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Aumentam denúncias de violência doméstica, bullying e crime na Lagoa

Comandante interino da esquadra da Lagoa, Paulo Moniz, diz que a pandemia agravou diversas situações sem, no entanto, avançar números. Consumo de drogas tem levado a uma maior atuação da PSP

Paulo Moniz, 44 anos, é comandante interino da Esquadra da PSP da Lagoa desde 2020 © DL

DL: De que forma a pandemia veio agravar a criminalidade na Lagoa?
Ainda que os dados da criminalidade registada em 2021 não se encontrarem ainda consolidados, constatou-se no início da crise pandémica um ligeiro aumento dos crimes de violência doméstica no concelho da Lagoa. No entanto, com base na criminalidade registada no ano anterior, a tendência tem sido para a estabilização dos números. Ou seja, não temos registado grandes picos e/ou variações neste âmbito criminal.
Acreditamos que o acompanhamento das vítimas que tem sido realizado pela Polícia de Segurança Pública, e demais entidades com responsabilidades nesta matéria, tem contribuído para o aumento das denúncias dos crimes de violência doméstica.

DL: Têm equipas destacadas para essa missão?
A Esquadra de Investigação Criminal da Divisão Policial de Ponta Delgada dispõe de uma Equipa Especializada em Violência Doméstica (EEVD) que trabalha em exclusividade neste tipo de crimes. Esta equipa encontra-se a trabalhar nesta área específica desde 2010 e, trabalha diretamente com o Ministério Público, responsável pela ação penal, nestas investigações específicas. Na vertente social, trabalhamos em conjunto com o Instituto de Segurança Social Açores e a APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.

DL: Já fizeram um levantamento do número de casos?
Infelizmente, os dados relativos a 2021 encontram-se em fase de consolidação. Os mesmos serão publicados no Relatório Anual de Segurança Interna que costuma ser publicado no primeiro trimestre do ano seguinte.

DL: E a tendência são vítimas do sexo feminino?
Sim. Há queixas de homens também, mas predomina mais no feminino. 

DL: Nesses casos, o que recomendam às vítimas? O que podem fazer?
A recomendação mais premente é o incentivo à denúncia. Existem várias ferramentas disponíveis para este efeito, como por exemplo a apresentação de denúncia em qualquer esquadra,  através de contato telefónico, correio eletrónico ou ainda através das redes sociais. Todas as informações que são comunicadas à PSP são analisadas e apreciadas, com vista à prossecução de diligências. 

DL: A PSP teve de alterar a sua forma de trabalhar devido à pandemia?
Apesar da PSP se encontrar na linha da frente no combate à pandemia, todos os nossos serviços operacionais e administrativos, procuraram dar uma resposta eficiente e eficaz às ocorrências que foram surgindo. No início da crise pandémica, procuramos manter a operacionalidade de todos os serviços. Foi adotado o regime de trabalho em “espelho” de forma a prevenir o contágio dentro da instituição. Acreditamos que a estratégia adotada foi muito importante para o cumprimento da missão policial e para a proteção de todos os polícias e cidadãos.

DL: Têm falta de efetivos na Lagoa?
Não podemos confirmar que haja falta de efetivo, atendendo que não está quantificado qual o efetivo que a esquadra deve ter. Nós temos o efetivo que é possível e que vai dando resposta à atividade operacional da Esquadra de Lagoa. Neste momento é o suficiente e o possível para irmos dando resposta às necessidades da população. Nenhuma ocorrência fica por resolver, porque caso estejamos ocupados com um serviço, nós comunicamos ao Centro de Comando e Controlo Operacional e rapidamente é acionado um meio de Vila Franca do Campo ou Ribeira Grande. Se houvesse mais efetivos mais se podia fazer, claro, mas isso acontece até mesmo numa empresa ou noutros serviços da administração pública.

DL: Quais são os principais problemas que o concelho tem neste momento?
Atualmente, registamos uma tendência para o aumento dos crimes contra o património na Lagoa. Por um lado, as ações de policiamento/patrulhamento que temos vindo a desenvolver têm culminado em diversas detenções e apreensões de artigos furtados. Sabemos que este tipo de criminalidade causa forte alarme social na comunidade, razão pela qual devemos intervir sempre que possível e necessário.
A maior parte dos arguidos são toxicodependentes que para sustentar o seu vício cometem este tipo de crimes.
Muitas vezes as pessoas optam por não fazer queixa, sendo que encorajamos as pessoas a denunciar os crimes de que foram vítimas de forma a direcionarmos o policiamento para as zonas em que há suspeita da prática desta criminalidade. Podemos recolher um indício, uma impressão digital, e isso pode ajudar na resolução de outros crimes na zona. 
Relativamente ao tráfico de droga, é um problema complexo e nacional. Não podemos dizer que na Lagoa há mais ou menos, até porque os processos por tráfico de droga resultam da proatividade da polícia. 

DL: Em termos de zonas, o Porto dos Carneiros, o Jardim dos Frades e a Baía de Santa Cruz continuam a ser problemáticos?
Existem vários pontos espalhados pelo concelho e vamos direcionando os meios para esses locais. Já temos várias zonas desmanteladas tal como a Baía de Santa Cruz que está longe de ser aquilo que era antes. Nós seguimos uma estratégia que é definida pelo Comando Regional dos Açores, sendo que com base nas orientações vamos definindo estratégias e linhas de ação a nível local. 

DL: A nível das drogas sintéticas de que forma são um problema na atuação da PSP?
No que concerne às drogas sintéticas, temos vindo a assistir a vários problemas associados ao seu consumo. Desde logo, a uma clara associação dos seus consumidores a outros tipos de criminalidade, por norma mais graves. Por outro lado, registamos igualmente um elevado número de conduções destes consumidores ao gabinete de psiquiatria do Hospital Divino Espírito Santo, uma vez que apresentam comportamentos que têm sido enquadrados na Lei de Saúde Mental.

DL: E acabam por cometer pequenos furtos?
Exatamente. Daí que a nossa ação, para além da parte repressiva do tráfico, seja também preventiva. Se vamos ao local e vemos que estão alucinados, conduzimo-los aos serviços de psiquiatria. Por vezes estão numa fase em que não distinguem a realidade e isso reflete-se na sua saúde mental. São muitos os casos derivados do consumo das denominadas drogas sintéticas. 

DL: Houve um aumento no problema do tráfico de droga?
Não posso dizer que tenha havido um aumento mas sim uma maior intervenção da nossa parte. Tivemos conhecimento de mais situações e temos intervindo com maior incidência. 

DL: A palavra de ordem é a prevenção?
Exatamente. Nós somos uma polícia integral, coesa e humana. E ao serviço do cidadão. É esse o nosso lema. Procuramos não só reprimir como também ajudar. Daí que tenhamos os procedimentos de proximidade junto dos idosos, nunca se fez tantas ações nas escolas sobre os mais variados temas, dos quais destacamos o bullying.

DL: Tem aparecido casos de bullying?
Com base no que nos é relatado, através das comissões de menores das escolas, o bullying durante os isolamentos e na pandemia em geral aumentou.

DL: Há queixas nesse sentido?
Há queixas nesse sentido, daí termos também direcionado as nossas ações para junto das escolas. A temática do uso da internet, o cuidado com o que se coloca na internet. Uma vez na net para sempre na net, temos uma série de campanhas de bullying e ciberbullying de forma a alertar a população mais jovem.

Clife Botelho

Entrevista publicada na edição impressa de fevereiro de 2022

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