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Santa Clara admite dificuldades mas mostra-se confiante no futuro e não descarta investimento na Lagoa

O Diário da Lagoa em exclusivo falou com o presidente do clube, Ricardo Pacheco, o presidente da SAD, Bruno Vicintin e Klauss Câmara, diretor desportivo. Uma conversa conjunta sobre o passado, o presente e o futuro o clube açoriano que deixou a Primeira Liga depois de se manter nela durante cinco anos

Ricardo Pacheco (à esq.) é presidente do clube, Bruno Vicintin (ao meio) é presidente da SAD e Klauss Câmara (à dir.) é o diretor desportivo © DL

DL: A possibilidade do estádio de São Miguel receber a Final Four não obriga a que se façam melhorias nas infraestruturas?
Bruno Vicintin: É um bom estádio. A gente acredita que precisa de melhorias para receber o evento. Para podermos jogar na Liga já tivemos que fazer uma série de melhorias no relvado, em parceria com o Governo. Mas acho que a principal melhoria que temos de fazer é trazer mais pessoas ao estádio. Num estádio onde cabem 10 mil pessoas, geralmente temos cerca de 2.500 a 3.000, pelo menos nos jogos contra os grandes. Seria uma arma muito grande ter aquele estádio cheio.
Ricardo Pacheco: Há um compromisso que é público, assumido pelo senhor presidente do Governo regional e pelo presidente da Liga quanto à realização da Final Four nos próximos três a quatro anos. Efetivamente são necessárias melhorias e isso está a ser estudado. Creio que entre a Liga e o nosso Governo regional dos Açores e, por isso, terão que ser feitas. O estádio de São Miguel prestou um serviço fantástico na história dos Açores, é uma obra fantástica mas a verdade é que hoje está muito desatualizado. 

DL: A SAD sentiu essa necessidade de investir nas melhorias do relvado?
Klauss Câmara: É um pré-requisito básico para o jogo. O relvado é uma condição extremamente necessária para podermos trabalhar.

DL: Influencia a condição dos atletas?
Klauss Câmara: Exatamente, para evitar lesões. A gente teve uma estatística e índice de lesão posterior aos treinos que ocorriam nas Laranjeiras – que era um piso mais duro e com uma atividade de alta intensidade, muita demanda física dos jogadores num piso e terreno que não é apropriado. Então tivemos muitas lesões em alguns jogadores. E com o investimento e participação nossa melhoramos as condições de treino e de trabalho também.

DL: Em tempos falou-se na possibilidade de construção de um centro de treino no Tecnoparque, na Lagoa. Em que ponto está esta hipótese?
Bruno Vicintin: Fomos muito bem recebidos na Lagoa. A gente até brinca que tinha um lobbie do Clemente muito grande para levar o centro de treinamento para a Lagoa. Mas o maior problema do Tecnoparque é que o terreno era muito bom, mas era pequeno. Caberia dois campos, mas hoje precisamos de um centro de treinamento em que caiba no mínimo quatro campos: três relvados e um sintético. A gente ainda não decidiu onde será feito o centro de treinamento, mas já decidimos que vai ser feito e temos uma ideia básica. Não está descartada a possibilidade de ser na Lagoa, porém no terreno que nos foi apresentado não cabe os quatro campos.

DL: Teria de haver uma nova proposta com outra dimensão para que isso acontecesse?
Bruno Vicintin: Isso, seria basicamente isso.

DL: Esse centro de estágio seria importante, por exemplo, para a formação de atletas?
Bruno Vicintin: Todos os clubes e SADs só cresceram investindo em formação e em centros de estágio. O campo sintético seria para o clube utilizar para a formação. Isso também aliviaria as instalações do Governo que o Santa Clara usa.

DL: Já se falou também na criação de uma equipa de sub-23. É para avançar?
Bruno Vicintin: Candidatamo-nos e estamos aguardando o convite da Federação. Colocamos o Estádio de São Miguel como estádio para jogar. Então achamos que é muito importante para a formação de futebol nos Açores ter esses sub-23. Estamos a ter muito apoio do presidente da Associação de Ponta Delgada mas dependemos da decisão da Federação.

DL: O jogador Luís Rocha. Está confirmado ou não?
Bruno Vicintin: A gente só confirma jogadores depois de assinarem. Mas claro que já estamos a mexer no mercado para ter uma parada melhor do que aquela que tivemos esta época.

DL: Em retrospetiva, o que podem comentar sobre esta época?
Bruno Vicintin: Foi uma época muito difícil e de transição em que não esperávamos essa dificuldade toda. Infelizmente pela demora em finalizar a negociação da SAD, quando a gente assumiu tivemos que montar uma equipa mais de cinquenta por cento nova. No final de janeiro acreditávamos que íamos conseguir, porém demorou muito mais do que imaginamos e aí se cavou um buraco que é muito difícil de sair. Foi uma época dececionante. Mas a gente espera que na próxima tenhamos mais resultados positivos.
Ricardo Pacheco: acima de tudo eu acho que o que tem que ser dito é que é um projeto que não é a curto prazo, mas sim a longo prazo. E nada é feito com sucesso que não tenha sustentabilidade, estratégia e trabalho. A sustentabilidade é pública, ela existe. A estratégia passa efetivamente por dotar o Santa Clara Açores de infraestruturas que permitam que a equipa cresça de forma sustentada. O Santa Clara cresceu muito e conseguiu bons resultados desportivos nos últimos anos, mas chega a uma altura em que é preciso preparar o futuro. A intenção do novo acionista e do Conselho de administração da SAD é efetivamente quer com a equipa de sub-23, quer com a equipa dos sub-19 que cresça e se crie a sustentabilidade que nos permita voltar rapidamente à Primeira Liga.

DL: O mercado brasileiro. É uma aposta para continuar ou não?
Bruno Vicintin: naquele momento que a gente assumiu o Santa Clara, o único mercado em que tínhamos força e do qual conseguimos trazer jogadores era o mercado brasileiro. No ano que vem pensamos montar uma equipa com experiência na Liga 2. Agora temos uma janela toda para trabalhar em que vamos nos concentrar em jogadores com mais experiência. Mas mesmo antes de mim, todas as equipas das ilhas têm uma tradição de jogadores brasileiros. É um mercado em que não só o Santa Clara como também o Marítimo, o Nacional, sempre atacaram muito bem.
Ricardo Pacheco: Também é importante dizer-se que quando o novo acionista entrou no Santa Clara, estávamos em finais de julho. A janela de transferência europeia estava fechada e os melhores atletas estavam todos colocados. Cerca de 12 ou 13 jogadores titulares tinham saído. Houve mudanças muito profundas. Também é injusto que muitas vezes se critique o jogador brasileiro. O Santa Clara já teve outras épocas com o mesmo número de atletas brasileiros no plantel que tem hoje. E, depois, todos nós sabemos que geralmente as estrelas do Santa Clara Açores até são jogadores brasileiros. Há certamente lacunas que vão ser preenchidas, agora acho que toda a gente reconhece que alguns dos jogadores que chegaram a começar pelo nosso guarda-redes, acolhem uma simpatia generalizada.

DL: Têm definido um prazo para fazerem investimentos no clube?
Bruno Vicintin: Não, a gente faz um planejamento anual. O que posso falar é que a gente fez um planejamento de investimento em formação e no centro de treinamento. Até porque a gente vem quitando um valor alto de endividamento antigo do clube. Com a queda para a Liga 2, pior ainda, porque diminui muito a quota de televisão, então tem que se aportar mais dinheiro para se continuar, porém, o endividamento da SAD já diminuiu bastante com o que foi pago este ano. Foram pagas dívidas de quatro a cinco anos atrás que vinham se arrastando.

DL: Quanto à marca Açores. Temem que a verba seja reduzida?
Ricardo Pacheco: Muito sinceramente eu creio que essa questão não se coloca. É público que a instituição açoriana mais representativa e mais conhecida fora dos Açores é a Santa Clara Açores. Isto é público, nem vale a pena sequer contestar isso. Depois o objetivo é crescer e voltar rapidamente à Primeira Liga. Portanto, não nos parece, de maneira nenhuma, que isso vá acontecer porque o Santa Clara projeta os Açores no mundo mais do que todas as empresas e instituições açorianas juntas. Há estudos sobre isso, o Santa Clara nos cofres da região deixa anualmente cerca de dois milhões e meio de euros em impostos. É talvez a empresa açoriana que mais deixa em impostos e em visibilidade aos Açores do que qualquer outra instituição que também é apoiada. Seria um erro crasso se isso acontecesse. É preciso não esquecer que a seguir ao turismo, o futebol em Portugal é uma das atividades económicas que mais impostos geram. O Santa Clara enche hotéis ao longo do ano. Ainda no jogo com o Benfica vieram duas mil pessoas, seja da diáspora, seja de todas as restantes ilhas dos Açores, para além de Portugal continental.

DL: Quando é que vamos ter um novo Clemente no Santa Clara?
Bruno Vicintin: A gente tem que desenvolver o jogador açoriano. Isso é um projeto que vem de base e que demanda muitos anos. Hoje se vem formando jogadores açorianos só que invariavelmente eles têm que sair dos Açores porque a insularidade já é uma dificuldade grande. O jogador para evoluir tem que ter competição. Hoje temos uma promessa no Santa Clara que é o João Afonso, o guarda-redes da seleção portuguesa. Para a gente desenvolver esse talento colocamos ele já com 15 anos para treinar com os seniores. A intenção é ter vários, mas esse trabalho é de longo prazo. Não adianta prometer que isso vai acontecer em um ano, porque demanda estrutura e que as equipes estejam em competições nacionais. 

DL: Rui Cordeiro deu uma entrevista ao Açoriano Oriental onde disse que o “Azores Parque serviu para forçar a minha saída do Santa Clara”. Querem comentar?
Ricardo Pacheco: O processo do Azores Parque é público, é um processo que se encontra a decorrer na barra dos tribunais e, portanto, nós não vamos comentar assuntos de natureza jurídica, isso compete aos tribunais. Agora, uma coisa é certa, o Santa Clara definiu a sua estratégia, os seus objetivos, está a trabalhar. Como disse o presidente da SAD, e eu confirmo porque também faço parte da SAD, nós conseguimos pagar alguns milhões de euros de dívidas passadas, algumas das quais de longos anos para trás para cá. Portanto, estamos a trabalhar todos por um Santa Clara melhor. Quanto à entrevista do Dr. Rui, quando diz que todos devem apoiar o clube, nisso tem inteira razão porque como maior instituição açoriana deve ser apoiada.

DL: O Santa Clara vai aos Estados Unidos em junho?
Ricardo Pacheco: O Santa Clara, com orgulho, vai estar no maior evento do mundo de música portuguesa que vai decorrer em Providence, nos Estados Unidos da América. Com uma audiência de dois milhões de pessoas. O clube foi convidado para entregar o prémio ao fadista revelação do ano. Pela primeira vez um clube nacional vai conseguir participar num evento desta natureza, o que mais uma vez vem demonstrar que para escolherem o Santa Clara para entregar este prémio e associar o futebol ao que de melhor na música se faz em língua portuguesa em todo o planeta, só vem revelar a dimensão e prestígio que o Santa Clara possui. Devo, ainda, acrescentar que no próximo dia 27 de junho, nós, Santa Clara, vamos ser condecorados pela Assembleia regional dos Açores, o que também para nós é um orgulho.

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Clife BotelhoDirector

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