A Quinta da Paródia é um parque rural de entretenimento educativo há muitos anos idealizado por Sofia Borrego. Com origens micaelenses, a médica veterinária nascida e criada em Lisboa mudou-se para São Miguel e ao identificar que “cá havia uma lacuna no que toca a quintas pedagógicas e espaços de lazer para crianças e famílias” comprou o terreno e, graças a apoios do PRORURAL+, conseguiu arrancar com as atividades recreativas em 2019.
Quem espreita pelo portão cinzento do lado de fora da rua, não imagina o que o edifício da entrada esconde atrás de si. Mas o Diário da Lagoa foi descobrir.
Com as portas abertas para visitas agendadas, entrámos na quinta com uma turma do pré-escolar do Colégio S. Francisco Xavier. Aos pares, de mãos dadas, as 23 crianças vinham acompanhadas de três educadoras.
Para lá da entrada, juntos descobrimos a enorme quinta que é composta por vários compartimentos divididos por muros de pedra onde se encontram os animais.
A visita começou pelos porcos anões. Matata, toda preta, e Pua, malhada de preto e rosa, são duas porquinhas meiguinhas, mas também um pouco tímidas. Com a turma de crianças de cinco anos a correr de entusiasmo para as verem de perto, Matata e Pua rapidamente fugiram.
O monitor da quinta, Nuno, distribuiu por cada criança um pedaço de abóbora para alimentarem as porquinhas e explicou que tinham de esperar que elas o viessem buscar. A medo, Matata foi avançando e Pua seguiu-a. Sem conter a euforia, as crianças gritavam de alegria e os suínos voltavam a recuar. Nestes avanços e recuos, um ronco da Matata gerou a risada entre os meninos que a imitavam.
Dos porquinhos a turma passou para a cerca dos coelhos. Depois de pedir que a turma se sentasse nuns troncos, o monitor colocou alguns coelhinhos no colo das crianças, que tiveram a oportunidade de os ver e acariciar, atividade que, segundo Sofia Borrego, vai ao encontro do objetivo do projeto de “contribuir para a interação com os animais e contacto com a natureza”.
“Eu quero pegar no Caramelo”, pediu Manuel, um dos meninos da turma, que batizou o coelhinho com esse nome devido à sua cor. Os coelhos iam passando de colo em colo e, enquanto as crianças que os tinham soltavam sonoras gargalhadas de felicidade, as outras aguardavam ansiosamente a sua vez.
“Vamos ver os próximos animais” era o anúncio do monitor que todas as vezes deixava a turma em êxtase. De sorriso de orelha a orelha, prontamente davam as mãos aos colegas e formavam fila para seguir para a parcela seguinte.
Quando perceberam que os animais que se seguiam eram cabras, em coro os meninos apontaram e cantarolaram “é a cabra cabrês, que te salta em cima e te faz em três”. O monitor deu um saquinho de ração a cada criança e exemplificou: “façam uma conchinha com a mão e deem-lhes a comida”. Uns mais destemidos avançaram logo com a mão à boca das cabras e das ovelhas. “Elas fazem cócegas na mão”, exclamavam as crianças. “A mim estão a babar-me todo”, respondia o João Benjamim.
Ao lado estavam as galinhas que de um lado para o outro aproveitavam para apanhar os grãos que caíam ao chão. Das galinhas passou-se aos patos que ao se banharem no lago deslumbraram as crianças.
No fundo da quinta há uma zona rochosa, onde de rochedo em rochedo, outras cabras e bodes saltitam. O monitor perguntou como se distingue a cabra do bode. Estas são questões propositadamente colocadas porque “o entretenimento com caráter educativo é um conceito que defendemos bastante, pelo que importa proporcionar atividades recreativas, mas também pedagógicas”, expõe a proprietária da Quinta da Paródia.
À frente de mais um curral de porcos o monitor voltou a colocar uma questão: “para que servem os pelos do porco?”. Foi com admiração que as crianças ouviram a explicação de que “as cerdas podem ser utilizadas para fazer pincéis como os que usam na escola”.
Satisfeitos, os meninos batiam palmas e diziam “esta quinta tem animais infinitos”. E ainda nem tinham visto as vacas, os cavalos, os póneis e os burros. Ao chegar ao estábulo ao ar livre, um dos meninos fascinado afirmou: “nunca tinha visto um cavalo, só no telemóvel da minha mãe”. “É lindo, não é?”, perguntou-lhe o colega que também nunca tinha visto um. Ambos acenaram sorridentes.
Por fim, tiveram ainda a oportunidade de dar biberão a dois cabritos, que abanavam a cauda enquanto bebiam o leite.
Antes de terminar a visita, a turma passou pelo parque infantil da quinta e brincou nos trampolins, escorregas e baloiços. Tanto as crianças como as educadoras despediram-se da propriedade manifestando o desejo de regressarem com as famílias.
Noutras alturas do ano, este parque rural disponibiliza ainda atividades agrícolas, como a colheita de morangos e abóboras. “Há sempre um objetivo educativo de mostrar às crianças de onde vêm os alimentos e os seus ciclos de produção e de divulgar a agricultura biológica”, realça Sofia Borrego.
Em visitas mais longas, há ainda outras atividades como passeios de pónei na mata e a ordenha de modelos fictícios de vaca e de cabra, mas de tamanho real. “É uma forma de experimentarem a ordenhar e perceber de onde vem o leite sem risco de coices. É uma brincadeira educativa”, refere a médica veterinária.
Além disso, há também brinquedos como tratores a pedais da qual as crianças podem usufruir. “São brinquedos temáticos relacionados com a vida na quinta e que ajudam a promover o exercício físico e as atividades ao ar livre”, acrescenta. Estes são alguns dos equipamentos utilizados para divertir as crianças nas festas de aniversário dinamizadas na quinta.
Devido à pandemia, o parque rural encontra-se apenas a realizar atividades por marcação para grupos que já convivem habitualmente. “A nossa ideia inicial era ao domingo estarmos abertos e o público podia adquirir os bilhetes e visitar a quinta livremente. Mas como não queremos promover o contacto de pessoas de diferentes agregados, optámos por organizar visitas guiadas particulares para famílias ou meninos da mesma turma, sem misturar outros grupos”, esclarece a proprietária.
Futuramente, Sofia Borrego planeia começar um programa de ocupação de tempos livres para crianças, campos de férias, cursos e workshops.
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