Rita de Sousa Pereira

Poderá o ser humano aguentar tanta desgraça? Esta é uma questão atual sobre a qual me tenho debruçado, especialmente pertinente para aqueles que ainda têm esperança, que ainda querem lutar por um futuro melhor, justo, igualitário, e que ainda se movimentam pela vida com olhos empáticos.

A globalização veio trazer uma maior conectividade e o maior consumo de informação, com mais notícias, com mais regularidade e amplitude. A constante produção de notícias e a rapidez com que chegam até nós faz parecer que nunca existiram tantas desgraças como hoje. Não sendo isto verdade, o que difere os dias de hoje de outros tempos longínquos é o acesso e a consequente lucratividade que a informação em massa e em tempo real produz. As desgraças, como escolhi chamar acontecimentos negativos, pessimistas, de mau presságio, sempre aconteceram, hoje temos apenas mais acesso a estas, consequência dum mundo globalizado ligado pela internet.

Viver nunca foi tão desgastante para aqueles que ainda ousam sentir. A atual conjuntura socioeconómica e bélica do mundo assusta, produz um clima de incerteza, medo e impotência. Como lidamos com notícias que não podemos mudar? Como ajudamos o outro sem termos poder? Como afirmamos aos outros o que é correto aos nossos olhos?

A inflação não apresenta sinais de abrandamento, o preço dos bens essenciais sobe, a fome e a pobreza energética aumentam, os conflitos e a polarização política assustam, os empregos são escassos, o salário mínimo e médio não esticam, os vírus continuam a não dar tréguas, as urgências estão cheias, as intempéries não sossegam, deixam mortos e destruição, assim como as mudanças climáticas, a criminalidade está em pico, as pessoas endoidecem e agridem, matam, violam.

Não há tempo para enfrentar todas estas lutas, acaba uma, começa outra. Quanto mais aguenta o ser humano? Será o novo normal um permanente estado de luta? Estamos a viver ou apenas a perambular entre desgraças?

As minhas crónicas são marcadas por várias interrogações, mas esta talvez seja a que mais questões coloco, à semelhança das incertezas do mundo. Pesquisei no Google o antónimo de desgraça, eis o resultado: “êxito, milagre, sucesso, sorte, rosa, felicidade, fortuna”. Estar informado é fundamental, havendo assuntos incontornáveis com os quais temos de lidar, mas proponho, e faço um voto pessoal, que tentemos olhar o mundo, seguir plataformas e pessoas que promovam o “êxito, milagre, sucesso, sorte, rosa, felicidade, fortuna”.