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“As pessoas têm muito orgulho de se dizerem açorianas”, confessa Sérgio Luiz Ferreira, presidente da Casa dos Açores de Santa Catarina, Brasil

Entidade recebeu do governo municipal de Florianópolis, Brasil, instalações para servirem de sede e receberem os eventos associativos em Santo António de Lisboa, local conhecido pela marca da presença açoriana nesse Estado brasileiro

Sérgio Luiz Ferreira é o atual presidente da Casa dos Açores de Santa Catarina © GUI CARDOZO

A Casa dos Açores de Santa Catarina, localizada no Sul do Brasil, “tem um perfil diferente da maioria das Casas dos Açores”, defende Sérgio Luiz Ferreira, presidente desta entidade, que explicou ao Diário da Lagoa (DL) que a Casa “não é constituída por pessoas nascidas nos Açores, mas por descendentes de sexta, sétima, oitava e nona geração”.

Constituída em dezembro de 1999, a Casa dos Açores de Santa Catarina tem como “maior objetivo propiciar a integração dos descendentes luso-açorianos, que valorizem a herança cultural açoriana e que promovam as nossas manifestações mais significativas deixadas pelos povoadores”.

Segundo este responsável, “o ano de 2023 apresenta dois grandes desafios para a entidade: a restauração da casa que foi cedida pelo município para ser a sede da Casa dos Açores e a realização da 25ª Assembleia anual do Conselho Mundial das Casas dos Açores (CMCA), que acontecerá em novembro em Florianópolis”.

“Para a restauração da nova sede contamos com o apoio incondicional da prefeitura municipal, proprietária do imóvel, que está fazendo todos os esforços para que tenhamos a casa restaurada ainda este ano. A nova sede da casa ficará em um dos lugares mais emblemáticos da Ilha de Santa Catarina que evoca a presença açoriana em território catarinense, a sede da freguesia de Santo António de Lisboa. Quanto à realização da 25ª Assembleia anual do Conselho Mundial das Casas dos Açores, é uma honra para a nossa casa presidir o CMCA pela segunda vez e pela primeira vez no nosso próprio Estado. Santa Catarina presidiu o CMCA em 2012 na Ilha de São Miguel, nos Açores”, comenta Sérgio Luiz Ferreira, que revelou ainda que cerca de dois milhões de catarinenses têm ascendência açoriana.

“Cada vez mais os Açores estão na moda por aqui. No litoral catarinense ser nativo é sinónimo de açoriano. As pessoas têm muito orgulho de se dizerem açorianas, mesmo que sejam de nona e décima geração. Até há alguns anos, os descendentes de açorianos eram “açorianos genéricos”. A maioria não sabia a sua ilha ou freguesia de origem. É bom lembrar que a maioria de nós é descendente de muitas ilhas. Eu, por exemplo, tenho ascendência em todas as ilhas do grupo central e de São Miguel. O Conselho da Diáspora Açoriana tem contribuído para que as pessoas busquem a freguesia dos seus antepassados. Muitos catarinenses já se registaram na plataforma. Tenho dito que o Conselho da Diáspora veio para que os catarinenses açorianos deixem de ser açorianos genéricos e passem a se identificar com as suas freguesias de origem”, diz Sérgio Luiz Ferreira.

Dados avançados pela Casa dos Açores de Santa Catarina apontam que a maior herança açoriana nesse estado brasileiro é, “sem dúvida”, a Festa do Divino Espírito Santo, “celebrada por todo o litoral catarinense”. São cerca de 70 festas em mais de 30 municípios.

Teoria para contextualizar a história

No meio académico, o tema Açores também ganha relevância em Santa Catarina, embora com menor expressão, atualmente. De acordo com Sérgio Luiz Ferreira, “alguns campos de conhecimento pesquisaram a cultura açoriana ao longo de décadas. Muitos desses campos de conhecimento deixaram de fazer, o que é uma pena. Há muito o que se pesquisar e dizer sobre a herança açoriana em Santa Catarina. Outros campos de conhecimento começaram a se dedicar ao tema e muitos frutos têm sido colhidos”.

Sobre o futuro da Casa dos Açores de Santa Catarina, Sérgio Luiz Ferreira, que tem hoje 53 anos de idade, comenta que a necessidade de se ter uma sede com uma estrutura compatível com as necessidades desse movimento associativo parece estar resolvida.

“A nossa maior dificuldade até agora era o facto de termos uma sede pequena, num edifício comercial, que não nos permitia fazer eventos. Agora, a prefeitura municipal nos cedeu uma casa histórica na sede da freguesia de Santo António de Lisboa. O nosso projeto é restaurá-la para que a nossa sede fique aberta à visitação do nosso acervo e da nossa biblioteca e que possamos ali promover eventos de valorização da nossa cultura açoriana. A Casa tem um grupo folclórico, criado em 2010, que apresenta danças e músicas do folclore açoriano e catarinense. O grupo é importante para que as novas gerações conheçam a cultura ancestral do seu povo. Pretendemos fortalecer cada vez mais o nosso grupo folclórico”, frisou este presidente.

As raízes no Brasil

Edifício que será restaurado foi cedido pelo município para ser a nova sede da Casa dos Açores © GUI CARDOZO

A Casa dos Açores de Santa Catarina foi constituída em dezembro de 1999 por descendentes dos migrantes açorianos que chegaram ao Estado entre 1748 e 1754 e por simpatizantes da açorianidade. O estreitamento das relações entre Santa Catarina e os Açores na década de 1990 levou ao fortalecimento do Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina, de onde surgiu a iniciativa da criação da Casa dos Açores de Santa Catarina.

Liderança pelos Açores

O atual presidente da Casa dos Açores de Santa Catarina, Sérgio Luiz Ferreira, nasceu e vive até hoje na freguesia de Santo António de Lisboa, no Norte da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis. Tem ascendência em seis ilhas: São Miguel, Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial.

Confessa-se “apaixonado” pelos Açores, o que o fez pesquisar a sua árvore genealógica ainda na adolescência. Associou-se à Casa dos Açores de Santa Catarina em 2007. Foi diretor de assuntos comunitários e vice-presidente, antes de se tornar presidente em 2015. É professor da Universidade Federal de Santa Catarina.

“Para as coisas que amamos, sempre encontramos tempo para nos dedicarmos”, refere ao DL Sérgio Luiz Ferreira, que, além de presidente da Casa dos Açores, é também vice-provedor da Irmandade do Divino Espírito Santo da sua freguesia.

“Consigo conciliar bem as atividades profissionais, familiares e comunitárias com as atividades na Casa dos Açores. Pisei pela primeira vez o solo açoriano em 2008. Desde então, foram oito viagens. O turismo cresceu muito nos Açores durante esse tempo. Os Açores me fazem muito bem. Sinto-me verdadeiramente em casa quando vou aos Açores”, conclui Sérgio Luiz Ferreira.

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Ígor LopesJornalista

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