Enquanto eu puder fazer aquilo que gosto e me dá prazer, irei sempre divulgar o que for acontecendo na nossa Vila de Água de Pau. E, ninguém me impedirá de continuar a pesquisar e a defender a nossa história, a nossa cultura e nossas tradições, desde o povoamento até hoje. E, nunca, ninguém conseguirá desmotivar-me a desistir de pensar e de estudar, ainda mais, sobre o potencial da Vila de Água de Pau, tentando reduzir a sua importância, as suas capacidades e qualidades únicas, no plano histórico, cultural e etnográfico da nossa ilha e dos Açores.
Venha quem vier, nunca me impedirá com os seus pergaminhos, currículos, títulos ou conhecimentos universitários. Porque sobre o estudo da nossa Vila de Água de Pau, não conheço, nos Açores, ninguém que o tenha feito com tanta profundidade e pesquisa, como tenho feito. Sobretudo os que chegam com o propósito de criticar, desrespeitar e negar o prestígio, a importância e o estatuto de Vila que esta terra detém desde 28 de julho de 1515. Venha quem vier terá de provar com argumentos e não com “Drs” que conhece bem a história da Vila de Água de Pau. Estarei aqui, sempre, para aprender com quem saiba alguma coisa que eu ainda não saiba, mas nunca me derrubarão com teses derrotistas e inflamadas de adjetivos, porque, ainda assim, não me demoverão de pensar que a minha terra desbanca mesmo.
O Povo da Vila de Água de Pau é com certeza e sempre foi pacífico, senão nunca aceitaríamos perder o alvará de Município, tal como não cedemos o de Vila. É que em 1853, depois de 338 anos de município assumido por carta régia de D. Manuel I, passada a 28 de julho de 1515, a nossa Vila não devia ter visto suprimido o seu concelho em detrimento da Lagoa.
A partir de 19 de outubro de 1853 o antigo concelho da Vila de Água de Pau foi integrado no da Lagoa, por ordem «desleal» do governador do distrito de Ponta Delgada, que era próximo do administrador “regenerador” do concelho de Lagoa. Se a Vila e sede de concelho de Capelas, elevada a Vila em 1840 por carta régia foi suprimida em 1853 por carta régia, porque terá sido o concelho de Água de Pau suprimido por carta do governador? Mais tarde, receberia o documento pedido e assumido pela monarquia a solicitação do dito governador, que adiantou ter feito o que lhe parecia mais certo. E “o mais certo” para o governador, teve que ver com o facto do mesmo, após ter assumido o cargo, pretender levar a eleições todos os concelhos. Estava na hora de regenerar, mudar tudo o que estava errado (na cabeça dele). O partido Regenerador devia substituir o dos Cartistas. A Vila de Água de Pau assumira a “Carta Constitucional” e estava a dar-se bem com isso, mas o Governador queria “regenerar” e como ninguém apareceu nas “urnas” em Água de Pau para votar, entendeu o dito senhor que merecíamos correção. Assim, a 19 de setembro, o administrador do concelho de Água de Pau recebeu uma carta do dito presunçoso e autoritário governador que rezava assim: “Queira Vª Srª reunir toda a documentação deste concelho, entregá-la ao administrador do concelho de Lagoa e passar Água de Pau a integrar aquele concelho.” Na sua missiva à Rainha D. Maria II, argumentou que suprimira o concelho a Água de Pau por falta de recursos. No entanto, era e, ainda hoje, é melhor sabido que a Lagoa não é abastecida de nascentes (situam-se todas na Serra de Água de Pau) e nem de terrenos férteis como Água de Pau era e ainda é. Ora, era por esses dois fatores que se mediam a força dos recursos dum concelho, na altura. Então porquê suprimir o concelho de Água de Pau? Nunca fez sentido e ninguém conseguiu provar o contrário até hoje.
De resto, nem a cidade de Ponta Delgada cresceria e se desenvolveria sem os recursos hídricos da Vila de Água de Pau, nem a Lagoa, igualmente, pelos mesmos motivos. Isso seria provado na primeira pessoa se o Barão da Fonte Bela e o antigo presidente do município de Lagoa, Eng.º Jaime Lima fossem vivos, porque foram suas as iniciativas de ir à nossa Vila de Água de Pau buscar a água que ambos necessitavam para o abastecimento público dos seus dois concelhos: canalizaram as nascentes da Ribeira do Lance para Ponta Delgada e as dos Lourinhos para a Vila da Lagoa, hoje cidade.
Deus fez vários prodígios nesta Vila de Água de Pau através dos nossos antepassados. Eles foram enormes no aproveitamento dos enormes recursos desta terra, desde o seu povoamento. Os nossos primeiros povos, oriundos de diversas regiões de Portugal, desbravaram o mato desde a costa marítima até ao cume da Serra ou Vulcão de Água de Pau, melhor conhecido por Lagoa do Fogo.
Em simultâneo com o lançamento das primeiras sementeiras nos seus terrenos muito férteis e virgens, os primeiros pauenses foram artesãos: o homem fabricou as suas ferramentas, o arado, o sacho, o podão, o traçado e até os cestos de vime para recolher as novidades que a terra lhes foi oferecendo, enquanto a mulher fiou a lã das ovelhas e teceu no tear, feito pelo seu homem, as mantas e a roupa para toda a família. Cozinhava e ensinava aos filhos a serem bons filhos de seus pais e da sua Vila quando em tempo certo o seu povoado lá chegasse.
O domínio da cestaria fazia parte, também, do universo mais vasto da economia de subsistência da Vila de Água de Pau. Uma indústria de vimes e centenas de cesteiros ocupam um lugar na história desta Vila.
Algumas das técnicas da cestaria, assemelham-se à tecelagem [outra atividade rica no passado, desta Vila], pois em ambas se trata de criar objetos entretecendo fibras transversalmente umas nas outras. Aplica-se inclusive à cestaria algum do vocabulário da tecelagem: tecer, pontos, urdidura, trama. Mas existe uma diferença chave: se a tecelagem requer o uso de teares e lançadeiras, à cestaria basta no limite uma faca, uma agulha, um recipiente com água e as mãos hábeis do artesão.
No século XV referiam-se aos artesãos como artistas, o que nos leva a crer que a cestaria foi uma das atividades humanas mais antigas do mundo e, consequentemente, do povoamento dos Açores, com consequências muito fortes na Vila de Água de Pau.
“Dadas de terra em sesmaria nos lugares de Ponta Delgada e de Água de Pau, na ilha de São Miguel, datadas de 16 de abril de 1472”.
Nos Açores, a primeira reorganização do território açoriano foi fortemente impulsionada por D. Beatriz, viúva do segundo donatário D. Fernando, à frente do destino das ilhas entre 1470 e cerca de 1484. Contudo, a referência mais antiga da legislação especificamente direcionada ao ordenamento do território nos Açores está relatada na entrega de um conjunto de dadas de terra em sesmaria nos lugares de Água de Pau e de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, datadas de 16 de abril de 1472.
Trata-se de normativa introduzida como preceito nas cartas de dada de sesmarias que especificam «lhe assim dou [a terra] com tal condição que, elle roce os montes, lavre e aproveite as ditas terras dando por ellas caminhos e serventias e regos de água para o concelho se lhe necessários forem».
Termino citando, D. Manuel I em sua carta, assinada no dia 28 de julho de 1515, apenas isso: “(…) quero que d’aqui em diante e para sempre seja Água de Pau – vila!”
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