No início do século XX, Portugal era então governado oligarquicamente por uma classe de burgueses ricos, ligados ao grande comércio, à propriedade fundiária e à banca que apoiava a monarquia e a Igreja como símbolos de ordem e da conservação dos seus privilégios e lucros. O país era essencialmente rural, maioritariamente analfabeto e com uma economia dependente do exterior, em matéria de abastecimentos alimentares, como os cereais e de recursos energéticos, como o carvão.
Os Açores, localizados no meio do Atlântico, não ficaram indiferentes à conjuntura nacional e internacional e os problemas da região eram semelhantes às demais zonas do país. O arquipélago dos Açores, pela sua localização geográfica privilegiada no Atlântico Norte, determinado pelas condições da natureza, do regime dos ventos e das correntes, bem como pelo seu caráter de navegação, transformou as ilhas em escala quase indispensável das rotas de todas as épocas. A atividade comercial no arquipélago teve um peso pouco significativo na sua vida económica. Em 1911, cerca de 4% da população ativa ocupava-se no comércio e, de acordo com os dados recolhidos nos Censos em 1930, chegava apenas aos 5%. Antes da Primeira Guerra Mundial, as principais exportações para Portugal Continental eram o milho, o gado bovino, os lacticínios, o ananás e o álcool desnaturado. Durante o período da guerra, foram escoados produtos, até então proibidos, devido à falta de alguns géneros em Portugal Continental e à subida de preços. O maior problema surgiu na exploração do milho já que a área semeada foi reduzida e com os entraves à exportação, aumentou o açambarcamento e o contrabando.
O Concelho da Lagoa tendo ligação ao mar são vários os exemplos do comércio e das relações comerciais no arquipélago, com o arquipélago da Madeira, com Portugal Continental e com países estrangeiros das duas margens do Atlântico.
Eram vários os produtos saídos do concelho, como: batatas, beterraba, chicória, álcool, aguardente, vinho e seus derivados, cereais, legumes verdes e secos, ovos, aves e animais, peixe fresco e salgado, frutas, banha de porco, chouriça, torresmos, carne esquartejada, linhas, madeira, barro e cal. Em relação ao comércio interno, não existem grandes estudos que permitam avaliar o volume de trocas existentes na região. Alguns dos produtos que eram vendidos localmente eram ovos, queijos, ananases, cebolas, trigo, animais vivos ou limpos. Os vendedores ambulantes transacionavam peixe fresco e salgado, fazendas, rendas, loiça branca ou em barro, galinhas e ovos, trempes, peneiras, grelhas e ferragens de pequena importância, de confeitos e amêndoas, bem como farinha de trigo ou de milho.
Um grande benefício era a existência do Porto dos Carneiros, pois várias vezes dele partiam produtos locais ou vindos da Ribeira Grande. A propósito de obras do cais do referido porto, surgiu uma discussão, na Junta Geral, onde foi apresentado o argumento de que por tal motivo se exportava tudo por terra, porque o mar havia levado as escadas e quase todo o lajeamento e cantarias da sua construção e as restantes continuavam a ser arrombadas por quem dela precisava. As obras de recuperação daquele espaço eram necessárias para evitar que os povos da vila fossem obrigados a fazer as suas exportações e importações todas por terra, com grande aumento de despesas, que poderiam ser evitadas.
O comércio, embora não fosse a principal atividade económica que ocupava a mão-de-obra lagoense, permitia uma relação com outros espaços económicos, zonas de abastecimento, locais de escoamento e áreas comerciais à escala mundial.
Sandra Monteiro
CHAM – FCSH/NOVA-UAc
Os leitores são a força do nosso jornal
Subscreva, apoie o Diário da Lagoa. Ao valorizar o nosso trabalho está a ajudar-nos a marcar a diferença, através do jornalismo de proximidade. Assim levamos até si as notícias que contam.
Leave a Reply