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“A grande satisfação foi ver as bandas açorianas semanalmente a serem rodadas em rádios”

Micaelense Mário Lino defende mais oportunidades para as bandas açorianas de Heavy Metal que ajuda a divulgar

Mário Lino tem 50 anos e começou a ouvir Heavy Metal há cerca de 30 anos © CLIFE BOTELHO

Há cerca de 30 anos que o Heavy Metal começou a sua incursão nos Açores tendo ganho popularidade na década de 90 com a proliferação das denominadas bandas de garagem. Mário Lino, 50 anos, natural de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, acompanha e faz parte da evolução do género musical desde o século passado. É Técnico de Farmácia mas é este o mundo que o apaixona. Criou a página “Museu do Heavy Metal açoriano” tendo produzido dois CDs onde reuniu temas de várias bandas açorianas.

DL: Como é que aparece no Heavy Metal?
Quando começou aquele boom, aquela fase do Metal em que surgiram os Morbid Death e o festival Novas Ondas, criou-se ali uma comunidade de músicos e fãs. Como nunca toquei nenhum instrumento, era basicamente fã. Tive a sorte ou coincidência de morar ao lado do vocalista dos Morbid Death, o Ricardo Santos. Naquela altura tínhamos quase 20 anos. Crescíamos juntos, ouvíamos a mesma música. Foi a partir daí que comecei a gostar do Heavy Metal. Na altura, fundei o Fan Club dos Morbid Death. Neste clube, como uma forma de partilhar a informação com os fãs do clube e o resto da malta, criei uma fanzine. Eram as “revistas caseiras”. Fazíamos em casa com recortes, depois fotocopiávamos e circulava de mão em mão. Tive oportunidade de fazer isso chegar ao continente e fazer contactos com fãs e malta relacionada com Fanzines, com rádios, tudo isso. Porque, por incrível que pareça, há uma grande sede no continente de saber o que se faz por cá.
Com a pandemia, chegou aquela fase em que tivemos de ficar confinados em casa. Muita gente não tinha nada que fazer. Eu fui um deles. Coincidiu com uma mudança de casa, em que tive de fazer a limpeza do sótão. Comecei a revirar tudo o que era velho. Tinha caixas com cassetes, CDs, revistas, as fanzines que eu fazia. Aquele bichinho voltou ao de cima, voltei a agarrar-me à parte da música e estou a tentar ver se voltamos ao ativo, porque se ninguém fizer nada, tudo vai continuar da maneira que está, que é: abafado.

DL: A crise de que fala deve-se à falta de interesse das gerações mais novas pelo Metal?
Acho que tudo tem as suas fases e as suas épocas. É lógico que a nova “rama” de jovens deve ter uma visão completamente diferente do mundo. Se calhar têm outras ambições. O Heavy Metal tem um teor revolucionário de quebrar regras. E naquela altura, anos 80 e 90, havia muita irreverência. 

DL: E tem muita gente do continente que lhe pede os CDs?
Sim, têm sido mais requisitados pelo pessoal do continente. Porque eles têm uma grande sede de saber: “Então, os Açores? O que se faz nos Açores?” Os CDs surgiram mais por isso. Têm tido uma grande adesão, há grande interesse por parte do pessoal do continente. Posso dizer, basicamente, da tiragem que eu fiz dos CDs, se calhar, 10 por cento ficou cá e os outros 90 por cento estão a ir todos para fora: continente, Espanha. Já me pediram do México, do Brasil. 

DL: Como é que faz a seleção dos temas musicais?
Foi um processo de candidatura. Lancei a ideia e disse: “pessoal, quem tiver material que tenha feito e que queira ser divulgado, mande-me e a gente compõe um registo”. À partida, quando comecei com o primeiro volume, não tinha a ideia que ia ter tantos projetos de tantas bandas. A ideia seria fazer uma pequena compilação para pôr online, no Youtube ou nas redes sociais. Quando dei por mim, já tinha 17 bandas. Não fiz seleção nenhuma, foram as bandas que entraram. 

DL: Há uma parte do custo que tem de assumir?
No primeiro volume, tentei fazer tudo sozinho, porque também não quis estar a pedir apoios. Mas propôs a ideia a 20 entidades no continente, e algumas de cá, também. Em troca de publicidade e de material, recebia algum valor para compensar os custos, porque lançar um CD também tem custos. E fiz as contas para 50 por cento da minha parte, 50 por cento de apoios, para o primeiro CD.
O segundo CD foi da mesma maneira. 

DL: E feedback?
O feedback foi muito positivo, porque a partir do momento em que comecei a lançar o primeiro CD com 17 bandas, foi uma surpresa para o pessoal no continente. Toda a gente ficou: “epah, existem realmente essas bandas todas? Eu quero conhecer, manda-me isso, envia-me isso. Eu gostava de conhecer”. E foi a partir daí que comecei a ter um feedback de um interesse enorme.
O feedback não é só de ter a reação das pessoas. Uma das funções deste CD foi a de promover e divulgar estas bandas, porque elas estão abafadas, estão nas suas garagens, ninguém as conhece; tinha de haver uma forma de as divulgar. Os primeiros números foram totalmente grátis, para imensas rádios e revistas, e a grande satisfação foi ver as bandas açorianas semanalmente a serem rodadas em rádios frequentemente. Todas as semanas havia três, quatro rádios que rodavam uma das 17 bandas. Houve rádios no Brasil, no México e em Espanha. Foi muito gratificante.

DL: Alguma rádio aqui passou algum tema dos CDs?
As rádios cá são muito reservadas, regem-se pelas regras das audiências. Podem, se calhar, partilhar a informação de que existe o CD, mas rodar o som fica sempre um bocadinho mais complicado.

DL: Como é que as pessoas podem adquirir o CD?
Existe o Museu do Heavy Metal açoriano que criei no Facebook para promover tudo o que é a história do Metal açoriano. Através do “Bandcamp”, estão lá os contactos todos e até podem sacar o álbum grátis. A ideia é distribuir e não comercializar o som.

DL: Como imagina o Heavy Metal no futuro?
Comecei a pensar no futuro desde que lancei o primeiro CD há um ano. E estava convicto de que, quebrando as regras da pandemia, e voltando aos concertos, se calhar, ia abrir uma pequena janela para estas bandas. Tanto eu, como as bandas, estamos um bocadinho frustrados porque, embora tenham caído tudo o que eram regras da pandemia, a abertura para novos projetos e bandas novas não está a existir. 

DL: Há aqui uma nova luta?
Estamos a começar praticamente do zero, a nível de concertos e exposição. Acho que deveria haver um pouco mais de interesse das entidades culturais. Estou a referir-me a juntas de freguesia, câmaras, secretaria da Cultura. Promover o que é novo e não só o que é top de audiência. Há muitos projetos escondidos e que necessitam de uma oportunidade.

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Clife BotelhoDiretor

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