentira, combater a distorção da verdade enquanto padrão para imposição de uma falsa realidade, aproveitando a ignorância de um povo fragilizado, fruto da subnutrição intelectual a que foi sujeito.
A história tem-nos ensinado que os radicalismos, especialmente, de direita, chegam ao poder pela via democrática, enquanto resultado da escolha popular que foi, sucessivamente, ignorando os sinais de alerta. Uma legitimação popular do exercício «democrático autoritário» que ostraciza a liberdade e é apaixonado pela força.
Sindicar Abril é repudiar autoapregoados messias de origem divina com a única missão de defender ou salvar o que “resta” da democracia.
Não vamos reciclar falácias já experimentadas.
Sempre se dirá que as atuais convulsões sociais são produto da liberdade de Abril, pois tal só é possível devido à liberdade que nos foi dada. Não obstante, a liberdade de Abril é uma oportunidade para sermos melhores. Esta é a visão de Abril.
É obrigação honrar Abril.
“Povo, escuta, jornalistas estão na luta” e “a liberdade não se escreve sem jornalistas” foram algumas das frases que se “gritavam” na concentração, no Jardim Antero de Quental, em Ponta Delgada, em dia de greve geral dos jornalistas: a única nos últimos 40 anos. Na cidade açoriana, 14 de março foi um dia de sol, o que por sua vez contrasta com a “névoa” que paira sobre o setor do jornalismo.
Jornalistas e apoiantes apelavam à atenção da sociedade civil para os baixos salários, precariedade, sobrecarga laboral, horas extraordinárias não remuneradas, entre tantos outros problemas que afetam a classe. De acordo com o sindicato, a crise no jornalismo é um problema de toda a sociedade.
O Diário da Lagoa (DL) esteve a ouvir e a dar voz aos jornalistas presentes na concentração para conhecer os seus problemas e reivindicações.
Marta Silva, presidente da Direção Regional dos Açores do Sindicato dos Jornalistas que discursava na concentração, disse: “As pessoas têm de perceber que a informação só faz sentido se for de qualidade, de confiança e credível, e isso só se consegue com órgãos de comunicação fortes. O problema reside, principalmente, na questão do financiamento.”
“Não faltam razões para fazermos greve,” diz Nuno Martins Neves, que vestia uma t-shirt com um dos motes da greve: “a liberdade não se escreve sem jornalismo.” O jornalista do Açoriano Oriental explicava que “as condições do nosso trabalho têm se deteriorado nos últimos anos e agravaram-se com a inflação, em que, à conta de não termos aumentos salariais, estamos a perder poder de compra”.
O jornalista aponta ainda os casos de profissionais que recebem abaixo do salário mínimo: “temos pessoas com salários muito baixos e sei que nos outros órgãos de comunicação social (OCS) há pessoas a ganhar abaixo do salário mínimo, pessoas com vínculos laborais muito precários, falsos recibos verdes”.
Inês Linhares Dias, da Antena 1 Açores, com a mesma frase ao peito, considera por sua vez que “é preciso que as pessoas percebam que a deterioração da qualidade do jornalismo está também intimamente ligada à deterioração das condições de trabalho e laborais dos jornalistas”. A jovem jornalista defende que “damos vozes a tantas lutas, está na hora de ouvirem a nossa voz também”.
Inês Linhares Dias, que faz também parte da direção regional do Sindicato dos Jornalistas, descreve a situação de muitos profissionais do setor: “sei o que nos passa pela cabeça quando o dinheiro não estica, quando as horas se esgotam no trabalho e sobra muito pouco para o resto, quando nos deitamos na cama a pensar no trabalho e não vemos esse esforço reconhecido. Continuamos a fazer isto por paixão, mas é preciso que seja mais do que isso. É um trabalho que já não compensa há muitos anos, mas é preciso reverter isso”, considera.
À conjuntura dos baixos salários, acrescentam-se as redações depauperadas, o que resulta na sobrecarga dos poucos jornalistas a exercer funções: “estamos com redações muito reduzidas para o que seria necessário para fazermos um trabalho de qualidade, de informar as pessoas,” expõe Nuno Martins Neves, que “todos os dias” se sente sobrecarregado. “Tentamos tocar muitos instrumentos e somos uma banda muito pequena, e, quando assim é, muitas vezes temos de sacrificar muitas coisas. A primeira que sai sacrificada é a família, a segunda é a nossa saúde, seja física ou mental, com as horas extra que trabalhamos e que quase nunca são recompensadas monetariamente. Portanto, claro que me sinto cansado. São situações que não matam à primeira, mas vão moendo”, lamenta o jornalista.
Também Inês Linhares Dias o sente na pele: “como sou jornalista precária, muitas vezes o que acontece é que aqueles horários que outras pessoas não querem fazer – os noturnos, os fins de semana – são os que são feitos pelos jornalistas precários, a quem não é preciso pagar horas extraordinárias e horas noturnas. Por trabalhar à peça, é muito difícil rejeitar um trabalho, sentimo-nos sobrecarregados”.
Ana Paula Santos, jornalista na Antena 1 Açores, trabalha no setor há mais de 30 anos, mas há 15 que não progride na carreira. “Isto é precariedade. Além disso, na maioria dos OCS, o pagamento de horas extraordinárias não existe, os horários são flexíveis sem que isso seja reconhecido do ponto de vista financeiro. Entre os licenciados, os jornalistas são os mais mal pagos. A cada dia que passa, a profissão está cada vez menos aliciante” denuncia, em dia de greve geral.
A profissional compara o passado e o presente do setor e refere que falta tempo para fazer um trabalho de qualidade. “Se não temos tempo para aprofundar as coisas, faz-se uma análise superficial e isso não é jornalismo. Até isto está a retroceder. Também está a retroceder a integração dos novos elementos nas redações. O jornalismo está com uma superficialidade que tem de mudar”, defende Ana Paula Santos.
Mariana Lucas Furtado, jornalista com apenas 23 anos, explica que escolheu a área porque era o que gostava de fazer, apesar de as condições não serem as mais atrativas. “Quando estava a estudar, já sabia que as condições que ia encontrar no mundo de trabalho não seriam as ideais, à partida. Mesmo assim persisti, gosto muito daquilo que faço e não me imagino a fazer outra coisa. Não é isso que está em causa. Só que é certo que trabalhamos muitas horas e não há nada que as compense, que são dedicadas à profissão, em detrimento da família, da vida pessoal e social. É essa a parte mais difícil de conjugar”, conta.
A adesão à greve nos Açores superou as expectativas. Para a concentração no Jardim Antero de Quental,
havia a esperança que aparecessem pelo menos uma dezena de pessoas, mas mais de 70, incluindo jornalistas e apoiantes, juntaram-se ao protesto.
A classe reivindica aumentos salariais em 2024 superiores à inflação acumulada desde 2022; a garantia de um salário digno à entrada na profissão e de progressão regular na carreira; o pagamento de complementos por penosidade, por trabalho por turnos e isenção de horário; a remuneração por horas extraordinárias, trabalho noturno, e em fins de semana e feriados; o fim da precariedade generalizada e fraudulenta no sector; o cumprimento escrupuloso das leis do Código de Trabalho e do Contrato Coletivo de Trabalho; condições humanas e materiais para a produção noticiosa; a revisão das estruturas regulatórias da comunicação social e do jornalismo e a
intervenção do Estado na garantia da sustentabilidade financeira do jornalismo
Cláudia Capelo, 25 anos. Lagoa
Estudante Universitária
Sim considero, uma vez que o jornalismo nos traz com clareza o que se passa no mundo, seja a nível político, social, ambiental, económico, etc… O jornalismo investiga, traz a verdade e acima de tudo é fidedigno, seguindo princípios de ética para que seja dado como um bom jornalismo que vai ao encontro das perspectivas democráticas sem ir contra a mesma. É através do jornalismo que conseguimos reter informação e, não única e exclusivamente, informação que seja “conveniente” a terceiros, pois o jornalismo tende a ser independente. Muitas das informações que nos são dadas chegam através do jornalismo e, caso não fossem publicadas, certamente, não seriam públicas. Portanto, o jornalismo é uma peça fundamental para a sociedade.
André Pacheco, 23 anos. Ribeira Grande
Gestor de Tecnologias de Informação
Considero o jornalismo, no seu conceito, importante para a democracia pela sua capacidade de manter a imparcialidade e o foco na partilha de informação correta e equilibrada. Acredito que o jornalismo é fundamental para informar o público de forma objetiva, contribuindo para um debate democrático saudável e para a tomada de decisões informadas pelos cidadãos. Vejo a imparcialidade e a objetividade como pilares centrais do jornalismo, indispensáveis para a preservação da integridade democrática.
Filipa Silveira, 21 anos. Ponta Delgada
Estudante Universitária
O jornalismo desempenha um papel fundamental no que concerne ao suporte de uma democracia. Por um lado, este torna-se um dos maiores meios de divulgação e exposição de informação, permitindo uma consciencialização da sociedade, através da partilha de factos relacionados com questões políticas, sociais e económicas. Por outro lado, contribui para o aumento da literacia nesta área ao analisar detalhadamente e transmitir assuntos complexos, fornecendo todo um contexto histórico-social abrangente. Para além disso, num contexto democrático, onde o cidadão exerce um papel ativo e é responsável por várias decisões políticas, o jornalismo não só amplia o conhecimento, como também transpõe diversas perspetivas que são essenciais para uma tomada de decisão informada e responsável. É também de realçar o papel crucial do jornalismo na promoção do envolvimento da sociedade, incluindo a promoção do direito ao voto e a diminuição da taxa de abstenção.
Diogo Ferreira, 32 anos. Vila Franca do Campo
Condutor de pesados e mercadorias
O jornalismo tem como base na sociedade dar a conhecer os acontecimentos da atualidade, na democracia, para além deste papel, representa uma forma de auxílio às escolhas de ideologias e de intenção de voto aquando de épocas eleitorais. Através do jornalismo é dado a conhecer não só os programas eleitorais mas também o que a sociedade pensa sobre os mesmos, o jornalismo é a base pura da nossa democracia e da nossa liberdade de expressão. O jornalismo é, na minha opinião, um dos fatores de maior peso na hora de escolher que rumo devemos tomar nas escolhas da nossa sociedade.