Diana Cabral Botelho
Advogada
Na sequência das polémicas eleições legislativas regionais do passado dia 25 de Outubro de 2020, onde vimos não só o Partido Socialista perder a maioria absoluta na região, como outras forças políticas ganharem força, muitas ilações há a retirar deste exercício eleitoral.
Em primeiro lugar, há que questionar – o quão forte era o desejo de mudança dos açorianos, quando em oito das nove ilhas dos Açores, o Partido Socialista continuou a obter a maioria dos votos? Em segundo – o que faremos com um cenário de representação na Assembleia Legislativa Regional tão fragmentado?
De facto, pela primeira vez, não podemos classificar a Assembleia Legislativa Regional como sendo maioritariamente socialista, ou maioritariamente social democrata, assistimos a uma retirada de poder às duas principais forças políticas no panorama açoriano e a um aumento da representação dos “pequenos partidos”. E esta é talvez a melhor notícia deste sufrágio. A pluralidade sempre fomentará a democracia e fará com que esta evolua.
Mas questiona-se: a que custo?
Será aceitável para a nossa democracia a realização de acordo com um partido que, mais do que de extrema-direita, é um atentado aos mais elementares princípios do nosso tão aclamado Estado de Direito Democrático? Terá sido essa a vontade do eleitorado, que lhes atribuiu 5260 votos de 104 009*?
Parece-nos claro que a resposta é negativa e, acima de tudo, que assusta.
Com efeito, é possível constatar com franqueza que não teve o eleitorado como objetivo colocar um partido com os ideais perfilhados por outras personalidades polémicas a nível nacional, infiltrado num governo regional (i) com o qual nunca concordou, (ii) onde não pretende apresentar qualquer medida concreta e (iii) sob um plano político repleto de ideais, per si, anti democráticos.
E a social-democracia tentar justificar um acordo com este partido tendo por base a “estabilidade política”, parece-nos não só bastante duvidoso, como verdadeiramente vexatório para os próprios ideais sociais democratas, razão pela qual não surpreende o surgimento de tantas vozes dissidentes, numa estrutura partidária que se quer coesa.
Os Açores que eu conheço, não se subjugam a vontades políticas externas, nem a manobras fáceis e tão usuais da política dos nossos tempos. Mas o facto, é que o fizeram. E que as ilhas que tanto tinham de nossas, funcionaram com esta geringonça à direita como uma plataforma de lançamento para que outros, noutras instâncias, possam fazer crescer a sua influência.
E isso, assusta.
Caso dúvidas houvessem da razão pela qual os jovens cada vez menos acreditam no poder político e nas suas instituições, este exercício democrático deixou-o a nu – porque independentemente do seu voto, o resultado final é o mesmo: uma série de jogadas obscuras que, no final do dia, servem para dar protagonismo não ao “sangue novo”, mas aos mesmos peões que circulam há décadas no nosso panorama político.
À esquerda, ou à direita, espero ansiosamente pelo dia em que a liberdade, a justiça e a razão estejam verdadeiramente acesas no alto clarão da bandeira que nos guia.
Até lá, esperemos pelo melhor.
*1 Dados retirados da aplicação oficial de resultados das Eleições dos Açores.
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