No início do mês de agosto, decorreram trabalhos de prospeção às falésias costeiras da Ilha do Corvo, arquipélago dos Açores, realizados pelos técnicos da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Carlos Silva e Tânia Pipa e pelo investigador da Universidade Técnica de Munique (Alemanha), Prof. Dr. Hanno Schaefer. O resultado levou à redescoberta de uma das plantas endémicas mais raras dos Açores e do Mundo – a “Não-me-esqueças” (Myosotis azorica).
Esta planta foi descrita pelo britânico H. C. Watson, em 1842, sendo a sua distribuição mais recente restrita às ilhas das Flores e do Corvo. No entanto, esta pequena planta, com uma flor de um intenso azul-marinho foi vista pela última vez na ilha das Flores em 2001, pelo investigador Hanno Schaefer, e na ilha do Corvo em 2012 foram detetadas apenas 5 plantas numa falésia que posteriormente ficou destruída por um movimento de terras, suspeitando-se que a espécie poderia estar perdida ou extinta.
De 2009 a 2012, houve várias tentativas infrutíferas para a localização de plantas desta espécie no âmbito do projeto LIFE “Ilhas Santuário para as Aves Marinhas” *.
Segundo o técnico da SPEA, Carlos Silva, “embora a maioria da vegetação endémica da ilha do Corvo tenha sido cortada ao longo dos séculos pela necessidade de sobrevivência dos habitantes, há ainda vestígios de endemismos que necessitam de ser recuperados para evitar a sua extinção, dos quais se destacam a Não-me-esqueças e a Veronica dabney, que valorizam muito mais a ilha como Reserva da Biosfera da Unesco”.
Ainda de acordo com este técnico “os esforços destes quatro dias de expedição levaram à redescoberta da “Não-me-esqueças”, com uma população estimada em 50 plantas com flor e com produção de sementes, dando-nos a esperança que este tesouro único sobreviverá nas próximas gerações”.
Segundo o investigador Hanno Schafeer, “A grande ameaça para a sua sobrevivência, e para outras plantas e aves costeiras, é a elevada pressão de pastoreio das 245 cabras e ovelhas selvagens que habitam as encostas do Corvo e onde se localizam as maiores falésias do Atlântico Norte. A “Não-me-esqueças” só está fora do alcance destes herbívoros nas falésias mais declivosas e inacessíveis, que infelizmente são muito instáveis e colapsam, podendo levar ao desaparecimento desta rara planta.
A SPEA, em colaboração com o Parque Natural de Ilha do Corvo e a Universidade Técnica de Munique estão a unir esforços para definir o plano de ação para a espécie Myosotis azorica e esperam conseguir aumentar, por produção em viveiro, o número de indivíduos desta espécie extremamente ameaçada, para que num futuro próximo, todos os visitantes e habitantes do Corvo possam desfrutar da beleza desta planta e para que se faça jus ao seu nome e este não fique no esquecimento. Apesar de a nível mundial esta espécie estar listada com o estatuto de Vulnerável a situação da espécie é bastante preocupante.
DL/SPEA
Os leitores são a força do nosso jornal
Subscreva, apoie o Diário da Lagoa. Ao valorizar o nosso trabalho está a ajudar-nos a marcar a diferença, através do jornalismo de proximidade. Assim levamos até si as notícias que contam.
Leave a Reply