A velha escola continua a dar cartas!
© PAULO JORGE
Por Filipe Machado
O dia 25 de março de 2023 foi um dia especial para a maior parte do movimento metaleiro micaelense, pelo menos para o pessoal que teve o privilégio de assistir a um dos eventos mais importantes dos últimos anos: o regresso dos grandes concertos de música pesada, com alguns dos nomes mais respeitados e estabelecidos da cena em Portugal. Mas recuemos um pouco no tempo.
Nos últimos anos, o Metal nos Açores tem assistido a um verdadeiro renascimento que se deve essencialmente ao trabalho desenvolvido por importantes impulsionadores, dos quais se destacam algumas plataformas de divulgação, como o Azorean Metal e, muito particularmente, o Museu do Heavy Metal Açoriano. Este último consolidou um vasto arquivo cronológico sobre o Heavy Metal produzido na Região, em formato fotográfico e sonoro, foi responsável pela edição de duas compilações de bandas de Metal açorianas e lançou o Hora Heavy Metal – Radio Show, com os melhores sons extremos produzidos nas ilhas. Mais recentemente, teve a ousadia de colocar no ar o Headbangers Radio Online, uma rádio que roda música pesada nacional durante as 24 horas do dia.
Não satisfeito com os feitos entretanto alcançados, Mário Lino Faria, o rosto do Museu do Heavy Metal Açoriano, com a perseverança e a paixão que lhe são reconhecidas, fez aquilo que, num contexto adverso como o atual, seria impensável para muitos, ou talvez para os mais distraídos: promover a realização de um evento musical ao vivo que envolvesse bandas do Continente. Dito isto, voltemos então ao início.
Após cerca de uma década de um longo e tortuoso percurso sem a atuação de bandas do Continente nas “ilhas de bruma”, o passado dia 25 de março marcou a estreia absoluta dos veteranos HOLOCAUSTO CANIBAL nos Açores, mais precisamente em Ponta Delgada. E melhor companhia no cartaz era impossível, os lendários MORBID DEATH a abrir as hostilidades. Duas bandas de renome nacional, dois nomes que nasceram nos longínquos anos 90, dois grupos que têm sido um exemplo de persistência e de obstinação na rica história do Metal nacional.
Tudo começou pelas 23h00, após uma longa espera nas imediações do recinto do concerto, pertencente ao mítico Bar “Baia dos Anjos”, que é um ponto de paragem obrigatório de muitos turistas estrangeiros, o público aprontou-se para dar as boas-vindas ao nome maior do Metal açoriano. Detentores de um profissionalismo intocável, os MORBID DEATH apresentaram a habitual intensidade e entrega que lhes é reconhecida, debitando das colunas uma perfeita fusão entre o Thrash, o Death e o Gothic Metal, entre clássicos e temas mais recentes, que fizeram estremecer o chão da sala e que não terá deixado ninguém indiferente. Uma palavra especial para Ricardo Santos, o porta estandarte de uma banda com mais de três décadas de existência que tem sabido renovar o seu som, vindo ao encontro das expetativas da sua vasta legião de fãs.
© AZOREAN METAL
Logo de seguida, e durante a hora seguinte, continuando com uma sala muito bem composta, os HOLOCAUSTO CANIBAL fizeram escorrer sangue suíno bem negro, num verdadeiro compêndio de Brutal Death Metal e de Grindcore sufocante, intrincado e putridamente potente, em contraste com a tranquilidade da marina de embarcações existente no exterior da sala do espetáculo. Foram donos e senhores de uma prestação segura e avassaladora, que encheu certamente as medidas aos presentes que procuram por sonoridades mais exigentes, e em que se deu natural destaque ao último trabalho da banda, sem esquecer velhos clássicos.
Mais importante do que descrever a capacidade e a prestação técnica de cada um dos músicos das bandas, que foi intocável, a superior qualidade de som providenciada, apesar de ser um bar adaptado, e do que nomear os temas tocados ao longo do concerto, é importante sobretudo narrar o ambiente que se viveu, entre a loucura controlada e a libertação desenfreada de um público micaelense, que, confirma-se, está sedento de atuações deste calibre. Prova disto, foi o ajuntamento de metaleiros à saída do concerto, que se transformou num momento de convívio entre várias gerações amantes do Metal, e que terá durado umas 2 horas e muitos litros de cerveja.
Foi uma noite em cheio e de onde ninguém — público, bandas, organizadores e promotores — terá saído insatisfeito e, acima de tudo, uma noite feita de boas vibrações e de energia positiva. Venham mais destas, Museu do Heavy Metal Açoriano!
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