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Destino Açores: Um posicionamento para além da natureza?

Rita de Sousa Pereira

Finda mais uma “época alta”, é hora de olharmos para o setor do turismo, avaliarmos o seu desempenho e prepararmos o próximo ano. Nestes últimos meses, contemplamos uma atividade a todo o vapor, sem restrições pós-pandemia e com recordes de proveitos e de dormidas. Não obstante a este sucesso quantitativo, todos os anos a seguinte questão deverá persistir: Que turismo queremos para os Açores?

Notícias da última semana referem a prossecução da integração da região na Rede de Turismo Industrial de Portugal pela Secretaria Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas que, diga-se de passagem, nos últimos tempos tem gerido o setor com competência e ultrapassado grandes desafios. A integração das indústrias na oferta do destino e a valorização destas através do turismo, fez-me levantar a seguinte questão: Existe destino Açores para além da natureza? A resposta é óbvia, pelo menos para nós, mas o que vê o mundo quando pensa no nosso destino?

O posicionamento da região foca maioritariamente na natureza sustentável, nos atrativos geológicos e paisagísticos. Para que os Açores se destaquem e, enfim, captem o segmento desejado, este posicionamento bastará? A divulgação do destino tem sido um ponto nevrálgico nos últimos anos, fruto também da instabilidade da entidade a cargo da mesma. Com a mudança de direção, extensas investigações criminais sobre a antiga e a integração de novo da ATA na esfera pública, num período de oscilações, vários representantes da indústria não deixam de demonstrar a sua preocupação com a devida promoção do destino. Não basta gerir internamente, é fundamental sabermos comunicar com o exterior.

No último ano, um novo posicionamento, diria até slogan, intriga-me: “Os Açores são o Havai da Europa”. Embora não seja oficial, esta expressão associada ao destino tem ganho destaque nas redes sociais e publicações dos media, especialmente em pequenos vídeos desenvolvidos por turistas e locais que obtêm milhares de visualizações e são amplamente divulgados. É um erro.

Para que o destino possa competir nos mercados estratégicos e apresentar fatores de diferenciação, associar a região a outra, já saturada e massificada, retira a tão desejada promoção de singularidade e exclusividade dos Açores. Transformamos o posicionamento do destino como dependente da imagem de outro, sem imagem única que se sustenta pela sua própria notoriedade, mas que almeja repetir e transfigurar uma ideia geral sobre o Havai – a natureza. É um erro.

Os Açores são mais do que a sua natureza e, se quisermos pensar na sustentabilidade do destino para além dos recursos naturais, a melhor forma de juntarmos a necessidade de desenvolvimento de oferta única e autêntica com a proteção destes recursos é a reunião de esforços para um novo posicionamento. A aposta na integração dos Açores na Rota de Turismo Industrial de Portugal é um passo positivo nesta direção.

Nichos como o turismo industrial, o turismo criativo, o agroturismo, o turismo de saúde e bem-estar, o turismo militar, o turismo gastronómico, entre outros, agregam a esta oferta paisagística e posicionam o destino para além dos recursos tangíveis naturais. Os Açores são um destino paradisíaco, único, terra mística de aventura, mas também são uma região de importância histórica, cultural, com museus e indústrias vivas que, trabalhadas de forma criativa e inovadora, podem transformar como estes são vistos pelo exterior. Antes da divulgação, o apoio ao desenvolvimento de novos projetos e iniciativas que alavanquem estes vários nichos é necessário.

Sobre o destino Açores, os segmentos estratégicos deverão sim captar que não existe mais lugar no mundo onde podemos ter estas experiências, nem no Havai! Os Açores, são os Açores do Atlântico!