Sinto orgulho ao ver nas redes sociais a “minha” Escola Básica Integrada de Água de Pau associada a atividades escolares, culturais, desportivas e pedagógicas com sucesso.
Há diversos lugares panorâmicos na nossa Vila onde podemos ver completamente todos os edifícios que constituem as diversas valências, com a sua moderna arquitetura, localizada entre a ribeira dos Moinhos e a rua do Foral Novo com ligação à Caloura.
A sua integração na urbe pauense valoriza e eleva a Vila para um patamar superior no espaço e na qualidade de ensino.
De quando em vez recordo os meandros da construção daquela escola e dou por mim a recordar-me que quando o engenheiro Luís Martins Mota me convidou para formar equipa com ele para nos candidatarmos à Câmara Municipal de Lagoa, em eleições autárquicas a 17 de dezembro de 1989, entre os motivos que aceitei o desafio estava a minha proposta de se construir uma Escola Básica Integrada na Vila de Água de Pau. Ele aceitou, e, eu tinha um terreno apontado e acordo firmado da venda pelo proprietário.
Eleitos nas listas do Partido Socialista, o presidente Luís Martins Mota e eu (vice-presidente), deslocamo-nos a uma Secretaria Regional para reunir com o Secretário das Obras Públicas, Américo Natalino Viveiros. Com ele deixamos um pedido elaborado, com planta de localização do terreno e memória descritiva da necessidade que a Vila de Água de Pau tinha de uma nova escola. O Secretário disse que ia mandar fazer um levantamento topográfico do terreno e um parecer técnico sobre a viabilidade de construção no mesmo.
Três meses depois, por ausência do presidente da Câmara, estava eu como presidente em exercício, quando recebi uma carta do senhor Secretário das Obras Públicas, inviabilizando a escola por o terreno não ter as condições exigidas para a construção duma escola. Não esperei pela vinda do presidente e eu próprio respondi-lhe que não aceitava o argumento que inviabilizava a construção e que acreditava eu que quando mudasse o Secretário das Obras Públicas, a escola iria se construir.
Decorria o nosso segundo mandato na Câmara de Lagoa, quando o presidente do Governo Regional, Dr. João Bosco Mota Amaral, do PSD, se demite. Nas eleições legislativas seguintes, Carlos César, pelo PS, sucede-lhe e muda o Secretário das Obras Públicas.
A partir daí volto a insistir com outro pedido de viabilidade de construção para a Escola de Água de Pau. Martins Mota e eu insistimos com Carlos César que coloca o assunto numa lista de prioridades. Entretanto, fui mantendo o compromisso de venda do terreno para a escola com o proprietário, senhor José Amaral (Trajana). José Contente, o novo Secretário Regional responde afirmativamente e a construção da escola começa a ser uma possibilidade, porque nos enviou um anteprojeto. Realizaram-se reuniões entre técnicos das Obras Públicas, conselho diretivo, professores, técnicos da CML, contando com a minha presença incondicional em todas as reuniões.
O projeto moldou-se conforme as solicitações e exigências do ensino até que parou a dada altura.
Soubemos, eu e o meu presidente Martins Mota, que se o Governo comprasse o terreno, o investimento na escola só ocorreria cinco anos depois. Levei algum tempo a insistir com Martins Mota para ser a Câmara a adquirir o terreno para que o governo pudesse então calendarizar a construção da escola num próximo orçamento da Região. Martins Mota anuiu, mas tivemos que esperar mais um ano e quando tivemos dinheiro, chamamos a viúva e os filhos do proprietário, já que o marido havia falecido. E fizemos a escritura de compra do terreno, numa cerimónia que decorreu na Junta de Freguesia da Vila de Água de Pau.
Passados 15 anos, já em 2004, o presidente Luís Martins Mota deixa a Câmara Municipal de Lagoa. João Ponte assume a presidência em sua substituição e comigo vence um próximo mandato. Continuam a verificar-se reuniões para atualização do projeto da escola, até que em determinada altura, depois de tanta insistência minha, em 2007, o Secretário Álamo de Meneses leva o projeto a reunião de Governo e o mesmo é contemplado com orçamento e inicia-se a obra.
Ainda acompanhei a obra na sua fase de construção, sempre tirando fotografias. No entanto, no fim de 2009, já 20 anos depois [1990-2009], deixei a Câmara Municipal de Lagoa e o presidente João Ponte é que assiste à conclusão e preside com Carlos César à inauguração da nova escola.
Para a inauguração da escola não fui convidado, mas não me coibi de aparecer. Decorria a cerimónia, com os habituais discursos de circunstância, no pátio de entrada cheio de entidades, autarcas municipais e de Junta, professores, pais, alunos e eu entrei a meio dos discursos, abri corredor entre os presentes arrastando atrás de mim uma fila de pais e alunos meus convidados. Entrei pela escola dentro, sala por sala. Sentei os alunos com os pais e tirei fotografias. Depois quando estavamos a sair, confrontamo-nos com a comitiva do Governo, da Câmara, da Escola e convidados visitando a escola. Carlos César perguntou-me: – “de onde vens? – Vim inaugurar a minha escola!”, respondi-lhe.
Felicito-me, sinto-me feliz pelo sucesso da “minha” Escola. Realizei uma viagem de intercâmbio cultural aos Estados Unidos com uma delegação de estudantes e professores, organizei um programa cultural com o apoio de patrocinadores americanos, foi uma experiência inesquecível para os docentes e alunos.
Lancei em 2019, no auditório repleto da minha escola, o meu primeiro livro “Antes Que A Memória Se Apague I – Crónicas de Água de Pau” e fui convidado para dar duas aulas na “minha” Escola sobre a História da Vila de Água de Pau.
Sinto-me realizado sempre que me cruzo com alunos nas ruas da minha vila a caminho da “nossa” Escola.
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Comentários
Ignorava totalmente esta inauguração rocambolesca. Obrigado por partilhar memória tão pícara.