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Da sala de família na Lagoa para rádio e televisão açoriana

É uma das vozes e caras mais conhecidas dos açorianos nascida e criada na Lagoa. Graça Moniz faz uma viagem pelo seu percurso numa conversa informal com o Diário da Lagoa

Graça Moniz está ligada à comunicação social desde 1990 © SARA SOUSA OLIVEIRA/ DL

Nasceu numa sexta-feira, em janeiro de 1970, numa casa com o número de porta que ainda recorda, o 34, na Lagoa. Estudou na Universidade dos Açores para exercer a profissão de professora do primeiro ciclo mas foi a sua colaboração na comunicação social que a trouxe à casa de muitos açorianos. Há cerca de sete anos tirou uma licença sem vencimento para se dedicar a tempo inteiro à rádio e à televisão açoriana. Vive atualmente na ilha do Faial mas sempre que vem a São Miguel fica na terra que a viu nascer, a Lagoa. É como radialista e a fazer reportagens na área do entretenimento tanto para televisão como para a rádio que tem dedicado os últimos anos.

DL: Como foi parar à comunicação social?
Desde pequenina que sempre gostei de brincar às rádios. Acho que o meu estágio foi feito na sala de família a brincar com o gira discos, a falar ao microfone, a gravar cassetes para enviar aos meus primos e tios no Canadá. Já estava a fazer rádio sem saber. Estamos a falar de quando era criança, antes de ir para a escola. Não tive jardim de infância, tive muito tempo para brincar, para falar sozinha e para olhar para o espelho. Tenho de agradecer muito à criança que fui, acho que veio com uma intuição e com uma força muito especial. Eu pegava nos LPs e cantava juntamente com os artistas, isso era um exercício incrível. 

DL: A comunicadora já estava em si?
Acredito que sim. Eu lembro-me de cantarolar o Vinho Verde e do meu avô passar para a pauta aquela melodia. Ele [António Moniz Barreto] era maestro e compositor popular. E isso já era festa, espetáculo, alegria. Lembro-me disso com muito carinho. Toda a minha família estava ligada à revista “Coisas da Lagoa” que percorreu muitos palcos em São Miguel e que foi um estrondoso sucesso na altura, em que o meu avô era quem dirigia a orquestra e fazia as melodias. O meu pai tocava, o meu irmão mais velho fazia de ponto, o meu irmão do meio ajudava nos bastidores e em tudo e mais alguma coisa. Eu acompanhei muitas subidas a palcos. E dei por mim a fazer as falas, pois sabia as letras. E cheguei a apresentar a revista aos meus avós, ao meu avô paterno e à minha avó paterna. Eles sentavam-se no sofá da sala, eu saia de trás de uma das cortinas e eles batiam palmas.

DL: Como chega à rádio?
Tirei o curso de professora do primeiro ciclo na Universidade dos Açores e foi a propósito de um trabalho que tínhamos de apresentar que fui até à rádio Atlântida, em 1990. Coloquei o pé pela primeira vez num estúdio de rádio, a partir daí como estava deliciada com tudo aquilo, disseram-me: “experimenta a dizer qualquer coisa ao microfone”. Fi-lo e perguntaram-me: “és sempre assim ou é só hoje? Se és sempre assim então volta amanhã para a gente conversar um bocadinho”. Então fui, comecei a participar num programa infantil “O mundo da fantasia” da Atlântida, mais tarde apresentei o projeto “Porto de Encontro”, em que cada programa era um cais, e nós só passávamos música de expressão portuguesa e poesia, a nossa literatura portuguesa desde a Idade Média até à Contemporânea. E foi assim, depois fiz um bocadinho de tudo na rádio Atlântida. O meu primeiro apontamento em direto foi exatamente na visita do Papa João Paulo II aos Açores, a 11 de maio de 1991. Um acontecimento inesquecível. 

DL: Há 10 anos, em outubro, apresentou a edição impressa do Diário da Lagoa. Como surgiu esse momento?
O Norberto Silveira convidou-me para fazer a apresentação da primeira edição em papel do jornal e, também, foi uma oportunidade muito gratificante de apresentar algo no meu concelho, de um órgão de comunicação social e que, tal como disse na altura: eu acho que é muito importante registarmos o nosso tempo, é uma obrigação de caráter perene que a escrita confere. Seja em que suporte for, acho que temos essa obrigação de registar feitos e histórias pessoais, homenagear figuras, dar voz. E a Lagoa tem essas referências, essas figuras e tem essas inspirações. Esse jornalismo de proximidade que o Diário da Lagoa representa, não é passado, é presente e é futuro. Nós precisamos disso, precisamos de saber do que se passa ao lado, porque estamos numa era em que às vezes sabemos do que se passa a mil e tal quilómetros e não sabemos o que se passa na rua ou no prédio. 

DL: Como é trabalhar no Faial?
Como em tudo, tem uma parte fácil e uma mais desafiante também. Por ser mais pequena é muito familiar, com todas as características e implicações que isso trará, por outro lado, como estamos mais longe e também há algumas coisas que demoram mais a chegar. Temos de esperar um bocadinho pela nossa vez. A área de animação de rádio aqui estava adormecida há mais de dez anos até eu resgatar aqui na delegação do Faial. 

DL: Há uns anos falava-se no fim da rádio por causa da televisão mas isso não aconteceu. Como encara este facto?
As pessoas apanharam um grande susto, sentiram-se sozinhas. A rádio sempre foi e sempre será uma grande companhia na solidão também. Eu lembro-me que quando fazia o programa Céu Azul, às sete da manhã, eu achava que ninguém estava a ouvir mas havia quem acordasse, ligasse o rádio e estivesse a ouvir. Ou pessoas que tinham um transistor em cada compartimento da casa porque não queriam perder nada do Céu Azul. Isso na pandemia. 

DL: Que conselho daria a quem está agora a começar na comunicação social?
Não saberia dar um conselho porque a pessoa que neste momento está a começar vai encontrar uma realidade que não foi aquela que encontrei. Eu só diria para cuidar bem de si, acreditar em si e para ter portas entreabertas, porque é muito fácil encontrar portas fechadas. 

DL: Onde se imagina daqui a dez anos?
Em 2034… Ora 34 era o número da porta da casa onde eu nasci. Se pudesse via-me a viajar pelo mundo, independemente de registar, relatar, escrever sobre isso, fazer diretos ou um podcast, de o partilhar ou não. Gostaria muito de viajar e conhecer mais cidades, países. As minhas férias preferidas são aquelas em que entro na vida de todos os dias do cidadão daquela cidade que visito e depois vou visitar os espaços culturais, vaguear pelas ruas em que sou mais uma no meio da multidão. Gosto de conhecer o mundo assim, indo aonde as coisas acontecem e de ir à vida real de outras paragens que não a minha de todos os dias.

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Clife BotelhoDiretor

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Comentários

  1. avatar Ângela Ávila 09-06-2024 23:32:08

    Muitos parabéns, minha querida Graça a quem ensinei a ler e escrever. Orgulho de ter seguido os caminhos da palavra, dita e escrita. Muitos sucessos!????????

  2. avatar Fernando Silveira 09-06-2024 19:10:02

    Conheço a Graça em 1990 então aluna do 2 Ano no CIFOP da Universidade dos Açores, quando ingressei no mesmo curso no ano seguinte ao dela. Ouvia o programa infantil aos sábados e na segunda lá lhe dava uma opinião que ela apreciava. Tenho acompanhado o seu desempenho na CC mas preocupou - me o acidente no Mediterrâneo de onde saiu ilesa felizmente.

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