André Silveira
Empresário
O descalabro da SATA. Se excluirmos a despesa descontrolada do SRS, não existe assunto mais relevante para os Açores. O seu impacto apresenta já consequências reais nas contas regionais, que se agravarão no futuro como um impedimento financeiro ao nosso desenvolvimento. É certo que aos Açorianos interessa-lhes mais se têm ou não avião, de preferência na sua ilha, à hora que querem e que demore a chegar à metrópole em menos de 15 minutos. Não sendo para já possível, entretêm-se reivindicando absurdidades que não têm par em lugar nenhum do mundo. Exemplo prático: A recente rota, Ponta Delgada – Las Palmas, operada pela companhia aérea canarina Binter, dificilmente permite que se chegue a outra ilha no mesmo dia, apesar de também terem um sistema de reencaminhamentos, como existia nos Açores. Convenhamos que os canarinos sabem uma coisa ou duas sobre turismo, e a sua companhia aérea regional, 100% privada, apresenta uma performance bem positiva consistentemente ao longo dos anos. Mas nos Açores não pode ser. O fim dos encaminhamentos gratuitos nos Açores foi um erro, deixando as ilhas sem HUB mais afastadas e com menos competitividade. Era caro, mas antes mil vezes isso a ter que sustentar a SATA mais tempo através do orçamento regional.
A aérea regional dos Açores revelou através de um lacónico e pouco festivo comunicado os grandes números das suas contas de 2022. A expectativa era grande, dado o clamor de glória que acompanhou a fuga de Luís Rodrigues para a TAP. Ainda mais quando a sua parente mais velha lá do rectângulo apresentou resultados fantásticos, antecipando em vários anos o previsto no seu plano de reestruturação, sabendo-se porém muito devido a pesados cortes salariais que não aconteceram na SATA. Essa foi a opção política regional, dado o pavor que o poder tem da abertura da panela de pressão que é o microcosmos laboral da SATA, com as suas mordomias e (alguns poucos) salários dourados.
Os números são claros: Prejuízos em ambas as empresas de aviação apesar do melhor ano de sempre em vendas, resultado do forte crescimento do turismo nos Açores. Verdade que pela primeira vez em muito tempo apresentaram resultados operacionais positivos, magros porém para suportar a dívida gigante acumulada no passado, e que se mantém a crescer. A propaganda da empresa bem tentou dourar a evidência mais importante de que é praticamente impossível recuperar do desaire que herdamos do tempo da (i)responsabilidade de Vasco Cordeiro, mas que, diga-se, este governo ainda não conseguiu inverter. Não deixa de ser irónico que, esse forte crescimento do turismo foi atrasado muitos anos precisamente como protecionismo da própria SATA, sendo agora a sua boia da salvação. Mas essa é outra história onde o líder regional do PS também terá contas a acertar.
A primeira explicação para tão fraca performance apresentada pela administração é a ilusão do custo dos combustíveis. De facto, o preço do jet fuel teve um aumento significativo durante o ano 2022 decorrente dos constrangimentos resultantes da guerra na Ucrânia, mas também é facto que tal efeito só teve impacto a partir do final do primeiro trimestre e que esse preço veio a cair ao longo de todo o ano. É por demais evidente que o forte aumento dos custos com combustível é também explicável com o forte aumento da atividade. Voaram mais, gastaram mais. Seria bom que a administração explicasse qual a parte do custo decorre do aumento do preço do jet fuel, e que parte deriva de terem voado muito mais do que em 2021.
Depois, seria bom entendermos o ticket médio nas rotas subsidiadas pelo estado. Muito em particular das rotas que ligam Ponta Delgada e Terceira ao continente. Qualquer Açoriano sabe muito bem que, apesar de ser reembolsado, tem de pagar preços astronómicos por uma passagem para o continente. A diferença entre o reembolso e esse preço terá certamente um impacto importante nas contas da SATA, que, mesmo assim, apresenta resultados negativos apesar de mais este financiamento do estado.
Finalmente, seria bom que o governo explicasse como irá financiar a empresa daqui em diante, e desenganem-se se acham que não será necessário injetar dinheiro na SATA no curto prazo. É muito provável que assim seja já no ano de 2023. Importa saber como o farão, dado que estão impedidos pela Comissão Europeia no âmbito da aprovação do plano de reestruturação. O actual Secretário Regional das Finanças tudo tem feio para recuperar os dois anos perdidos pelo seu antecessor, mas esperar uma privatização em tempo útil, dentro do que foi definido como caderno de encargos e sem mais dinheiro público na companhia, só mesmo com um milagre, e os Açores bem que precisam de um milagre para lá da adoração de CEO’s impostos por partidos, que usam a nossa terra para dar o salto daqui para fora à primeira oportunidade. Se o conseguir, merecerá a reverência dos Açorianos.
O alívio (tristemente) cómico disto tudo, são as lágrimas de preocupação com a fraca performance da SATA por parte do PS Açores de Vasco Cordeiro,. Durante o anterior governo nunca apresentaram resultados positivos, deu-se o grande negócio do cachalote milionário e o desfile de CEO’s. Mesmo como secretário regional da tutela, Vasco Cordeiro conseguiu apresentar resultados consolidados positivos em três anos, 2009, 2011 e 2012, mas que juntos não somaram 1.5 milhões de euros, em contrapartida só em 2013 conseguiu a proeza de um prejuízo consolidado de 32 milhões de euros. Depois veio o Dr. Parreirão e o resto é história. Vasco Cordeiro deveria ter alguma cerimónia em não se envergonhar falando da SATA, como também, os que no parlamento regional durante mais de uma década apoiaram sem reserva a gestão da aérea regional, com os resultados catastróficos que se conhecem. Os Açores merecem mais e melhor.
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