Está cada vez mais estreito o caminho para o Santa Clara conseguir a manutenção no campeonato da Liga. A formação de Ponta Delgada voltou a perder, este domingo, no terreno do Estoril, por 3-0, somando assim o 21.º jogo consecutivo sem ganhar, dezassete deles para o campeonato.
É uma volta completa sem ganhar. A última vitória (3-1) do Santa Clara remonta à receção ao Estoril, a 14 de novembro passado. Cinco meses depois as equipas reencontraram-se, agora no terreno do adversário, sem que durante esse período os insulares tenham conseguido quebrar um ciclo negro de resultados menos positivos que se foi avolumando jornada após jornada.
A derrota de hoje confirma que o Santa Clara já não conseguirá chegar à manutenção direta – dista 12 pontos do Estoril quando estão em disputa outros tantos, mas sem vantagem no confronto direto com os canarinhos – pelo que lhe resta tentar a salvação por via do play-off, sendo que essa posição é ocupada pelo Marítimo dos quais os encarnados de Ponta Delgada distam seis pontos.
Com reduzidas probabilidades de escapar à despromoção, o Santa Clara até poderá cair na Liga 2 já na próxima jornada caso perca na receção ao Gil Vicente e o Marítimo ganhe ao Rio Ave. Ao cabo de treze jornadas na segunda volta do campeonato, a formação agora orientada por Accioly somou apenas dois pontos contra os catorze da primeira.
A câmara da Ribeira Grande adjudicou à empresa AR Casanova, vencedora do concurso público, a segunda fase da empreitada de requalificação do caminho 519, estrada que liga a Maia à Lombinha da Maia. A assinatura do auto de consignação da obra, orçada em cerca de 1,8 milhões de euros, teve lugar esta manhã na junta de freguesia da Maia.
Os trabalhos consistirão no alargamento da via, nomeadamente com a construção de um passeio de 1,20 metros no lado norte; faixa de rodagem com cinco metros para permitir a circulação de viaturas nos dois sentidos e uma vala de escoamento das águas pluviais com cerca de 70 centímetros. As obras terão início a 8 de maio com uma duração de 12 meses.
“Esta obra assume especial relevância por ser premente, mas sobretudo porque visa resolver um problema com mais de 50 anos. Quer a estabilização dos taludes daquela via, cuja fase está concluída, quer a requalificação da via, assumimos como prioridade e são investimentos para garantir a segurança e comodidade à população local”, explicou o presidente da autarquia, Alexandre Gaudêncio.
Recorde-se que a primeira fase da requalificação do caminho 519 (consolidação dos taludes) teve um custo de 875 mil euros, trabalhos que ficaram concluídos em outubro de 2021.
É já hoje, 28, e nos próximos dias, 29 e 30 de abril que se realiza em Ponta Delgada, na Aula Magna da Universidade dos Açores, o I Congresso dos Jornalistas dos Açores, que vai contar com cerca de 120 participantes.
Sob o lema “(Re)Pensar o jornalismo açoriano”, o Congresso vai contar com jornalistas de todas as ilhas dos Açores, a que se juntam vários convidados e oradores da Madeira, do Continente e da diáspora, para além do convidado internacional, o jornalista de investigação Michael Rezendes, descendente de açorianos, Prémio Pulitzer duas vezes, que ficou conhecido pelas suas investigações sobre a pedofilia na Igreja norte-americana.
Duas dezenas de oradores vão debater vários temas ligados à profissão, no sábado e domingo, com a realização de vários painéis, seguindo-se sempre um período de debate entre os congressistas, de onde surgirão, no final, as conclusões deste encontro, sendo também possível a apresentação de moções.
Esta sexta-feira decorrerá na Universidade dos Açores, parceira deste Congresso, um workshop destinado aos alunos de Comunicação e Relações-Públicas, aberto também a jornalistas, com a presença de especialistas da Associação Literacia para os Media e Jornalismo.
A organização do Congresso é da responsabilidade do Sindicato dos Jornalistas, através da sua Direção Regional dos Açores, presidida pela jornalista Marta Silva, com a coordenação de uma Comissão Organizadora, presidida pelo jornalista Osvaldo Cabral, e de uma Comissão Executiva, a que preside o jornalista Rui Pedro Paiva.
Para a presidente da Direção Regional dos Açores do Sindicato dos Jornalistas, Marta Silva, serão dois dias “em que se pretende a partilha de experiências e formatos, com a ideia de parar e refletir sobre o jornalismo que se faz cá dentro, sem perder de vista outros modelos que estão a ser aplicados noutras redações”.
Por sua vez, Osvaldo Cabral, presidente da Comissão Organizadora, afirma que a adesão ao Congresso “ultrapassa todas as expectativas, o que perspetiva, em antecipação, um sucesso para o jornalismo açoriano, demonstrando a sua unidade e foco na discussão sobre aquilo que mais afeta a nossa profissão na Região”.
Ainda nesta sexta-feira, às 18 horas, serão inauguradas duas exposições no Centro de Artes Contemporâneas Arquipélago, na Ribeira Grande, uma sobre a vida e obra do jornalista açoriano Mário Mesquita, (que será homenageado no domingo, na sessão de encerramento do Congresso), e outra sobre como foi o I Encontro de Jornalistas Açoreanos, há 40 anos, numa curadoria a cargo do jornalista Herberto Gomes.
Os artistas David Carreira e Bárbara Bandeira vão ser os cabeças de cartaz das festas de Santo António, de 8 a 13 de junho, no polidesportivo de Santa Cruz, na Lagoa. Este ano, além das tradicionais marchas populares, a câmara municipal da Lagoa aposta forte na animação musical.
A sessão oficial de abertura das festas de Santo António está marcada para as 20h00, do dia 8 de junho, com um momento musical pelo coro juvenil do Conservatório Regional de Ponta Delgada, dirigido pela professora Brígida Ferreira. O polidesportivo de Santa Cruz acolhe, pelas 21h00, a atuação do Grupo de Cantares Vozes de Monte Santo, seguida do Grupo de Cantares Tradicionais de Santa Cruz.
No dia 9 de junho, sexta-feira, pelas 19h00, será inaugurada a feira de artesanato, no claustro do convento de Santo António, que se manterá aberta até às 22h30, seguida da atuação do grupo folclórico “O Grujola” e do grupo de dança “Som do Vento”. O cantor português David Carreira sobe ao palco do polidesportivo de Santa Cruz, pelas 22h30
O sábado, dia 10 de junho, será dedicado aos mais novos com uma tarde infantil, entre as 15h00 e as 18h00, com pulas-pulas, karting e pinturas faciais. A feira de artesanato estará aberta entre as 17h00 e 22h30. Pelas 18h00, haverá distribuição gratuita de sardinha grelhada e pão de milho para toda a comunidade. Segue-se a demonstração do Centro de Karaté da Lagoa, pelas 18h30, no polidesportivo de Santa Cruz. Pelas 19h30, haverá a atuação do grupo musical “Doce Sinfonia”.
O desfile e atuação das marchas populares de Santo António terão início pelas 21h00. A noite termina com a tradicional fogueira de Santo António com animação e fogo de artifício.
O domingo, dia 11 de junho, começa com a 23.ª prova de pesca desportiva de Santo António, pelas 08h00, na baía de Santa Cruz. O pescado será doado a uma instituição sem fins lucrativos. Ao final da tarde, pelas 18h00, terá lugar o desfile e atuação das marchas infantis populares de Santo António, com a participação das filarmónicas da cidade da Lagoa. A feira do artesanato estará aberta ao público entre as 19h00 e 22h00, com música ambiente. Pelas 20h00, haverá a atuação da Tia Maria do Nordeste, no claustro do convento de Santo António, seguida da atuação do artista Nuno Martins, no polidesportivo de Santa Cruz. Finalmente, Bárbara Bandeira subirá ao palco do polidesportivo, pelas 22h00, animando o resto da noite com as suas músicas mais conhecidas.
No dia 12, pelas 19h00, realizar-se-á a missa solene de Santo António, seguida de procissão e tradicional bênção e distribuição do “pão de Santo António”. A noite será, depois, abrilhantada pela gala de patinagem artística de Santo António, com início pelas 20h30. O programa dessa noite termina com a animação musical do grupo “Sétima Geração”.
O último dia do programa das festas de Santo António será dedicado aos casamentos de Santo António, pelas 18h00, na igreja do convento de Santo António. A cerimónia inclui um brinde aos noivos com bolo comunitário. O encerramento das festividades termina com fogo de artifício.
De referir que, apesar do evento ser de entrada gratuita, terá controlo de entrada através da entrega de bilhete/pulseira no dia dos concertos com os artistas nacionais, devido à limitação do recinto e para garantir todas as questões de segurança.
O presidente do governo regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, em conjunto com o secretário regional com a tutela do Ambiente, Alonso Miguel, entregou a bandeira de “Eco-freguesia, freguesia limpa” a trinta e sete localidades da região, galardão que demonstra o “especial respeito” para com a natureza.
“Quero deixar ao poder local dos Açores, e em especial aos autarcas de freguesia, este reconhecimento. Não há outra face da democracia portuguesa que seja tão brilhante e cativante como a dos autarcas de freguesia. Não mandam fazer, fazem: estão sempre presentes”, sublinhou o governante, falando no auditório municipal de Santa Cruz das Flores, na cerimónia de entrega dos prémios de excelência no âmbito do programa ”Eco-freguesia, freguesia limpa” referente ao ano de 2022.
O programa “Eco-freguesia, freguesia limpa”, organizado pelo governo regional dos Açores, tem como principal objetivo reconhecer e distinguir os esforços das freguesias e a colaboração das populações na limpeza, remoção e encaminhamento para destino adequado dos resíduos abandonados em espaços públicos, incluindo as linhas de água e a orla costeira, bem como o desenvolvimento e participação em programas e ações de sensibilização e educação ambiental.
Para José Manuel Bolieiro, que se definiu como um “ambientalista convicto”, é bom haver o “reconhecimento do mérito” nas suas várias vertentes, e o “ponto de chegada” que os prémios entregues na quinta-feira representam “o melhor ponto de partida” para o futuro.
“O prestígio de um povo faz-se daquilo que apresentamos a quem nos visita e nos avalia. Estou, como presidente do governo, muito satisfeito por este momento e muito feliz por estar convosco”, sublinhou, dirigindo-se aos autarcas presentes. A “literacia ambiental” foi também defendida pelo presidente do governo, que incentivou os presidentes das juntas a prosseguirem este desígnio nos seus territórios.
A escola secundária da Lagoa está a promover a 10.ª edição do Encontro Regional de Grupos Escolares de Expressão Dramática, evento que termina nesta sexta-feira, 28 de abril.
Após dois anos de interregno devido à pandemia, o encontro regional voltou a realizar-se, cabendo o papel de anfitrião ao Clube de Teatro da Escola Secundária da Lagoa. Participaram, também, o Clube de Teatro “Rua da Lua”, da escola básica/integrada de Água de Pau, os grupos de expressão dramática da escola secundária Antero de Quental, a turma de expressão dramática da escola básica/secundária das Velas de São Jorge e o grupo de teatro “Projeto de atores”, da escola básica/secundária da Madalena do Pico.
A vereadora da câmara municipal da Lagoa, Albertina Oliveira, esteve presente no encontro e assistiu à peça “A Guardiã”, criada e apresentada pelo Clube de Teatro da escola secundária da Lagoa, encenada por Beatriz Ferreira e Telésforo Silva.
No mesmo dia, subiu ainda ao palco a peça “Auto da Índia”, de Gil Vicente, pelo grupo de teatro da Madalena do Pico, trabalho encenado por Gilberta Batista e Carla Silva. A tarde foi dedicada a ensaios de palco e convívio entre os participantes.
No dia 27 foram apresentadas as peças “Soldadinho de Chumbo”, um texto da autoria de uma antiga turma de expressão dramática da escola secundária e apresentado pela turma 9.º B da mesma escola, encenada pela docente Beatriz Ferreira; “Nada Terapêutico”, da escola secundária Antero de Quental, encenada pela docente Teresa Sousa e ainda “A Família Gadolha: o reencontro”, um trabalho da autoria de Beatriz Garcia, Beatriz Medeiros, Inês Fonseca e Joana Beicinha, da escola secundária Antero de Quental.
Também subiu ao palco a peça “Monopólio da Morte”, pelos ex-alunos da escola secundária da Lagoa e membros da Faísca, com encenação de Beatriz Ponte. Da parte de tarde foi apresentado “Vamos comprar um poeta”, do Clube de Teatro da escola de Água de Pau, uma adaptação da obra homónima de Afonso Cruz, encenado pela docente Sónia Ferreira. E, ainda, a peça “Um dia calmo”, pela turma 9.º F, com encenação de Beatriz Ferreira.
Hoje, último dia do encontro, a turma 8.º B de expressão dramática apresenta “O Gato Malhado e Andorinha Sinhá”, encenada pelo docente Telésforo Silva. Segue-se a peça “A menina que não gostava de ler”, de Nanna Castro, pela turma de expressão dramática da escola das Velas de São Jorge, adaptada e encenada pelo docente Paulo Ribeiro. Para terminar, pelas 15h30, será apresentada a peça “TOC TOC”, adaptada pelo clube de teatro “A Faísca”, encenada pelos docentes Beatriz Ferreira e Telésforo Silva.
O município da Lagoa vai receber o galardão da bandeira azul em três zonas balneares do, confirmou a ABAE – Associação da Bandeira Azul da Europa, dando assim seguimento à recomendação do júri nacional. As bandeiras serão hasteadas no complexo das piscinas naturais, na zona balnear da Caloura e na Baixa d’Areia.
A época balnear de 2023 na Lagoa terá início a 10 de junho, no complexo de piscinas naturais e na zona balnear da Caloura e, a 8 de julho, na Baixa d’Areia. Termina a 10 de setembro, no complexo de piscinas naturais e a 30 de setembro nas restantes.
Para garantir este galardão as zonas balneares têm de cumprir diversos requisitos, desde logo a qualidade da água, mas também ao nível da informação, atividades de educação ambiental, conduta ambiental e boas práticas ambientais, entre outros.
Recorde-se ainda que o complexo de piscinas naturais da Lagoa ostenta a bandeira azul há 27 anos consecutivos e a zona balnear da Caloura há 24 anos.
A cidade da Lagoa recebeu o Torneio da Liberdade, em karaté, prova do campeonato de ilha de São Miguel da Associação de Karaté dos Açores e organizada pelo Centro Karaté da Lagoa.
O torneio levou à jovem cidade dos Açores cerca de cento e cinquenta karatecas em representação de diversos clubes da ilha como o Centro de Karate da Lagoa (CKL), Clube Karate da Povoação (CKSP), Clube de Karate Shotokan da Relva (CKSR), Clube de Karate Shotokan de Rabo de Peixe (CKSRP) e Academia de Karate de Vila Franca do Campo (AKVFC), dando uma dinâmica desportiva singular à Lagoa.
Marcando presença neste evento, o vereador do Desporto, Nelson Santos, reconheceu o “importante papel que o Centro Karaté da Lagoa tem desempenhado em prol desta modalidade, sendo o único a promover o karaté no concelho”.
Mais acrescentou que “é de salutar o empenho e dedicação na dinamização de atividades de treino e competição, ao longo dos anos, por parte do clube lagoense, conseguindo manter a sua atividade de âmbito local, mas também participando, com reconhecido mérito, em provas de âmbito regional e nacional”.
O concelho de São Roque do Pico vai celebrar, pela primeira vez, o Dia Internacional do Jazz com um concerto que estreia novo reportório da Orquestra Juvenil da Escola Básica e Secundária de São Roque do Pico. O evento terá lugar no dia 30 de abril, às 16h00, no parque de campismo de Santo António.
A iniciativa surgiu da produtora e diretora do Lava – Festival Internacional de Jazz do Pico, Daniela Silveira, que voltou a desafiar o maestro da orquestra, Paulo Freitas, a apresentar um novo reportório com arranjos jazzísticos com o objetivo de estimular os músicos locais a experimentar novos estilos musicais e promover a diversificação de estilos musicais no concelho.
A diretora do festival considera que “projetos como a orquestra juvenil são fundamentais para estimular a aproximação à cultura e à arte, em particular à música, mas que precisam de inovação para manter a dinâmica e a contínua atração de jovens talentos”.
A celebração do Dia Internacional do Jazz em São Roque do Pico é fruto da união de dois promotores e dois festivais locais: Luís Bidarra, do PicoZen, e Daniela Silveira, do Lava – Festival Internacional de Jazz do Pico.
A orquestra é composta por Suzie Lino (voz), Ana Patrício (flauta), Nuno Patrício, Luís Ávila, Andreia Ribeiro, Fábio Goulart, Marco Machado e Mónica Goulart (saxofones), João Gonçalves e Ana Morais (clarinetes), Marco Quaresma, Gustavo Quaresma, Guerin Alker e Tiago Goulart (trompetes), Joni Figueiredo (guitarra elétrica), Cláudio Cruz (baixo elétrico), Vítor Gomes (piano) e João Paulo Leal, Juliano Nunes e Pedro Silveira na bateria/percussão.
O Dia Internacional do Jazz é celebrado anualmente a 30 de abril. Esta data foi oficialmente estabelecida pela UNESCO em 2011, com o objetivo de reconhecer o jazz como uma forma de arte universal e promover a cooperação internacional e a compreensão entre culturas através do jazz.
Como um dente de leite de uma criança prestes a cair. Assim está a rua da Boa Viagem, na freguesia das Calhetas, concelho da Ribeira Grande, flagelada por sucessivas derrocadas infligidas pela força de um mar do norte que já ganhou cerca de três metros de costa à localidade.
Boa Viagem só de nome. A rua está interdita ao trânsito e quem por lá passa a pé não arrisca um olhar sobranceiro à falésia. A vedação que serve de proteção também não permite grandes aventuras. Já foi a rua principal da freguesia, agora o que sobra dela é um carreiro com pouco mais de meio metro de largura por onde só passam pessoas a pé. Nesse limbo entre o presente e o momento seguinte onde tudo se pode alterar – o risco de mais derrocadas está bem presente quando se olha o mar e vê-se a terra fresca nas pedras – ainda vivem algumas famílias que, por agora, não pensam sair das suas casas.
Odília Pereira tem 50 anos e nunca morou noutra casa que não a sua. Vive com o pai, debilitado pela doença e pela idade. Não pensa abandonar a habitação para outra com mais segurança, longe do perigo que espreita a cada onda que bate na rocha. “Não estou preparada para sair”, confidencia, deixando tudo nas mãos de Deus.
Seja como for, é uma existência na aflição, na medida em que novas derrocadas podem colocar em risco a estabilidade das moradias antes da obra de proteção da falésia se iniciar. “Meu pai mora aqui há 58 anos. Casou e veio para aqui. Nasci aqui. Nunca esperei uma coisa destas. Vivemos com o coração nas mãos”, balbucia.
“Vão fazer a obra e há-de ser o que Deus quiser. Só sairei daqui em último recurso. Se vão fazer a obra e se vão gastar tanto dinheiro, não é para ficar bom?”, questiona.
Com a voz trémula e o olhar perdido no horizonte, Odília Pereira recorda o passado com saudade: “antigamente havia casas do outro lado da rua, ainda mais perto do mar. Agora já não tem. O mar foi comendo”. Uma situação que também está a causar “grande transtorno emocional” no pai. “Ele ficou muito abatido”, diz Odília.
Na casa ao lado vivem quatro pessoas. Oriana Costa, 64 anos, mais o marido, a filha e o genro. As palavras também não são de uma esperança avassaladora, mas a fé fá-los resistir. “Não se pode reagir muito bem a tudo isto porque é uma situação muito triste. Trabalhamos muito neste mundo para ter uma casinha e agora aparece um trabalho destes e vai tudo por água abaixo”, lamenta.
Mas tal como a vizinha, Oriana Costa acredita que a obra vai remediar o mal feito. “Temos esperança que as coisas vão-se recuperar. Vamos ver o que vai ser feito”, mas mais tolerante a abandonar a moradia. “Se a rua não ficar segura, estou disposta a sair, sim. Gosto da minha casa, foi aqui que me criei, mas se não houver segurança terei de sair”, assume.
Contudo, confessa-se renitente. “Vejo tudo muito atrasado. Já saiu o concurso, mas não sei. Aquilo está muito fundo ali e estamos sempre com o coração nas mãos”.
Acácio Mateus