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Cada foto tem a sua história: verdades e consequência

1925, no Porto da Caloura – Sentados no muro: Tio Jacinto Inácio e meu pai Manuel Egídio de Medeiros, de 8 anos, com a Tia Laura e as irmãs. Família e primos Vieira da Praça © DIREITOS RESERVADOS

Cada foto tem a sua história. De todas as fotos que publico — e muitas centenas nunca publiquei ainda —, conheço a sua história e posso contá-la por escrito e/ou oralmente.

Ao longo da minha vida aprendi muito sobre a Vila de Água de Pau, com meu pai e com os nossos familiares, com os primos Vieira, emigrantes (regressados do Manaus, no Brasil) e, em particular, com meu primo António Inácio Vieira.

Aprendi ao longo dos tempos com os nossos antigos sabedores e conhecedores da História da Nossa Terra, como o professor João Ferreira da Silva, os meus professores Luciano da Mota Vieira e Dr. Francisco Carreiro da Costa, bem como com os nossos pioneiros que emigraram para o Canadá e com os que emigraram para viver muitos anos no leste e oeste dos Estados Unidos. Com os que emigraram para o Brasil — memórias incríveis, em fotos que eu trouxe de lá, relatando as suas vidas antes e depois de partirem da nossa Água de Pau. Com as pessoas idosas da elite e do povo que me habituei a ouvir e a devolver com respeito a conversação quando vinham à nossa mercearia «A Cova da Onça» para fazer compras ou para falar com o meu pai. E muitas vezes para pedir-lhe conselhos ou para ser seu avalista nos bancos, assim chegavam desabafando sobre as suas vidas.

Desde criança que ando entre o povo… eu, o meu irmão Duarte e a minha irmã Lina Manuela, que embora criancinhas, já enchíamos pacotes de meio quilo e de um quilo de açúcar na loja de nosso pai enquanto andávamos atentos ao que se passava à nossa volta, pois ele não queria pasmados e insensíveis à sua roda.

Aprendemos a ser e estar despertos para o quotidiano da vida rural, social, cultural e religiosa que girava à nossa volta. Na mercearia éramos, por isso, convidados a todo o momento a conhecer a vida e a história de todos.

O meu pai praticamente participou ou fez parte de tudo o que mexia com a vida desta terra, pois lembro-me que foi vereador na Câmara da Lagoa, presidente da Junta, presidente fundador da Casa do Povo e presidente da filarmónica. Foi, igualmente, um dos fundadores do Santiago F.C., mas já tinha, antes disso, o seu clube dos “Batedores da Onça” que se juntaram aos “Vermelhos” do mestre José Leste, originando o Santiago.

Esteve o meu pai também na comissão das festas e, nesse tempo, fez viagens de angariação de fundos para a construção do Salão Paroquial da Igreja, durante um mês e meio, pelos EUA, Canadá e Bermuda.
Eu ouvia atento e aprendi ainda com as outras pessoas com quem meu pai se relacionava bem da nossa vila ou da Caloura, assim como muitos dos que viveram no tempo do meu pai. Com eles ouvi muito, tive a oportunidade de conhecer a história das fotografias que narram as vidas de muita gente, os seus episódios e consequentemente da nossa terra.

Ainda hoje continuo a falar com o mais idoso de Água de Pau, para me ir passando toda a informação possível que guarda, antes que se perca devido dos seus 101 anos, realizados em 12 de agosto de 2024. Trata-se do senhor Tobias Teixeira, emigrante que saiu da nossa terra para S. Paulo, no Brasil, com a sua família em 1953 e que tem uma memória indescritivelmente fabulosa. Outro exemplo de conhecimento e ricos testemunhos históricos sobre as vivências na nossa Vila de Água de Pau, foram-me passados pela emigrante pauense Amélia Nabinha, em New Bedford, nos EUA, e que infelizmente partiu em 2023 com quase 109 anos.

Gosto de passar o meu tempo a ouvir, a aconselhar-me sobre assuntos da nossa história e as suas gentes. E as questões são colocadas a esta gente toda, devido às centenas de fotos que possuo.

As histórias que eu conto, são todas fundamentadas no conhecimento adquirido com as pessoas, desde os meus tempos de criança. Vamos trocando informações, enquanto registo tudo para divulgar em livro.
Felizmente a memória ainda não me falta e tal como me disse um dia o professor José Hermano de Saraiva, no Cerco da Caloura, quando o levei nos meus ombros, com o seu produtor, para a Ponta da Galera, para ele gravar um segmento histórico para o seu programa de História, na RTP. Estava a debruçar-se sobre as primeiras emigrações para fora desta ilha, em particular para os Estados Unidos, quando comentou, satisfeito, por lhe ter dito uma coisa que ele não sabia. Vejam os humildes grandes homens da história como são! Mas, a seguir ficou chateado comigo, quando começou assim a sua gravação: – “Foi aqui, por esta ponta mais a sul que começou…” Interrompi-o e ele não gostou nada, pois já estava a gravar, fazendo cara de poucos amigos. Todavia, quando expliquei porque não podia começar a falar de Água de Pau com “foi aqui…”, ele ouviu-me e riu-se com a história de “Foi aqui que a Porca Furou o Pico?”. Ele disse-me que devemos defender a história da nossa terra e que as coisas mais importantes devem merecer a nossa atenção primeiro e para se evitar as de menos, mas para não as esconder da história.

É preciso ter cuidado com a publicação de fotos, deve-se respeitar os seus direitos de autor e a sua história. É um dever que temos para com quem as tirou, para quem as cedeu e para com aqueles que as vão ver no futuro.

Assim é que se faz história para todos aprenderem e conhecerem o que devem e merecem. É assim que as fotografias contam a vida e a história de várias gerações da gente da nossa terra.

As fotos antigas podem contar a História da Nossa Terra, como as que foram tiradas por exemplo, por um emigrante que regressou dos EUA em 1870 a Água de Pau. Trouxe a sua máquina Kodak, fabricada em Rochester NY, que depois veio parar à minha família e mais tarde foi-me oferecida com alguns dos seus originais, em vidro e em papel. Mais tarde, investi para as recuperar em Lisboa mas depois foram roubadas por um indivíduo com responsabilidades autárquicas para andarem em revistas e álbuns de fotos sem “tarelo” por mãos impróprias e afastadas da sua história.

Temos de respeitar e dignificar as fotos antigas e históricas. Não se pode mandar para a rua sem se saber a sua história ou apenas colocando uma data inventada!

Dirijo-me aos que gostam de valorizar o património, legado pelo nosso povo através de fotografias.
Obrigado pela vossa paciência se tiverem lido todo o texto. Vou continuar assim, como sempre, para quem tiver paciência de me sofrer.

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