DL: Quem é Alesio Santos?
Nasci em 1950. Moro na Lagoa da Conceição, Florianópolis, capital do Estado de Santa. A minha comunidade de origem açoriana não tinha luz elétrica na época, contavam muitas histórias de bruxas e lobisomens. A maioria dos partos era feito por parteiras, a medicina era o uso das plantas medicinais e a medicina das palavras as bezendeiras. Sou casado e a minha companheira é formada em gastronomia. Tenho três filhas, duas formadas em direito e a outra formada em arquitetura. A minha formação académica é em Licenciatura Plena em Estudos Sociais, formado pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Sou especialista em Educação Ambiental e Plantas Medicinais e funcionário aposentado da Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
DL: Qual a sua ligação a Portugal e aos Açores?
Sempre valorizei a cultura dos descendentes de açorianos, sou cultivador e professor de plantas medicinais e plantas alimentícias não convencionais (pancs). Tenho interesse nas plantas medicinais usadas pelos açorianos. Já estive em Portugal, não fui aos Açores, mas tenho grande admiração pela cultura e pela linda paisagem açoriana. Temos na nossa ilha também uma linda paisagem. Contem com este amigo dos açorianos.
DL: Em que ano visitou Portugal?
Visitamos alguns países da Europa em 2020, pois tinha uma filha que trabalhava na Irlanda, e visitamos Portugal. O meu sonho é ficar em Portugal uns seis meses.
DL: Como descobriu o Diário da Lagoa?
Descobri o Diário da Lagoa, numa pesquisa sobre a cultura do arquipélago dos Açores. Como moro na Lagoa, mas no Brasil, o jornal interessou-me, principalmente nos conteúdos culturais, e pelo meu interesse em saber quais as plantas medicinais usadas pelos açorianos e saber se eram as mesmas plantas usadas pelos descendentes de açorianos do Brasil. Tenho uma grande amiga nos Açores que me mandou um livro sobre plantas.
DL: Como surgiu o seu interesse pelas plantas medicinais?
O meu interesse por plantas medicinais surgiu quando era agricultor, junto com os meus pais. Via as pessoas usarem plantas para diversas doenças. Eu, curioso, comecei a pesquisar sobre aquelas plantas e a plantar. A comunidade vinha à minha casa buscá-las, e as universidades para pesquisa de alunos procuravam-me. Hoje tenho uma grande coleção de plantas medicinais no meu Jardim Medicinal ou Farmácia Viva, como é chamado, passei a comprar livros e pesquisar e fiz uma pós-graduação em plantas medicinais.
DL: Como se tornou professor e cultivador?
Pelo meu interesse, pois a cura dos meus antepassados se dava pelas plantas e pela medicina das palavras das bezendeiras. Queria saber o que as plantas tinham que servia para aliviar sintomas e cura de muitas patologias, pois todas as culturas no mundo tinham no passado as plantas medicinais, hoje pouco valorizadas. Mas estão surgindo muitos fitoterápicos. Temos plantas com efeito de cura, segurança e eficácia melhor do que muitos remédios químicos. O cultivador conversa com as plantas, agradece ao colher, reza ao fazer a infusão, e esse ritual fascina-me.
DL: Referiu que a cura dos seus antepassados se dava pelas plantas e medicina das palavras das bezendeiras. Essa realidade ainda existe junto da sua comunidade ou é algo que esteja a perder-se com o tempo?
Ainda hoje temos algumas bezendeiras, mas já são velhinhas. Temos só uma bezendeira mais nova, que trabalha com plantas medicinais. Embora na medicina de hoje a base seja de farmácia e de laboratório, as plantas medicinais têm um uso intenso na cultura popular. Temos alguns fitoterápicos nas farmácias, como o caso do ACHEFLAN do laboratório Aché da nossa Erva De Baleeira (Cordia verbenacia), planta da beira de praia, que pode até estar nas farmácias de Portugal. As plantas medicinais estão no Sistema Único De Saúde (SUS), como PICS (Terapia Integrativa e Complementar em Saúde). São 29 PICS e as plantas medicinais uma delas temos na UFSC (Universidade Federal De Santa Catarina), uma disciplina optativa de plantas medicinais ofertada aos alunos/as dos cursos de saúde.
DL: Considera os jornais importantes, particularmente para as comunidades de descendência açoriana fora de Portugal?
Sobre a importância desse veículo de comunicação para valorizar a cultura dos descendentes de açorianos fora de Portugal, no Brasil, embora com pouco alcance, precisamos de socializar esse jornal, pois muitos são os elementos culturais que aparecem nele que também fazem parte dos nossos eventos culturais, principalmente as festas populares.
Quero ser o embaixador, na nossa comunidade, da valorização do jornal. Conhecer a beleza natural do arquipélago dos Açores e de todas as manifestações culturais é com certeza o objetivo de todos os descendentes de qualquer parte do mundo. A minha ancestralidade ainda mora aí, as nossas visitas de turismo sempre são para Portugal. Temos de colocar na programação uma visita ao arquipélago.
DL: Que mensagem gostava de deixar aos leitores do Diário da Lagoa?
Açorianos, nós te amamos. É muito importante o jornal escrito no mundo atual dos media digitais. Valorizem o vosso jornal que informa e reconhece o seu povo. Desejo muita paz e amor às famílias açorianas. Gratidão, povo amado.
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Comentários
Meu nome e Arante José Monteiro Filho,da praia do Pântano do Sul, Ilha de Santa Catarina, Brasil.
Boa entrevista feita com nosso amigo Alécio, da Lagoa da Conceição, uma das Freguesias criadas aqui pelos Açorianos a partir de 1748.. precisamos disso mesmo, mais integração e conhecimento apesar da distância e do tempo. Grande abraço.